Pujança do agronegócio brasileiro? É a ciência!-Por Victor Prodonoff Jr.
Fato que se constata ao analisar a demanda global por produtos brasileiros de origem agrícola, é que o setor em nada foi prejudicado pela crise atual. Pelo contrário. No ano passado houve crescimento da ordem de 10% nas exportações do setor, quando comparadas a 2019. A participação do agronegócio nas exportações totais cresceu de 43% para 48% naquele intervalo de tempo. Terminado o ano, foram apurados recordes tanto na balança comercial do agro – superando os US $101 bilhões exportados (Cepea – Usp/Esalq) – quanto na produção agrícola total, que ultrapassou dos 246 milhões de toneladas. Mas esse cenário, que demonstra a pujança do agronegócio brasileiro, já é por demais conhecido.
Na verdade, o que ainda precisa ser trazido à tona, para entendimento e valorização pelo público, é a contribuição da ciência e a aplicação de inovações tecnológicas em todas as fases produtivas do agro para o alcance, em grande parte, de tais resultados. Cada vez mais presente no agronegócio, a ciência e a tecnologia têm garantido a competitividade do setor e os bons negócios que vêm sendo gerados. Desde a década de 1970, o país dobrou a área cultivada, mas registrou crescimento de seis vezes na produção (Embrapa).
A tradição do Brasil em pesquisa e desenvolvimento na agricultura, seja nos centros de pesquisa das universidades ou em instituições de primeira linha, como a Embrapa, vem assegurando para o mercado um fluxo intenso e contínuo de pessoas altamente capacitadas, desenvolvendo soluções nacionais e aumentando as oportunidades de negócio com origem na inovação tecnológica.
Como efeito, o interesse de investidores por startups voltadas para o agro, construídas sobre tecnologias proprietárias e com claros benefícios à cadeia produtiva e potencial para geração de negócios, está em franca expansão. Aportes de investidoras, como a NTAgro, estão sendo direcionados crescentemente para empresas à frente do desenvolvimento científico brasileiro, com foco em “Hard Science”, ou seja, empresas resultantes de esforços intensos em pesquisa e desenvolvimento e com conhecimento profundo dos fenômenos físicos, químicos e biológicos. Vivemos, no Brasil, um dos momentos mais favoráveis dos últimos anos aos investimentos em AgTechs.
Na prática, estamos vendo surgir soluções direcionadas para problemas concretos, através de modelos de negócio bem concebidos e que ajudam a agricultura brasileira a seguir crescendo e se impondo no cenário global. As empresas de sucesso buscam entender e atender às “dores” desse mercado. Calçam os sapatos do produtor rural ou do ator da cadeia do agronegócio que se beneficiará da sua solução. Não raras vezes, neste campo, são seladas parcerias e incorporadas tecnologias e produtos complementares provenientes de outras empresas imbuídas da mesma motivação. E mais. As soluções sustentáveis e estratégias ESG impedem que portas se fechem ao agro brasileiro. A narrativa ecológica tem ganhado força entre AgTechs brasileiras e há hoje no mercado importantes soluções inovadoras voltadas para a redução dos impactos ambientais e a eliminação de desperdícios em procedimentos que envolvem a cadeia de alimentos.
A posição invejável do Brasil entre os países na vanguarda mundial do agro proporciona às startups daqui uma escala de mercado no mínimo tão relevante quanto à dos EUA, da Europa ou da Ásia. Nosso ecossistema nacional de incubadoras, aceleradoras e investidores nos diversos estágios (Seed Capital, Venture ou Private Equity) vêm amadurecendo rapidamente também. Ante as dificuldades atuais vividas pelos outros setores da economia, como é o caso da indústria e dos serviços, a disponibilidade de capital tende a ser ainda maior para os bons projetos da agropecuária. Nunca houve momento mais propício para empreendedores que tragam propostas sustentáveis técnica, econômica e ambientalmente.
Ora, nestes tempos de retração da atividade econômica, o desenvolvimento tecnológico e científico, mais do que nunca, é o gatilho para sustentar o crescimento do agro. É com ciência e tecnologia adequadas para os diferentes sistemas de produção que o agro irá contribuir mais para a economia do País. A pesquisa e o desenvolvimento atrelados à gênese de bons negócios garantirão continuidade à pujança do agro brasileiro (Victor Prodonoff Jr., CEO da NT@gro Investimentos S.A.; O Estado de S.Paulo, 8/3/21)