27/09/2018

Próximos meses serão desafiadores para o setor de leite

Vacas leiteiras comem ração em fazenda de Barretos, no interior de São Paulo

Produtores terão custos maiores e preços menores para a matéria-prima, segundo o Cepea.

Os meses de agosto e de setembro são um período de virada nos preços do leite pagos aos produtores. As chuvas recuperam as pastagens e a produção volta a crescer.

Esse é o cenário normal. 2018, contudo, está se mostrando um ano peculiar, segundo Natália Grigol, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

De janeiro a agosto, os preços acumulados pagos aos produtores tiveram elevação de 50,3%, descontada a inflação. Foi uma puxada tão elevada que os valores bateram no teto do poder aquisitivo dos consumidores, inibindo a demanda.

A pesquisadora do Cepea acredita que, mesmo com o retorno da oferta, embora em ritmo menor, o principal fator de recuo dos preços deverá ser a demanda, que está fraca.

"Será um período desafiador para o setor nos próximos meses", diz a pesquisadora do Cepea.

Sobre a oferta maior de leite nos próximos meses, o que sempre ocorre neste período do ano, Grigol adverte que alguns fatores podem imprimir um ritmo lento na produção.

As chuvas atrasaram e o pecuarista está desestimulado. Devido à baixa liquidez do setor, e embora os preços tenham subido, muitos deixaram a atividade.

Descapitalizado, o produtor terá agora um período de elevação dos custos, por causa da alta dos preços dos grãos. A produção vai aumentar, mas a remuneração do produtor será menor, graças à oferta maior de leite e à consequente queda nos preços.

A pergunta é: "Quanto eles [os preços] vão cair", diz Grigol. Em algumas regiões onde há uma concentração de indústrias, a competitividade pelo leite deverá continuar.

Neste caso, a queda será mais lenta. Já nas regiões com pouca competitividade industrial, a redução dos preços poderá ser maior.

Além disso, as indústrias vão balancear a remuneração que devem dar ao produtor e seus custos industriais, levando em consideração a capacidade de aquisição do leite e de seus derivados pelos consumidores (Folha de S.Paulo, 27/9/18)