Qualidade, integridade e amplitude de dados
Uma mini mesa redonda com Lisa Roitman (Estrategista de Negócios para Tecnologia de Compliance Regulatória, Bloomberg L.P.), Janos Renz Hotz (Estrategista de Melhor Execucção BTCA, Bloomberg L.P), Mike Tirello (Gerente Global de Produtos de Compliance SSEOMS, Bloomberg L.P), Bob Shea (Gerente Global de Produtos de Compliance AIM, Bloomberg L.P.) e Paul Lanois (Vice-Presidente do Conselheiro Geral, Credit Suisse AG).
R&C: O que você considera ser o maior desafio relacionado a dados atualmente enfrentado pelas empresas?
Shea: No ambiente regulatório atual, uma empresa de investimentos deve coletar, validar e normalizar dados de várias fontes para atender obrigações de compliance e relatórios transacionais. As empresas devem fornecer relatórios apropriados usando identificadores padrão do setor, como identificadores de entidade jurídica (LEIs), para ativos, contrapartes,tomadores de decisão e contas relacionadas à transação. Frequentemente, é necessário um investimento técnico pesado para integrar vários sistemas que contém dados necessários para cumprir a regulamentação. Além de responsabilidades de relatórios comerciais, as empresas devem implementar processos para garantir que as verificações de compliance pré e pós-negociação sejam avaliadas com dados adequados. Um design sofisticado deve ser implementado para que os dados de referência de segurança possam ser recebidos quase em tempo real, o que permite que as verificações de compliance sejam executadas à medida que novas ordens ou negociações sejam enviadas para execução.
Lanois: Por mais estranho que pareça, um dos maiores desafios relacionados a dados que as empresas enfrentam é a extensa publicidade em torno de novas tecnologias. Todos nós já ouvimos diversas vezes como uma nova tecnologia chegou para ser a melhor coisa do momento e isso muitas vezes leva à adoção cega, simplesmente porque as organizações desejam estar na moda e não perder para seus concorrentes, tudo isso para desistirem pouco tempo depois, com grandes custos, ao notarem que tal ferramenta ou tecnologia na verdade não atende às necessidades da empresa. Não há nada de errado em ser um pioneiro na adoção de novas tecnologias que, em muitos casos, podem beneficiar muito o seu negócio. Há muitos benefícios potenciais, como redução de custos, aléms de maior rapidez, eficiência ou confiabilidade de dados. Ainda assim, a adesão deve sempre ser cuidadosamente considerada e deve se ajustar à organização, não o contrário. Aderir às últimas e maiores tendências apenas por serem populares no momento pode ser um grande erro.
R&C: Quais métodos as empresas podem empregar para obter dados de boa qualidade? Por que é necessário se empenhar para atingir esse objetivo?
Lanois: É necessário empenho para alcançar dados da maior qualidade possível, pois decisões de negócios são tão boas quanto os dados usados para alcançá-las. Pode ser tentador coletar o máximo de dados possível, mas se estes não forem confiáveis, pode ser inútil ou mesmo prejudicial usá-los na tomada de decisões. Há também a tentação de simplesmente obter dados assim que aparecem, a fim de executar uma análise e conseguir estatísticas, e chegar a uma conclusão sem dedicar o tempo necessário para realmente entender tais dados e onde foram originados.
Shea: Empresas que investem recursos para melhorar a qualidade dos dados aumentam suas chances de sucesso. Isso pode ser alcançado com a implementação de soluções técnicas para validação e limpeza de dados, juntamente com boas ferramentas de gerenciamento de processos para monitorar o fluxo de trabalho. A aplicação de inteligência de negócios sólida ao processo de gerenciamento de dados é fundamental para obter dados de qualidade. Pode ser empregada para prever valores esperados que podem então ser utilizados para abordar exceções de dados e fornecer uma vantagem sobre soluções baseadas em dados. Quando há falha em um processo específico fundamental para o fluxo de trabalho geral de gerenciamento de dados, procedimentos automatizados de recuperação devem ser implementados para resolver o problema.
R&C: Qual é a importância das empresas se prepararem para responder às requisições de órgãos reguladores em relação à transparência e pontualidade relacionadas à coleta de dados? Que medidas as empresas podem tomar para garantir que estejam relatando de forma precisa e completa?
Tirello: É extremamente importante ser adequado e preciso ao responder a um regulador. Dependendo das obrigações regulatórias da sua empresa, há certosprazos que você deve ser capaz de cumprir a fim de evitar a investigação minuciosa de sistemas, políticas e procedimentos, e possíveis multas. As empresas devem realizar revisões regulares de suas linhas de negócios para garantir que estejam capturando todos os dados relevantes de acordo com as diretrizes regulamentares e, em seguida, executar apurações frequentes ou auditorias internas para assegurar que os dados foram realmente capturados e são recuperáveis. Se as linhas de negócios mudarem, novas revisões devem ser realizadas para garantir que todos os novos dados sejam capturados. Contratar auditores externos pelo menos uma vez por ano para revisar as políticas e procedimentos da sua empresa, bem como executar verificações, é uma necessidade no ambiente regulatório atual em constante mudança, e indica aos reguladores que sua empresa leva compliance a sério.
Lanois: Atualmente, o processo de geração de relatórios em muitas instituições financeiras é fragmentado em relatórios individuais, cada um com seu próprio banco de dados e ferramentas para produzir um relatório normativo específico. Por exemplo, você teria relatórios para risco de crédito, risco de liquidez, teste de estresse e assim por diante. Cada um seria produzido por um departamento específico usando suas próprias ferramentas e sistemas, algumas das quais podem ser antigas e não necessariamente compatíveis com outros sistemas. Para resolver isso, as organizações podem aplicar ajustes e correções de reconciliação para atender exigências regulatórias, contudo, sistemas defasados provavelmente criarão mais problemas, à medida que os reguladores esperam cada vez mais que as organizações forneçam relatórios mais abrangentes, dentro de prazos mais curtos.
R&C: Até que ponto recorrer a dados de boa qualidade ajuda as empresas com seus requisitos de relatórios de identificador de entidade jurídica (LEI), além de sua capacidade de estabelecer dados em fluxos de trabalho integrados?
Lanois: Um conjunto de dados é apenas tão bom quanto a qualidade dos dados que contém. Portanto, é essencial que todos os dados usados para alimentar um banco de dados central sejam validados à medida que são importados, para garantir que não hajam erros ou inconsistências de dados ausentes, e que a qualidade dos dados, tal como sua idade, cumpra os requisitos de relatórios que a organização está sujeita. Além disso, embora a indústria esteja gradualmente se movendo em direção à harmonização em relação a modelos de relatórios, organizações com operações internacionais ainda enfrentam a exigência de relatar informações em diferentes modelos para os diferentes países onde operam.
Roitman: LEIs são apenas um exemplo da importância de possuir bons dados. São um prérequisito para negociação.Simples de se obter e fáceis de consultar, estão disponíveis em bancos de dados públicos. No entanto, por mais simples que sejam, têm causado todo tipo de dificuldade para integrantes do mercado financeiro. O que torna o processo tão difícil? Se você não conhece a entidade com a qual está negociando, é impossível usar o identificador correto.Vemos isso como um desafio comum entre as empresas. Em relação a MiFID II, por exemplo, empresas de buy-side e sell-side possuem obrigações de relatórios exigindo que sejam capazes de identificar uma contraparte pelo seu LEI, mas se você nunca se deu ao trabalho de organizar uma lista limpa e correta de suas contrapartes, como poderá encontrar e relatar os identificadores corretos? Para empresas do buy-side, isso se tornou um ponto crítico, já que historicamente não se concentraram em identificar especificamente quais subsidiárias comerciais ou afiliadas de suas instituições financeiras negociam, compensam e liquidam cada tipo de produto financeiro. O resultado é que não há como determinar o LEI para fins de relatório e, portanto, não há como cumprir totalmente os requisitos da MiFID II. Da mesma forma, instituições financeiras são obrigadas a entrar em contato com milhares de seus clientes para coletar documentações ou homologações regulatórias em conjuntura com a evolução das regulamentações Sem os dados limpos mais básicos, em especial uma lista de clientes atualizada, é impossível automatizar processos ou fluxos de trabalho. Muito tempo e dinheiro são gastos corrigindo os problemas de uma empresa com dados básicos. Para evitar preocupações operacionais futuras, as empresas devem focar na qualidade e amplitude de dados desde o início e, naturalmente,na integridade de dados ao longo do ciclo de vida da negociação.
R&C: Em sua opinião, quais áreas precisam ser melhoradas para que as empresas resolvam seus problemas atuais com dados?
Roitman: Em um mundo ideal, profissionais nos departamentos de negociação, jurídico, compliance e operações trabalharão juntos para construir processos inteligentes, de modo que as informações corretas sejam coletadas desde o início de qualquer relacionamento comercial. Para empresas maduras, agora é a hora de se concentrar nos dados. A evolução das regulamentações apenas exigirá que as empresas saibam mais e acessem o que sabem mais rapidamente. A quantidade de dados que as empresas coletam, usam, abrigam e projetam simplesmente continuará aumentando, e a única maneira de lidar com essas demandas cada vez maiores será trabalhar em processos inteligentes de automação. Portanto, dedique desde já o tempo necessário para pensar cuidadosamente sobre seus dados. Trabalhe para se certificar de que estão limpos e completos e depois pense em integridade – como vai protegê-los, compartilhá-los e mantê-los atualizados?
Lanois: Para resolver problemas com dados, as organizações terão que consertar a escassez de know-how. Existem apenas alguns profissionais de análise altamente qualificados. Então, há uma enorme necessidade de atualizar sistemas defasados para resolver o problema dos silos de dados. Por fim, organizações geralmente armazenam muitos dados sem saber o que realmente possuem. Muitos dos dados estão espalhados, em bancos de dados antigos localizados nas instalações, armazenados em serviços de compartilhamento baseados em nuvem, plataformas de Big Data e assim por diante. Muitos dados também não são categorizados e podem ser redundantes, obsoletos ou triviais.
R&C: Que benefícios as empresaspodem obter com melhores dados?
Lanois: Ter melhores dados não significa ter mais dados; em vez disso, significa possuir dados que passaram por validação. Quando uma empresa é capaz de tomar decisões com base em dados cuja qualidade foi validada, fica mais fácil tomar decisões estratégicas mais eficientes, de maneira mais confiável e sem necessidade de retrabalho, enquanto dados não confiáveis resultam em decisões que muitas vezes podem levar a erros e a necessidade de gastar mais tempo para reconciliar dados. Além disso, dificuldades em compreender o desempenho e as tendências atuais podem dificultar a capacidade da organização de identificar e explorar novas oportunidades. Em muitos casos, se concentrar na quantidade de dados pode ser contraproducente.
Hotz: Melhores dados significam melhor infraestrutura para fazer escolhas mais informadas e justificáveis. Com dados melhores, você obtém mais confiança no processo, melhores benchmarks representando a intenção dos gestores de portfólio (PMs) e fundos de forma mais favorável, e pode alinhar as metas dos PMs e traders. Isso oferece uma estrutura melhor para discutir e relatar os custos do fundo, bem como gerenciar processos para reduzir derrapagem e, consequentemente, melhorar o alfa.
As questões a serem prevenidas estão introduzindo muita complexidade, com benchmarks reservados demais para serem comparáveis entre fundos e clientes. Dados melhores e mais abrangentes permitem verificações de fiscalização comercial muito melhores, aproveitando testes muito mais granulares. Ao contrário dos instintos iniciais, verificações mais granulares, se executadas dentro de um processo repetível e baseado no fluxo de trabalho, levam a menos falsos positivos. Algo a evitar é a realização de testes complicados demais para serem explicados ou repetidos. Dados coletados de maneira sistemática por meio de processos de execução e compliance permitem avaliar e evoluir ainda mais tais processos. Uma “cultura de dados” dentro da melhor execução e compliance permite muito mais do que apenas capturar alfa de forma mais significativa e melhor gestão de risco na vigilância de negociação – também estabelece os alicerces para preparar sua organização para o futuro e competir melhor em um mundo onde os dados são cada vez mais o principal commodity.
R&C: Como você encara a evolução do cenário de dados nos próximos anos? As empresas precisam agir agora para garantir que seus processos permaneçam relevantes em um mundo de negócios orientado por dados?
Tirello: Haverá uma demanda maior por qualidade e precisão de dados, que impulsionará iniciativas maiores. O uso de inteligência de máquina orientada por dados permite que tendências e agentes ruins sejam identificados quando não foram anteriormente. As empresas poderão procurar tendências em partes isoladas dos negócios, que normalmente eram mantidas separadamente. Com os relatórios de transação já em andamento na Europa e a trilha de auditoria consolidada (CAT) sendo lançada em breve nos EUA, as empresas devem ter certeza de que compreendem seus fluxos de trabalho de negócios e que eles estejam exibidos adequadamente em seus livros e registros. Caso não dediquem o tempo necessário para análise, as ferramentas em constante evolução à disposição dos reguladores, além da aplicação de multas, podem não apenas prejudicar a reputação de uma empresa, mas possivelmente levá-la à falência. Contratar um fornecedor líder na área para gerenciar e armazenar os dados da sua empresa é uma opção que permite aproveitar a perícia de várias empresas em auditoria e práticas recomendadas, onde normalmente não teriam tal exposição.
Lanois: O fato de que hoje em dia geramos mais dados do que nunca provavelmente continuará nos próximos anos, à medida que nos tornamos uma sociedade ainda mais orientada por dados. Fluxos de dados serão cada vez mais combinados, em vez de ficarem isolados, o que significa que sistemas defasados deverão ser atualizados ou substituídos para permitir mais comunicações entre sistemas, seja por meio de APIs ou aplicativos. Algoritmos inteligentes e novas tecnologias permitirão mais automação, menos interação humana e um melhor entendimento dos dados.
A evolução das mulheres no setor de compliance e áreas para melhoria
R&C: Poderia descrever os principais desenvolvimentos nos últimos anos que moldaram o papel das mulheres dentro da esfera de compliance corporativo?
Roitman: A tecnologia tornou mais fácil concluir tarefas discretas de risco e conformidade, o que, por sua vez, aumentou a flexibilidade em relação às funções de risco e compliance. Embora essa flexibilidade possa ter atraído mais mulheres para o setor de compliance inicialmente, a explosão da regulamentação as manteve lá. Esta avalanche de novas regulamentações resultou em cargos de risco e compliance mais sofisticados, recompensadores e comercialmente desafiadores, que atraem um conjunto diversificado de candidatos. Reguladores também ajudaram a fazer a diferença, colocando em foco a necessidade de criar uma cultura de compliance. A popularização de uma cultura de ‘liderança por exemplo’ significou que, em muitas empresas, a área de compliance foi transferida dos departamentos jurídicos e operacionais para cargos recém-criados, reportando diretamente aos fundadores e conselhos. Esta mudança criou novos cargos sênior, bem como oportunidades para as mulheres se destacarem como líderes com voz na cultura ética de uma organização. Creio que as empresas estão começando a ver o benefício de ter um conjunto mais diversificado de tomadores de decisão, especialmente dentro dos departamentos de compliance.
Allen: Desenvolvimentos recentes que encorajaram as mulheres a entrar no campo de compliance incluem a expansão dos conjuntos de habilidades para além do jurídico, abrangendo profissionais com experiência em políticas regulatórias e públicas, a pressão sobre as empresas para para contratar mais profissionais mulheres, especialmente no C-suite, e pesquisas indicando que as mulheres vêem o risco de maneira diferente do que os homens. De acordo com uma pesquisa da Catalyst e do Credit Suisse, as mulheres abordam o risco com uma perspectiva mais holística e multidimensional. Por exemplo, um conjunto versátil de habilidades, pensamento ágil e profunda compreensão da identificação e uso de métricas são qualidades essenciais para líderes de compliance de hoje. De acordo com a pesquisa, as mulheres geralmente possuem forte capacidade de fornecer liderança de pensamento em torno do que os dados dizem sobre o risco e, sobretudo, fornecer desafios confiáveis para as partes interessadas em todos os níveis, de forma que possam, então, agir.
Scherm: Em nossa organização de compliance, homens e mulheres são igualmente representados, tanto em cargos de gestão quanto no grupo de especialistas em compliance. Como compliance é um tema comparativamente novo, aspectos de diversidade foram considerados desde o início, e hoje a diversidade de gênero não é um problema para nós.
R&C: Que desafios do dia a dia as mulheres enfrentam no setor de compliance?
Allen: De acordo com Joyce Brocaglia, diretora executiva da Alta Associates, existem 10 cargos relacionados à compliance para cada executivo experiente com formação na área nos EUA. Apesar do grande número de profissionais, o setor permanece exigente devido ao ambiente regulatório em mutação, o reconhecimento de empresas fora dos serviços financeiros de que precisam de funcionários de compliance e à necessidade das quatro maiores empresas contábeis preencherem essa lacuna. O papel de um chief compliance officer (CCO) é multifacetado. Um CCO deve cumprir e negociar com reguladores, trabalhar em estreita colaboração com os departamentos jurídico, de TI e de negócios para garantir que a empresa esteja em conformidade, relatar quaisquer exceções ao conselho de administração, e compreender as empresas o suficiente para aplicar ações regulatórias adequadas. Este profissional deve possuir alta integridade e respeito dentro e fora da organização. Todos esses fatores tornam o cargo desafiador — para homens e mulheres.
Scherm: Nenhum funcionário que pensa em pagar subornos ou discutir detalhes confidenciais está se perguntando se o oficial responsável por compliance é do sexo masculino ou feminino. Em nossa divisão, temos exatamente os mesmos problemas, independente do gênero. Colaboração é fundamental para resolver esses problemas, especialmente ao consultar especialistas de diferentes aspectos de compliance, como departamentos de privacidade de dados ou antimonopólio, por exemplo. Em relação a casos de conformidade regulatória, na Europa e em grande parte do mundo, é absolutamente normal colaborar com funcionárias do sexo feminino. Mas ainda há regiões onde tenho um acordo com um colega do sexo masculino: se algo grave acontecer e precisarmos de um forte “tom de liderança” no local, ele viajará para lá a fim de garantir que sejamos ouvidos por todos os funcionários.
Khamis: Como uma grande porcentagem de nossos colegas é do sexo masculino, precisamos adaptar ao nosso ambiente para causar impacto, ao invés de atuar como uma pessoa que aceita rejeição e potencial intimidação, e enxergar além de segundas intenções e dados ofuscados. Entretanto, temos que manter o foco nas necessidades da empresa. Estes são apenas alguns dos momentos que testaram minha resiliência e ímpeto.
Roitman: Os desafios que as mulheres enfrentam em compliance são os mesmos de qualquer outro setor. Mulheres, em particular, precisam falar com convicção e ser confiantes, além de inteligentes. Sem estas características, é impossível desempenhar um papel significativo na identificação e mitigação de riscos para uma organização. Há uma percepção comum de que as mulheres nem sempre adotam posturas confiantes; no entanto, isso está mudando. Ver mais mulheres em cargos de governança corporativa continuará ajudando a mudar essa concepção. Há também a necessidade de sermos vistas como profissionais confiáveis e valorizadas, para que a gerência sênior nos ouça. Isso leva tempo e, infelizmente, muitas mulheres abandonam o mercado de trabalho antes de chegarem aos níveis mais altos. Precisamos trabalhar para mudar esse paradigma.
R&C: Que conselhos você ofereceria às mulheres buscando estabelecer uma carreira em compliance?
Khamis: Eu diria às mulheres que buscam uma carreira em compliance que, ao precisar de ajuda, encontrem alguém que ofereça conselhos sólidos. Nem sempre é fácil encontrar a pessoa certa para responder suas perguntas, mas é aconselhável buscar isso durante toda a sua carreira e construir relacionamentos fortes. Além disso, pessoas diferentes trazem diferentes perspectivas, então recomendo procurar mentes abertas a novas ideias e com pontos de vista diferentes, para evitar o “pensamento de grupo”. Estabelecer um ambiente de trabalho aberto, com colegas que acolhem a mudança de cenário e reconhecem pontos cegos é o caminho certo para que você e a empresa possam progredir. Continue aprendendo. Este campo está evoluindo e mudando, por isso é importante estar conectada a grupos do setor e colegas de outras empresas. Se esforce para ser relevante e participar ativamente da mesa.
Roitman: Em primeiro lugar, tenha seu conhecimento afiado. Homem ou mulher, simplesmente não há atalho para a competência. Você deve conhecer as regras e regulamentos, além do negócio subjacente. Profissionais de risco e compliance não estão lá para dizer não, mas, acima de tudo, para ajudar a desenvolver soluções comerciais que impulsionem negócios e, ao mesmo tempo, reduzam riscos. Especificamente, ofereço três conselhos. Primeiramente, concentre-se no seu conhecimento comercial e nunca pare de aprender. Você não pode proteger uma atividade de negócio se não a compreender. Em segundo lugar, faça muitas perguntas. A única pergunta idiota é aquela que não foi feita. Em terceiro lugar, lembre-se de que seu trabalho como oficial de compliance não é dizer não. Sua função é compreender as regras e regulamentos e ajudar a identificar e avaliar riscos e, quando possível, encontrar soluções comerciais para problemas difíceis.
Scherm: Meu conselho para todas as jovens que procuram oportunidades de carreira é: sejam autênticas. Vemos áreas em que especialização profunda é importante e, as vezes, é difícil encontrar mulheres qualificadas. Mas, em compliance, todos nós temos diferentes origens – de compra e venda à administração de empresas e qualidade. Com esta variedade, temos uma grande e ampla fonte de talento. Diversidade de experiência é o que faz uma boa organização de compliance – além de, claro, expertise. Além disso, em quase todos os casos que vi desde que me tornei oficial de compliance, o infrator era do sexo masculino. Temos pouquíssimos exemplos de casos de compliance praticados por mulheres, pois acredita-se que as mulheres tendem a seguir sua bússola ética interna, o que é especialmente importante em um ambiente fraco.
Allen: Não apenas há um número crescente de empregos no setor de compliance, mas os cargos são recompensadores e geralmente pagam bem. Você trabalha para manter a organização do lado certo de ações jurídicas e conformidade regulatória, na maioria das vezes com resultados que ajudam consumidores, funcionários, sociedades e países. De uma certa perspectiva, é realmente uma posição patriótica. Também acho que há uma ampla oportunidade para as mulheres progredirem em sua organização a partir de cargos de compliance, especialmente se também possuírem experiência em operações. Um histórico em compliance pode fornecer uma boa trajetória de carreira para cargos de direção executiva.
R&C: Quão importante é para as mulheres que atuam na área desenvolver uma “marca” pessoal como especialista em compliance?
Scherm: Uma marca pessoal é muito importante na área de compliance, assim como em outros negócios. Quero ser vista como uma pessoa altamente qualificada e experiente e não apenas como uma mulher simbólica. Além das qualificações, minhas qualidades femininas, como empatia, uma abordagem holística e perspectiva única, ajudaram muito a construir minha marca. Eu realmente acredito que equipes se beneficiam de todos os tipos de diversidade. Isso automaticamente traz diferentes opiniões e mais soluções.
Allen: Eu pessoalmente acredito que todo executivo sênior precisa criar sua própria ‘marca’. Nenhum cargo é para sempre, e nem o envolvimento com nenhuma empresa. Ser conhecida como uma profissional de compliance provavelmente levará a outras oportunidades de carreira em outras organizações. Alguns exemplos do que você pode fazer para construir sua marca incluem ministrar palestras em conferências, fazer apresentações ao conselho, se voluntariar para trabalhar com uma variedade de equipes internamente, contribuir com artigos para publicações de negócios e continuar aprendendo e atualizando certificações em compliance e gestão de riscos.
R&C: Que medidas as empresas podem adotar para realmente celebrar a diversidade e criar um ecossistema de sucesso? Há uma necessidade urgente de atrair, recrutar e reter ativamente profissionais do sexo feminino?
Allen: Definitivamente, é essencial que devem fazer parte de equipes de gestão de riscos corporativos (ERM) e participar ativamente de discussões sobre políticas de tolerância e gestão de risco. Devido à escassez de profissionais qualificados e experientes nessa área, é ainda mais importante que as empresas atraiam e retenham mulheres.
Scherm: Hoje, parte crucial do apoio à diversidade é oferecer treinamento sobre preconceito inconsciente para que possamos ter mais sucesso em equipes mais fortes e mistas. Devemos mudar a pergunta “O que a empresa pode fazer para apoiar a diversidade?” para “Qual é o valor agregado nesta área específica e como a diversidade pode contribuir para o sucesso da nossa empresa?” A resolução de problemas se torna muito mais fácil quando vários pontos de vista são trazidos à mesa, com base em diferentes experiências, opiniões e origens. Portanto, a questão não é apenas sobre ser homem ou mulher, mas também sobre a diversidade de faixas etárias e origens culturais, e assim por diante. Neste contexto, devemos também pensar em tomar decisões ousadas no processo de recrutamento. Por exemplo, um recém-graduado inteligente pode ser uma escolha melhor do que um especialista que não pensa fora da caixa. Preconceito inconsciente pode forçar o princípio da similaridade e só podemos superar isso quando a diversidade de gênero é implementada.
R&C: Que papel os homens podem desempenhar para ajudar a promover a causa das mulheres na área de compliance?
Khamis: Colegas do sexo masculino podem ajudar estando abertos à diversidade e entendendo seus pontos cegos. Homens também devem se esforçar para acolher a flexibilidade e se afastar do pensamento da “velha guarda”.
Roitman: Nossos colegas do sexo masculino precisam apreciar a diversidade no local de trabalho e resistir a estereótipos que impeçam as mulheres de terem uma voz forte. Além disso, devem ser defensores da mudança.
Scherm: A mudança de mentalidade é a base para direcionar a candidatura de mulheres a cargos de gestão. Precisamos que colegas do sexo masculino promovam ativamente a diversidade nas funções, assim como um forte planejamento de sucessão incluindo ativamente candidatos do sexo feminino. Nossos processos têm a sensibilidade apropriada, mas em algumas áreas ainda há espaço para melhorias quando se trata de implementação. Por exemplo: em nosso departamento de tecnologia, havia uma posição de gerência para ser preenchida. O responsável esperava que as funcionárias também se candidatassem. Em conversas entre elas, as mulheres chegaram à conclusão de que esperavam que ele as abordasse, supondo que já houvesse candidatos considerados para o cargo. Como resultado, nenhuma das mulheres quis se impor.
Allen: Em todas as organizações, os homens podem ser, e geralmente são, padrinhos de mulheres que estão progredindo. Homens são mentores. São executivos que podem levar talentos com eles, à medida que prosperam em suas carreiras. São membros de conselhos e podem apoiar a diversidade de forma proativa, trazendo as mulheres para conselhos e diretorias executivas como exemplos. Homens podem formar equipes e exigir que haja um número significativo de mulheres nelas. Todas essas ações podem ajudar as mulheres nessa área.
R&C: Como você vê a influência das mulheres na área de compliance evoluindo nos próximos anos? Que ações as principais profissionais de compliance podem tomar para ajudar gerações atuais e futuras de mulheres nesse âmbito?
Keller: O papel das mulheres em compliance não é tão diferente do que já exercem em qualquer corporação. Trabalho duro, perseverança, bons gestores e um pouco de sorte podem impulsionar as mulheres para os cargos mais altos de uma empresa. Individualmente, somos responsáveis por nossas carreiras, determinando quando ficar e quando sair. Ao contrário de muitas áreas em finanças, a maior parte das mulheres encontrou cargos igualitários no setor de compliance. É importante manter a honestidade, aprender, não esperar, estudar regras e execução, observar e ver o que outros profissionais estão fazendo e fazer perguntas. E, acima de tudo, entrar em contato com seus colegas e compartilhar.
Scherm: As gerentes femininas mais influentes devem ser exemplos, compartilhando seus conhecimentos e promovendo como a diversidade de gênero ajuda a otimizar o trabalho em equipe no dia a dia empresarial. E devem fazer um bom networking. Trata-se de conectar jovens profissionais talentosas com colegas influentes do sexo masculino, promovendo interações pessoais e oferecendo a oportunidade de entender os pontos fortes, tendências e limitações um do outro. Um mentor pode desempenhar um papel especialmente importante de orientação e agir como um parceiro de treino. Também é benéfico se manter flexível em termos de horário de trabalho quando se tem filhos pequenos. Mas geralmente somos bem organizadas, então é mais sobre visibilidade, a chance de se provar, acesso à informação e mentoring de alta qualidade.
Khamis: As profissionais de compliance devem liderar, desenvolver pontos fortes, ser corajosas e se conectar com outros profissionais. O resto se encaixará naturalmente.
Allen: Mulheres tendem a ser mais colegiais. Elas sabem ouvir melhor. Levam em consideração as várias partes interessadas, não apenas os acionistas. E são fantásticas na gestão de risco e compliance. Tratam reguladores com respeito e entendem os papéis que as pessoas desempenham.
Roitman: As mulheres precisam ser sinceras e diretas, e fazer parte da mudança. Os melhores líderes lideram pelo exemplo e, em cargos de compliance, risco e controle, isso significa ser uma profissional que entende de riscos, resolve problemas comercialmente e tem a capacidade de liderar com uma forte bússola moral para que empresas tomem decisões éticas (Bloomberg, 8/11/18)