23/05/2018

Protesto de caminhoneiros para 8 unidades de carnes; mais 30 devem parar

Protesto de caminhoneiros para 8 unidades de carnes; mais 30 devem parar

Oito unidades produtoras de carne suína e de aves do Brasil estão paradas devido a problemas decorrentes dos protestos de caminhoneiros iniciados na segunda-feira, afirmou à Reuters o vice-presidente e diretor de Mercados da Associação Brasileira da Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.

Segundo ele, os protestos têm impedido a chegada de ração para as criações, a retirada de carnes dos armazéns das fábricas e também a chegada de animais para abate.

A maior parte das paralisações, que estão sendo registradas em vários Estados do Brasil, afeta as operações da indústria de aves, disse ele.

Santin explicou que o setor sentiu tão rapidamente os impactos da greve dos caminhoneiros porque está trabalhando com elevados estoques de carnes em função de recentes embargos da União Europeia.

De outro lado, a indústria tem trabalhado com baixos estoques de ração, devido ao alto custo do milho.

“Todo o sistema está comprometido, não tem como girar, o cara tem que parar a planta”, afirmou.

Ele disse que as exportações de carne do Brasil, maior exportador global de carne de frango, serão impactadas negativamente pelos protestos, mas preferiu não fazer estimativas (Reuters, 22/5/18)


Aurora vai parar unidades de carnes em 4 Estados por bloqueios 

A Cooperativa Central Aurora Alimentos, terceira maior produtora de carnes de aves e suínos do Brasil, anunciou nesta terça-feira que paralisará totalmente as atividades das indústrias de processamento de aves e suínos em Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, na quinta e sexta-feira, devido a problemas causados pela greve dos caminhoneiros.

Segundo a Aurora, os bloqueios em estradas, em manifestações que visam pressionar o governo a reduzir tributos do diesel, após uma forte alta do preço do combustível, atingem o setor de transportes nas regiões onde estão instaladas as suas unidades produtivas.

“A suspensão total das atividades tornou-se imperativa e inevitável em razão dos efeitos do movimento grevista que impede a passagem dos caminhões que transportam todos os insumos necessários ao funcionamento das indústrias e, também, o escoamento dos produtos acabados para os portos e os centros de consumo”, afirmou a Aurora em nota.

Nos dois dias de paralisação da Aurora, sete indústrias de aves e oito de suínos estarão inoperantes, enquanto 28 mil trabalhadores diretos estarão dispensados temporariamente.

Mais cedo, a vice-presidente e diretor de Mercados da Associação Brasileira da Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, havia dito à Reuters que oito unidades do setor já estão paradas e outras 30 devem parar na quarta-feira, como consequência dos protestos.

Segundo a Aurora, devido a problemas para escoar os produtos, a capacidade de estocagem dos frigorificados —de 50 mil toneladas— está exaurida.

“No campo, as famílias rurais são as mais prejudicadas porque o mesmo movimento grevista impede o fornecimento de ração, pintinhos, material genético, remédios aos milhares de produtores rurais, colocando em risco imensos planteis de aves, suínos e bovinos”, afirmou a Aurora.

A Aurora afirmou que, mesmo que eventualmente a greve venha a ser encerrada nas próximas horas ou dias, a paralisação das unidades industriais nesta semana não poderá ser cancelada “em face das condições adversas que se criaram ao fluxo normal da produção”.

“Tudo isso representa mais de 50 milhões de reais de prejuízos para toda a cadeia produtiva ancorada na Aurora Alimentos...”, disse, apelando para que o governo e os manifestantes dialoguem pelo fim dos protestos (Reuters. 22/5/18)


Protestos afetam indústrias de carnes e fluxo de soja aos portos

Os protestos realizados por caminhoneiros se espalham por praticamente todo o Brasil nesta terça-feira e já afetam a agropecuária nacional, particularmente o setor de carnes, com algumas indústrias suspendendo as operações, ao passo que o fluxo de soja aos portos também se reduz, encolhendo os estoques nos terminais devido à interrupção no transporte.

Contrários à alta do diesel e a favor de redução da carga tributária sobre o combustível, caminhoneiros realizam bloqueios em 22 Estados nesta terça-feira, de acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), superando os 19 registrados na véspera.

Conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa mais de 140 agroindústrias, “os bloqueios impedem o transporte de aves e suínos vivos, ração e cargas refrigeradas destinadas ao abastecimento das gôndolas no Brasil ou para exportações”.

“Já temos relatos de unidades produtoras com turnos de abate suspenso. Contratos de exportação poderão ser perdidos e há um forte aumento de custos logísticos com reprogramação de embarque de cargas. Os prejuízos para o setor produtivo e para o país são incalculáveis”, afirmou a ABPA, em nota.

Na mesma linha, o presidente executivo da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, afirmou que todo o setor de animais vivos, de leite e o abastecimento em geral estão sendo “muito afetados”.

“Nós estamos recebendo inúmeras queixas de caminhões transportando nossos produtos que são perecíveis e estão parados em várias regiões do país”, afirmou, em nota destacando que são “centenas de caminhões parados nas estradas com animais vivos, leite e produtos resfriados para serem entregues nos pontos de varejo em todo o país”.

GRÃOS

Com relação aos grãos, o gerente de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Amaral, disse que, por ora, os protestos “ainda não afetaram o embarque e o esmagamento (de soja) de maneira generalizada, mas há uma fábrica no Paraná que pode suspender o processamento”. Ele preferiu não dizer o nome da empresa.

“Estamos preocupados, mas ainda não houve problema para o abastecimento interno...”, disse ele.

Ele ressaltou, contudo, que o fluxo do produto para os portos foi reduzido.

“Queremos uma resolução o mais rápido possível para voltar a exportar, pois estamos com a maior safra de soja da história”, acrescentou, referindo-se à produção recorde da oleaginosa neste ano —o Brasil é o maior exportador mundial da commodity.

Lucas Trindade, assistente-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), alertou que “a paralisação dos motoristas e os bloqueios de rodovias já impactam o fluxo de caminhões e o recebimento dessas cargas pelos terminais em alguns portos”.

“De qualquer forma, ainda não temos informação acerca de atraso nos embarques decorrente da falta de carga nos terminais portuários, situação que pode ocorrer caso o fluxo de caminhões não seja restabelecido imediatamente.”

Um atenuante da situação é o fato de que parte das cargas agrícolas para exportação chega por ferrovia.

MOVIMENTAÇÃO NOS PORTOS

As assessorias de imprensa dos portos de Paranaguá (PR) e Santos (SP), os principais canais de exportação da safra agrícola do Brasil, explicaram à Reuters que há manifestações nas entradas de ambos os terminais, mas muitos caminhões nem estão se dirigindo aos locais em razão dos protestos.

Em Paranaguá, por exemplo, apenas 300 caminhões deram entrada na segunda-feira, contra cerca de 2 mil normalmente nesta época do ano, enquanto em Santos o movimento também está reduzido.

Em virtude dos estoques, contudo, as operações de carga e descarga dos navios transcorrem normalmente nesses locais.

DIESEL EM ALTA

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, teve reunião nesta manhã com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, para dialogar sobre a alta dos combustíveis.

Desde que a petroleira passou a reajustar quase que diariamente os preços dos combustíveis, seguindo o mercado internacional e o câmbio, o diesel acumula alta de quase 50 por cento nas refinarias.

Mais cedo, contudo, a petroleira comunicou que reduzirá tanto os valores do diesel quanto os da gasolina nas refinarias a partir de quarta-feira.

Parente negou que haja interferência do governo na política de formação de preços da Petrobras, algo que foi reiterado por Guardia.

Segundo Parente, a redução anunciada nesta quarta-feira ocorreu pela variação do câmbio.

A greve dos caminhoneiros acontece enquanto entidades que representam os donos de postos também apelam por mudanças tributárias, afirmando que a política de preços da Petrobras está causando prejuízos ao setor.

A última vez que os caminhoneiros promoveram protestos em âmbito nacional foi no início de 2015, quando exigiram redução de custos com combustível, pedágios e tabelamento de fretes (Reuters, 22/5/18)


FPA cobra providência da ANP sobre alta de combustíveis

Parlamentares criticaram aumento: produtividade e exportações do setor agropecuário brasileiro estão em xeque

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) recebeu nesta terça-feira (22) representantes da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para debater a constante alta no preço dos combustíveis no país, com impacto direto em toda cadeia produtiva do setor agropecuário. Bancada vai se reunir com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Minas e Energia) para tratar do assunto ainda hoje.

Entidades que representam o setor produtivo nacional estiveram no encontro e alertaram sobre a grave crise pela qual o setor passa, tanto pela alta dos preços dos combustíveis quanto pelas greves de caminhoneiros que impossibilitam o transporte dos produtos agropecuários. O vice-presidente da FPA, deputado Alceu Moreira (MDB-RS), afirmou que a situação é tão grave que uma solução deve ser tomada nos próximos dias e não daqui a meses. “Precisamos encontrar uma alternativa que pare nos próximos dois dias com as paralisações. A Petrobras anunciou hoje que vai baixar os preços. Vamos aguardar o impacto”, disse.

Para os deputados Zé Silva (SD-MG) e Valdir Colatto (MDB-SC), os entraves e preocupações demonstrados vem deixando a atividade em uma situação cada vez mais alarmante em todos os elos da cadeia produtiva nacional em relação à logística e capacidade de produção.

Segundo Valdir Colatto, no Estado de Santa Catarina os caminhoneiros estão sendo impedidos de transitar com as mercadorias por conta das paralisações. “Isso se reflete também em outros estados, como Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Pará. É uma crise de desabastecimento generalizada”, destacou o parlamentar. Para ele, a política de biocombustível atual não está avaliando as consequências econômicas e sociais que os reajustes nos últimos meses trouxeram ao país. “Faremos o possível para resolver isso hoje e conter as greves”, disse Colatto.

Para o deputado Adilton Sachetti (PRB-MT), uma das soluções está no aumento expressivo do uso do biodiesel no país, que ainda segue a passos lentos. “Por que não avançamos nas misturas de óleo diesel com biodiesel? Isso vai beneficiar o produtor, o consumidor e o país com a redução do valor do diesel”, afirmou Sachetti.

O diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Marcio Maciel, afirmou que a soja só embarcou 30% de sua supersafra até agora. “A alta do preço do diesel se dá principalmente na alta carga de impostos em cima dos combustíveis no Brasil”, destacou o diretor.

Segundo a Associação Brasileira dos Produtores do Leite (Abraleite), muitos produtores estão com dificuldades em vários estados para transportar o produto que é altamente perecível. A Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) afirmou que é necessário criar um mecanismo de proteção ao consumidor final e às cadeias produtivas que não têm a capacidade de absorver essa variação do preço de combustível.

Encerrando a reunião, o diretor da ANP, Felipe Kury, afirmou que a agência monitora de perto a oscilação no preço dos combustíveis que vem acontecendo neste ano, bem como seus desdobramentos em toda a atividade econômica do país, que perde em competitividade e produtividade.

“A alta carga tributária que desencadeia os preços altos dos combustíveis no Brasil prejudica os investimentos no país, além de gerar cenários de concorrência desleais frente a outros mercados internacionais que também perdem o interesse de investir aqui”, ressaltou Kury. Para ele, a regulamentação do setor de biodiesel, por meio da RenovaBio, trará liquidez ao mercado (Assessoria de Comunicação, 22/5/18)