Produção de arroz no país é a menor em 25 anos, e consumidor paga a conta
Colheita do arroz orgânico - Maiara Rauber Divulgação MST
Safra de feijão também está inferior à média; produtos sobem bem mais do que a inflação.
A produção brasileira de arroz deverá ser inferior a 10 milhões de toneladas neste ano, o que não ocorre há 25 anos. A de feijão está abaixo dos 3 milhões de toneladas há três safras, um volume inferior ao da média histórica.
Os dados são da Conab (Companhia Nacional do Abastecimento), que continua apontando para uma supersafra de 310 milhões de toneladas de grãos neste ano, impulsionada por soja e milho, que representam 89% desse volume.
A produção dos básicos recua porque perdem espaço para produtos com maior abertura no mercado externo, como a soja. Em algumas regiões, os custos de produção do arroz e do feijão e os riscos climáticos afastam os produtores dessas lavouras.
A conta recai sobre o consumidor de menor renda. De 2019 a 2022, o feijão teve um aumento anual de 20,4% nas gôndolas dos supermercados. Nesse mesmo período, o arroz subiu 15,4% ao ano.
Esses percentuais ficam bem acima da inflação média anual de 6,8% do período, conforme dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
A queda na produção e a oferta menor desses produtos vêm elevando o patamar de preços no varejo, e fica difícil o retorno a valores mais acessíveis para o consumidor.
Embora venham perdendo espaço no prato do consumidor, arroz e feijão ainda são importantes na alimentação de boa parte da população, principalmente dos de menor poder aquisitivo.
Os preços desses produtos básicos não devem dar trégua neste ano. O arroz está na entrada de safra, mas a redução da produção deve inibir a queda de preços neste primeiro semestre. No segundo, as altas ficam mais acentuadas.
Com a redução da produção nacional, o Brasil terá de exportar menos e importar mais neste ano. Os estoques de passagem desta safra para a próxima também serão menores, o que impede retrações de preços.
Segundo a Conab, o país terá uma sobra de apenas 1,75 milhão de toneladas do cereal no fim deste ano, o suficiente para 61 dias de consumo. A média anual dos estoques finais dos dois anos anteriores foi de 2,5 milhões de toneladas.
Para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), os gaúchos, líderes na produção nacional de arroz, vão ter uma safra de 6,8 milhões de toneladas, 9% inferior à do ano passado.
A queda da produção de feijão para 2,9 milhões de toneladas, um volume 2,1% menor do que o anterior, também força uma retração nos estoques finais do produto. Diferentemente do arroz, no entanto, os estoques de passagem da leguminosa serão suficientes para apenas 31 dias.
Após um período de alta, os preços do feijão tiveram retração em fevereiro. A queda na produção no ano, no entanto, não vai dar espaço para grandes variações.
Já o milho, mesmo com a safra recorde de 125 milhões de toneladas, terá estoques de passagem para a outra safra de apenas 7,3 milhões, o menor em dez anos. O consumo interno fica estável, em 79 milhões de toneladas, mas as exportações sobem para o recorde de 48 milhões, enxugando o mercado.
Para o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), as exportações brasileiras do cereal deverão somar 52 milhões de toneladas, com o país assumindo a liderança mundial.
Os dados da Conab diferem dos do Usda porque o órgão brasileiro considera o ano comercial de fevereiro de um ano a janeiro do outro. O Usda leva em consideração as exportações de outubro a setembro.
Ao contrário dos demais produtos, os números do trigo mostram um cenário mais favorável para os consumidores. A safra recorde de 10,6 milhões de toneladas permitirá que o estoque final da safra 2022/23 suba para 2,8 milhões de toneladas em julho, o maior desde 2009 (Folha de S.Paulo, 9/3/23)