08/06/2025

Quais os potenciais mercados para a carne do Brasil livre de febre aftosa?

Quais os potenciais mercados para a carne do Brasil livre de febre aftosa?

 BOI GORDO Foto Reprodução Blog Ponta Agro

Em carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Abiec, que representa os frigoríficos, lista uma série de ações necessárias para o setor ampliar as exportações e agregar valor.

Enquanto comemoram a obtenção pelo Brasil do status sanitário de livre de febre aftosa sem vacinação, os frigoríficos articulam uma agenda conjunta com o governo para acelerar o acesso a mercados importantes para a carne bovina.

Se, por um lado, o desafio agora é o de manter a doença longe do país, por outro, a nova condição internacional abre espaço para o país sentar-se à mesa de negociação com autoridades de nações mais exigentes em protocolos sanitários relacionados à aftosa.

Nesta sexta-feira (6/6), a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) entregou uma carta em que enumera medidas necessárias para o setor. Representantes da entidade entregaram o documento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de certificação do país por parte da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), em Paris.

Leia a íntegra da carta da Abiec ao governo brasileiro

A Associação, que reúne empresas com 98% de participação nos embarques de carne bovina brasileira, lista alguns potenciais mercados para o produto:

·         Japão: o status de livre de aftosa sem vacinação era considerado o último estágio para o Brasil abrir negociações com o mercado japonês para a carne bovina. O governo brasileiro também vê um cenário favorável. Nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que discutiu o assunto com o governo japonês, recentemente. E o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o país "já está fazendo verificações" para reconhecer a carne brasileira.

·         Coreia do Sul: outro mercado que o setor considera com potencial de abertura para a carne brasileira. Na visão da Abiec, o país passa a enxergar o Brasil "sob uma perspectiva sanitária mais favorável, com todas as garantias técnicas já consolidadas".

·         Turquia: Para a entidade que representa os frigoríficos, o país está no mesmo patamar de japoneses e sul-coreanos.

·         Filipinas: Segundo a Abiec, país demonstrou "interesse imediato" na importação de miúdos bovinos.

·         Indonésia: Outro país que, segundo a entidade, demonstrou "interesse imediato" em miúdos.

·         Canadá: Assim como filipinos e indonésios, país tem interesse em comprar miúdos bovinos.

·         México: Potencial abertura para exportação de miúdos bovinos.

·         China: Inclusão de miúdos e carne com osso, além da revisão do protocolo sanitário bilateral.

Adaptações técnicas e regulatórias

A entidade, em nome de suas associadas, pontua que o novo status sanitário exige adaptações técnicas e regulatórias. "Por isso, colocamos à disposição do governo uma agenda setorial integrada, com foco em ampliar mercados, agregar valor às exportações e reforçar a competitividade do setor", propõe a entidade. A Abiec lista quatro linhas de ação essenciais para a cadeia produtiva.

·         Regulamentação do Decreto do Autocontrole: na visão da Abiec, é preciso consolidar as normas que tratam da habilitação de profissionais para inspeção nas plantas industriais. Fiscais agropecuários federais são contra a medida, argumentando que se trata de uma "terceirização" do papel estatal.

·         Aprovação e apoio ao PL 3179/2024, que trata das horas extras dos auditores fiscais agropecuários: a indústria de carne bovina considera a medida urgente para "garantir a continuidade e o fortalecimento das ações de fiscalização e certificação sanitária";

·         Renegociação dos Certificados Sanitários Internacionais (CSIs): A indústria avalia que esses protocolos devem refletir a nova condição do Brasil

·         Abertura de negociações para exportação de carne com osso e miúdos, "aproveitando as oportunidades geradas com o novo status e a demanda crescente por produtos de maior valor agregado".

Estratégia e ganho de imagem

Na cerimônia de certificação do Brasil, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, afirmou o status sanitário resulta de uma “estratégia de país” que tem dado certo. Ele mencionou que representantes de 30 empresas do setor estavam presentes no evento.

“Consumimos 70% do que produzimos e exportamos o excedente. Agora, será possível aumentar os mercados. Poderemos vender carne com osso, miúdos, acessar mercados mais exigentes, como o Japão, aumentar a exportação para a Europa. Será um novo momento da pecuária e da indústria, trazendo renda para o interior do país”, disse.

Segundo ele, o certificado da OMSA vai permitir aos frigoríficos brasileiros entregar carne de qualidade no Brasil e mundo afora.

Já Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), disse que a certificação dá “ganho de imagem” ao Brasil e ajuda a fazer justiça social, pela potencial agregação de valor à produção de pequenos criadores no interior do país. Ele salientou ainda que o país “não abre mão da responsabilidade global com a segurança alimentar” (Globo Rural, 6/6/25)