Produtor agrícola acaba tendo um 2024 melhor do que o esperado
AGRONEGOCIO- FOTO FREEPIK
Desemprego menor e renda maior puxam consumo, além de alta de preço no setor.
O ano de 2024 foi difícil. Seca, enchente e frustração de safra tornaram a vida do produtor agrícola bem mais complicada, segundo João Martins, presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). O ano, no entanto, termina melhor do que o esperado, quando se olha para o agronegócio.
A esperada queda de 3% do PIB (Produto Interno Bruto) do setor neste ano não se confirmará. Ao contrário, o indicador deverá registrar uma elevação de 2%. E 2025 será ainda melhor, com crescimento previsto de 5%.
Os pontos positivos que provocaram essa mudança de cenário surgiram principalmente nos meses recentes. "Houve uma recuperação positiva neste último trimestre para várias cadeias produtivas, dentre elas as carnes", disse Bruno Lucchi, diretor técnico da entidade.
Não foi, no entanto, apenas a recuperação das cadeias agrícolas, mas também melhora em alguns indicadores econômicos, ressalta o diretor. A taxa de desemprego caiu de 7,9% para 6%, o PIB brasileiro deverá crescer 3,4%, e os programas sociais do governo permitiram um aumento de consumo de produtos agrícolas, como carnes, lácteos, frutas e outros.
Lucchi destacou também o câmbio. Elevado, e na casa dos R$ 6, a moeda dos Estados Unidos traz mais receitas para o agricultor, mas aumenta os custos de produção. A atuação de Donald Trump, que volta à Presidência dos Estados Unidos em 2025, pode segurar ainda mais a moeda pressionada, uma vez que as medidas restritivas de seu governo deverão fortalecer o dólar e atrair mais investimentos para os Estados Unidos.
O VBP (Valor Bruto de Produção) da agropecuária sobe para R$ 1,34 trilhão neste ano, atingindo R$ 1,43 trilhão no próximo, o que mostra mais dinamismo da produção. Para entender melhor o setor, porém, é preciso avaliar as diversas cadeias, diz o diretor. As dez principais representam 80% de todo o VBP, um indicador que aponta o resultado do volume da produção e do valor de comercialização dos produtos dentro da porteira.
As quatro principais, no entanto, detêm 60% de todo o valor da produção. Estão nessa lista soja, carne bovina, milho e cana-de-açúcar. O comportamento de produção desses produtos tem impacto muito grande nos principias indicadores do setor, afirma Lucchi.
Para o diretor, mesmo com alguns indicadores econômicos favoráveis, ainda há muito para ser ajustado na economia nacional, principalmente na área fiscal e na relação da dívida com o PIB, que vem aumentando.
A alta da Selic, projetada para 13,5% no final de 2025, impacta sobre os juros do Plano Safra e sobre os custos do crédito e do dólar, fazendo com que a inadimplência do setor seja mais um sinal de alerta.
Esse cenário ocorre em um período em que os últimos governos vêm provocando um desmonte do seguro rural. Cada ano há um orçamento menor. Lucchi destaca que neste ano as coisas ficaram um pouco melhores, com R$ 1 bilhão, mas que o orçamento de segurança deveria ser de R$ 4 bilhões.
Externamente, o agronegócio deverá ser afetado por questões geopolíticas mundiais, que impactam diretamente nos custos, principalmente no dos fretes, e na oferta e demanda de produtos. As questões ambientais se tornam cada vez mais barreiras comerciais, enquanto os subsídios na Europa persistem.
A diretora de relações internacionais da CNA, Sueme Mori, destaca o bom desempenho das exportações do agronegócio deste ano, que devem repetir os US$ 166 bilhões neste ano. É preciso, no entanto, atenção com a China. Entre os objetivos do país asiático estão a prioridade no aumento de produção interna de grãos, a importação moderada de alguns produtos e a elevação da segurança alimentar.
Para os próximos dez anos, a China pretende reduzir as importações de soja, milho, arroz e trigo, mas abrirá espaço para frutas, lácteos e carnes. O Brasil poderá aproveitar, ainda, a demanda chinesa por sorgo, café e gergelim.
"O fato é que o crescimento das exportações brasileiras tem uma relação direta com as compras chinesas", diz Sueme. Para a diretora, essa intenção de redução de compras de alguns produtos e de abertura para outros deveria servir de base para uma diversificação das exportações brasileiras. Além disso, a redução nas compras da China pode ser compensada por outros países da região.
Sobre o acordo do Mercosul com a União Europeia, Sueme diz que ele não deve ser olhado apenas do ponto de vista comercial, mas também pelas exigências ambientais e restritivas do bloco europeu. Por isso a inclusão do mecanismo de reequilíbrio de concessões. Se a União Europeia colocar medidas que afetam o que foi acordado, volta-se à mesa para novas discussões.
Diversificação
O Brasil busca diversificação nas exportações para a China. O setor de pets é um bom mercado, uma vez que movimentou US$ 42 bilhões neste ano, um aumento de 7,5%, acima da evolução do PIB do pais.
A preferência dos chineses é mais pelos gatos, cuja demanda de produtos cresceu 11% neste ano, em relação a 2023. O percentual fica bem acima da evolução de 5% do potencial do mercado de cachorros, segundo o Usda
Os Estados Unidos estão entre os fornecedores desses produtos para os chineses. A volta de Donald Trump e da provável guerra comercial entre os dois países pode abrir mais portas para o Brasil.
A estimativa é de que os chineses tenham 124,1 milhões de animais de estimação, entre gatos e cachorros. Em queda, estes últimos somam 52,6 milhões, e os gatos, 71.5 milhões.
A previsão é que aumente o número de gatos e diminua o de cachorros. Estes exigem mais atividades ao ar livre, e os jovens chineses estão trabalhando mais e tendo menos tempo livre para passeios com cachorros.
Fidelidade agro
Os programas de fidelidade para o agronegócio avançam no setor. O Conecta Pontos, programa da BASF que reúne diversos parceiros do agro, teve aumento de 120% nos resgates de produtos e serviços agrícolas, com 30% a mais de acessos à plataforma e 60% de aumento no engajamento nos últimos 12 meses.
O Conecta, ligado ao conecta.ag, tem como objetivo auxiliar o produtor nos momentos de correria do antes, durante e depois da safra. Além de produtos, o agricultor vai encontrar soluções agrícolas e financeiras, como linhas de financiamento e operações de barter.
Segundo a empresa, a plataforma é parte da estratégia integrada para democratizar a agricultura digital no Brasil, com acesso fácil a insumos, serviços e soluções financeiras (Folha, 12/12/24)