Produtor de cana quer receber prêmio
Pressionados pela queda das cotações do açúcar, que afetou o valor da cana nas lavouras, os produtores querem agora receber um prêmio, além do valor atualmente estabelecido pelo Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar e Etanol (Consecana), baseado em alguns "méritos". A proposta foi apresentada pela Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul (Orplana), que representa 8,4 mil produtores que entregam às usinas cerca de 10% do volume de cana do país, e tem gerado uma intensa queda de braço.
A proposta da Orplana é que a remuneração adicional seja calculada com base em vários fatores. Estão na lista tempo de contrato com as indústrias, conformidade do produtor com normas de segurança do trabalho e com medidas ambientais (como destinação adequada de embalagens), capacidade de entregar cana no ritmo adequado à programação da usina, menor custo de produção e menor quantidade de impurezas na cana.
Segundo Celso Albano, gestor executivo da Orplana, a proposta foi apresentada para solucionar aquilo que os fornecedores identificam como uma "defasagem" do atual modelo de pagamento.
Atualmente, o cálculo do valor pago aos fornecedores previsto no Consecana leva em consideração a quantidade de açúcares totais recuperáveis (ATR) por tonelada de cana – quantidade de sacarose obtida após o processamento da cana -, além das variações de preços de açúcar e etanol. Dessa forma, em épocas de baixos preços baixos, cai também a remuneração dos produtores.
Como as cotações do açúcar desabaram neste ano por causa da mudança de uma situação de deficit global de oferta para superavit, a remuneração calculada pelo Consecana também caiu. De abril, primeiro mês da safra, até outubro, o valor do ATR pago ao fornecedor caiu 15,5%, para R$ 0,5490 o quilo. No acumulado da safra, o valor do ATR está em R$ 0,5710 o quilo, 11,5% inferior ao valor do mesmo período da temporada passada.
Para a indústria, porém, as únicas alterações admissíveis são as que proporcionam ganho aos dois lados, com aumento da receita global da cadeia. É o caso do baixo nível de impurezas, que reduzem o custo da indústria, afirma Antonio de Padua Rodrigues – Foto -, diretor técnico da Unia, entidade que representa as usinas "Se [a mudança] for na premissa de transferência de renda, dificilmente terá acordo", diz.
Os produtores argumentam que seus custos estão crescendo mais que os da indústria. "Os custos agrícolas aumentaram bem mais rápido e proporcionalmente mais que os industriais nos últimos anos, porque a cana se tornou uma cultura de capital intensivo maior", afirma José Eugênio de Rezende Barbosa Sobrinho, presidente da Agroterenas, uma das maiores companhias de produção de cana do país, responsável por 75 mil hectares.
A maior fonte de pressão, diz, tem sido o custo financeiro, que pesa para quem paga arrendamento. Outro custo importante decorre da mecanização da colheita, que além de ter elevado o dispêndio com máquinas reduziu a produtividade das lavouras, afirma o executivo.
Sobrinho avalia que o preço pago aos produtores só tem proporcionado margem positiva para quem tem produtividade acima de 80 toneladas o hectare. "Mas a média em cinco anos foi 77 toneladas. Então, na média, há prejuízo".
Padua, por sua vez, argumenta que o fornecedor precisa ser mais produtivo e investir mais em tecnologia e renovação de canavial para diluir seus custos. Para ele, o modelo Consecana é uma referência e, "dependendo do local, não se paga apenas o Consecana" e há o "reconhecimento da importância do fornecedor" (Assessoria de Comunicação, 5/12/17)