'Qual é o problema se energia ficar um pouco mais cara?', pergunta Guedes
GUEDES Imagem Reuters
Ministro vê 'narrativas negacionistas' e diz que fundamentos fiscais 'nunca estiveram tão tranquilos'.
Em meio à maior seca em décadas e no mesmo dia em que o o governo anunciou que dará desconto na conta de luz –cuja geração está mais cara devido ao acionamento de térmicas, pressionando a inflação–para quem reduzir o consumo de energia, como forma de diminuir o risco de desabastecimento, o ministro Paulo Guedes (Economia) minimizou a crise.
“Vamos ter que enfrentar o problema do choque hídrico, isso vai causar perturbação, empurra a inflação um pouco para cima, o Banco Central tem que correr um pouco mais atrás da inflação, mas vamos enfrentar essa crise”, afirmou Guedes nesta quarta-feira (25) durante lançamento da Frente Parlamentar Mista do Empreendedorismo na Câmara.
O ministro disse ainda disse estar confiante de que o Brasil vai superar os novos problemas.
"Se no ano passado, que era o caos, nós nos organizamos e atravessamos, por que vamos ter medo agora? Qual é o problema agora que a energia vai ficar um pouco mais cara porque choveu menos? O problema agora que está tendo uma exacerbação porque anteciparam as eleições? Tudo bem. Vamos tampar o ouvido, vamos atravessar, vai ser uma gritaria danada, mas vamos chegar lá", disse.
Guedes também afirmou os fundamentos fiscais do país nunca estiveram tão tranquilos –o país vive turbulências no mercado por conta das incertezas sobre a condução das contas públicas–, acusou “narrativas negacionistas” pelo não reconhecimento do desempenho econômico do Brasil e também atribuiu culpa à mídia.
“Nunca os fundamentos fiscais estiveram tão tranquilos. E todo dia você olha para o jornal e diz que vai pegar fogo o Brasil, que vai explodir tudo, que ano que vem não passa”, afirmou.
“Estamos racionalizando a máquina pública, nada disso está na mídia. Está na mídia só bagunça. O Brasil está avançando, o PIB [Produto Interno Bruto] está crescendo, as reformas estão andando”.
A previsão de economistas para o PIB deste ano, segundo o último boletim Focus, do Banco Central, é de alta de 5,27%. No boletim da semana passada, a previsão era de alta de 5,28%. Para 2022, as previsões caíram de 2,04% para 2%, no terceiro recuo seguido.
O mercado brasileiro passou por forte turbulência nas últimas semanas diante da percepção de riscos fiscais. Um dos principais fatores citados por especialistas foi a apresentação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) pelo governo para parcelar precatórios —dívidas do governo reconhecidas pela Justiça.
O texto ainda cria um fundo que permite o pagamento de precatórios sem contabilização do teto de gastos, regra que limita o crescimento das despesas do governo à variação da inflação. A proposta flexibiliza o teto e se sobrepõe a dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal.
No radar dos agentes do mercado também estão as incertezas em relação ao custeio do novo Bolsa Família, além da expectativa sobre outros gastos do governo, como investimentos, em ano eleitoral.
Outra fonte de turbulência é a reforma do Imposto de Renda apresentado pela equipe de Guedes, que sofreu forte rejeição e, mesmo após alterações na Câmara, tem resistência de parlamentares e setores empresariais.
As incertezas sobre essas discussões geraram alta volatilidade na Bolsa de valores nas últimas semanas e provocaram elevação das taxas de juros.
Na apresentação, o ministro disse que o Brasil viu uma retomada em V da economia. Para afirmar que as contas públicas estão em ordem, ele citou a tendência de redução do déficit público, que superou 10% do PIB em 2020 com os gastos para enfrentamento à pandemia e neste ano pode ficar em 1,7% do PIB.
“A economia está bombando e continua a narrativa de que o governo não está fazendo nada. Os senhores empresários sabem o que está acontecendo enquanto há narrativas negacionistas, que negam a força da economia brasileira”, afirmou (Folha de S.Paulo, 26/8/21)