18/05/2023

Produção de milho sobe, mas armazenagem é gargalo

Produção de milho sobe, mas armazenagem é gargalo

Silos de soja no oeste da Bahia - Bibiana Garrido-Ipam-Divulgação

 

Congresso discute em Brasília necessidade de uma interação maior de toda a cadeia.

Regado a suco, sorvete, bolo, pipoca, brigadeiro e outros produtos, todos provindos do milho, foi realizado nesta quarta-feira (17) o primeiro Congresso Abramilho, em Brasília. O objetivo, no entanto, não era uma degustação, mas sim discutir a importância e a necessidade de uma interação em toda a cadeia do cereal.

A cultura mais democrática do campo, o milho já ocupa 22 milhões de hectares de plantio no país, gerando um valor bruto de R$ 150 bilhões por ano, afirma Otavio Canesin, presidente da Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho), organizadora do evento.

Para o presidente da associação, o cereal é a cultura mais democrática e de maior cunho social no país, uma vez que está espalhada por todo o território nacional e é semeada por pequenos, médios e grandes produtores. O milho está presente em pelo menos 1,6 milhão de lavouras de agricultores.

O foco do encontro foi o de promoção e desenvolvimento de toda a cadeia, em um momento em que o setor passa uma série de dificuldades. A produção cresce rapidamente, mas os preços caem. O produto brasileiro atrai a atenção de importadores, contudo a armazenagem e a logística de transporte não acompanham a evolução da produção.

O Brasil deverá assumir a liderança mundial nas exportações de milho neste ano, tendência que poderá ser mantida no próximo, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).

Volumes recordes na produção de soja, que deverá somar 155 milhões de toneladas no ano, e na de milho, prevista em 126 milhões, trazem mais desafios para a logística brasileira, principalmente para a armazenagem.

A China, até então ausente do Brasil, passa a ser um importante participante do mercado brasileiro. O potencial de importação dos chineses é grande, podendo atingir 23 milhões de toneladas na safra 2023/24.


Associações de produtores, como a Abramilho e a Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e de Milho) destacam a necessidade de ampliar a capacidade de armazenagem, principalmente nas fazendas, o que daria mais autonomia aos agricultores.

Para Elisângela Pereira Lopes, coordenadora de Assuntos Estratégicos da CNA, o aumento da produção, seguido dessa oportunidade de o país colocar um volume maior do cereal no mercado externo, deve elevar o gargalo já existente no país por falta de infraestrutura adequada.

O ritmo das exportações pelo chamado Arco Norte aumenta. No ano passado, segundo Thomé Guth, superintende de Logística Operacional da Conab, pelo menos 47% do milho exportado pelo Brasil saiu pelos portos do Norte e do Nordeste.

O milho ganhou novas utilidades no país, passando de alimento humano e de animais para geração de energia. No setor de alimentação animal, Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Produção Agropecuária), diz que o avanço da produção do milho é essencial para a produção de proteínas, que cresce em todos os segmentos.

Na disputa entre o uso do milho para alimentos e para a produção de etanol, Guilherme Nolasco, presidente da Unem (União Nacional do Etanol de Milho), destaca as peculiaridades brasileiras.

Segundo ele, a cultura promove uma economia circular. O cereal vem basicamente da segunda safra, passa por um momento de elevação de produtividade e parte do que é usado no etanol volta para a alimentação dos bois. Estes, por sua vez, têm redução no ciclo de engorda, liberando mais pastagens para a produção de grãos.

Foi destacado no congresso a necessidade de informações claras para o setor, o que favoreceria todos os segmentos. Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, por exemplo, o Brasil não tem um controle da informação de como estão as exportações do cereal. Isso deixa o setor sem uma clareza da disponibilidade interna de produto (Folha de S.Paulo, 18/5/23)