Projeto de mineração em terra indígena é crime e chance perdida
INDIGENAS Lucas Landau Repórter Brasil
Grandes nomes do setor privado criticam investida de Bolsonaro na Amazônia.
Cresce a indignação de uma parte do alto empresariado brasileiro com a tentativa do governo Bolsonaro de deslanchar a mineração em terras indígenas na Amazônia.
Além das recentes manifestações públicas em nome de associações empresariais, figuras de peso no setor privado contestam a investida bolsonarista.
"Não é uma questão empresarial, mas nacional. Este projeto de lei 191 é um crime de lesa-pátria", afirma o empresário Horácio Lafer Piva.
"Prefiro nem imaginar as razões pelas quais alguns parlamentares, sob o argumento falso da necessidade de exploração, atropelam a imagem do país, a defesa do meio ambiente e o respeito à cultura e direitos indígenas. Não sei se é loucura ou mau-caráter. Nem por que alguns deles querem derreter a imagem do Legislativo", diz Piva.
O ex-ministro Luiz Fernando Furlan (BRF) também se opõe. "Há muitas áreas pesquisadas e a pesquisar que podem atender a demanda", afirma.
Para o investidor Eduardo Mufarej, infelizmente, se trata de mais uma oportunidade que o Brasil perde de assumir papel de protagonismo na pauta climática no mundo.
"O país com maior potencial de captura de crédito de carbono do mundo vai de novo na mão contrária dos demais, acentuando um processo de isolamento que implica em perda de credibilidade, potenciais investimentos, além de atrapalhar um dos principais motores da economia, o agronegócio", diz Mufarej.
Mais cedo, neste mês, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que reúne as principais associações do agronegócio brasileiro, grandes empresas do setor, bancos, academia e sociedade civil elaborou uma nota com críticas ao projeto.
Segundo a coalizão, o garimpo em terras indígenas não resolverá eventuais crises de escassez de fertilizantes, ao contrário do que defende o presidente no momento em que a guerra na Ucrânia expõe a dependência brasileira em relação ao produto importado.
O Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), que tem entre as associadas gigantes como Gerdau, Vale e Mosaic Fertlizantes, também divulgou um comunicado afirmando que o projeto de lei não é adequado (Folha de S.Paulo, 17/3/22)