05/07/2023

Queda de preço de soja e milho aperta margens e pode limitar safra 23/24

Queda de preço de soja e milho aperta margens e pode limitar safra 23/24

SOJA E MILHO  REUTERS Inae Riveras.jpg

Os gastos com os insumos agrícolas indicam que as contas dos agricultores podem ficar até negativas, com as quedas das cotações das commodities

 

O produtor brasileiro, que surfou em preços altos da soja e do milho em safras recentes, terá um cenário mais desafiador na temporada 2023/24 que se inicia, com margens apertadas ameaçando reduzir lavouras daqueles “aventureiros” que não têm os custos na ponta do lápis e dos que cultivam grãos apenas nos momentos de maior rentabilidade.

 

 

Os gastos com os insumos agrícolas indicam que as contas dos agricultores podem ficar até negativas, considerando que as cotações das commodities caíram mais do que os custos de produção, disseram especialistas do Imea e Cepea nesta terça-feira (4).

 

Esse cenário para o Brasil, maior produtor e exportador de soja, e também líder na exportação global de milho, indica que algumas áreas marginais de produção (de maior custo e risco) poderão não ser semeadas na nova safra, cujo plantio começa em meados de setembro.

 

Na tentativa de reduzir custos, agricultores também poderão mudar para um pacote de insumos agrícolas mais em conta e repensar alguns investimentos, disseram especialistas em entrevista coletiva promovida pelas associações de produtores Aprosoja Brasil e Abramilho.

 

Apesar do horizonte difícil, o pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) Mauro Osaki não acredita em reduções de área plantada, mas não descarta que isso ocorra em regiões onde é mais arriscado plantar ou da parte de quem não tem a soja como atividade principal.

 

 

“O produtor tem uma capacidade nominal estática de produção, máquinas… tem todos os seus planos. Seria a última opção dele fazer essa redução (de área)… Talvez diminua a atividade de maior risco, ele vai trabalhar na atividade de menos risco”, disse Osaki, ao ser questionado após apresentar dados que mostram previsão de receita da soja menor que o custo total para 2023/24.

 

Considerando preços de insumos de janeiro a maio e um preço futuro da soja para março de 2024 a 13 dólares por bushel, a receita da oleaginosa cairia para R$ 5.693 por hectare, 25% abaixo do visto na safra anterior. Já a rentabilidade em Sorriso (MT), maior município produtor de soja do Brasil, poderia ser negativa, considerando a receita líquida total.

 

Essas margens mais apertadas vão tirar “os aventureiros” da produção de soja, segundo Osaki. “Esses caras vão sair… o pessoal que estava deixando de plantar cana e colocando soja na rotação, estas áreas de oportunidades tendem a diminuir… Aqueles que não são especialista na área de grãos vão sair. Vamos agora separar as crianças dos homens, vai ser o jogo da verdade”, disse.

 

Ele destacou que os preços da soja entre janeiro e maio deste ano, em relação ao mesmo período de 2022, tiveram queda de 21,9% em Sorriso, enquanto recuaram 18,7% na média das principais regiões produtores. Já o custo total de produção caiu 16% no importante polo de Mato Grosso e 12% no país.

 

Entre os insumos mais importantes, os fertilizantes tiveram queda expressivas de 37,4% para a safra 2023/34, mas as sementes saltaram mais de 25%, enquanto os defensivos ficaram praticamente estáveis.

 

 

Na ponta do lápis

Para o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer, “a safra começa com desafio muito grande”.

 

“Está posto, e o produtor precisa se estruturar cada vez mais. Nos últimos três anos, tivemos crescente lucratividade no setor, os produtores se alavancaram demais, é momento de repensar toda a estrutura para evitar de correr risco… para evitar ser expulso da atividade”, disse ele.

 

Gauer comentou o “cenário ruim para a soja”, mas “muito pior para o milho”.

 

“O desafio para a próxima temporada é de ele fazer contas, ter estrutura na ponta do lápis, é o momento que ele não pode errar… ou traz o custo para baixo, tenta reduzir investimento… deixa de cultivar as áreas mais marginais…”, afirmou ele.

 

O superintendente do Imea apresentou dados que mostram que os preços do milho já estão abaixo do mínimo de garantia do governo, após caírem pela metade, de cerca de R$ 70 a saca em meados do ano passado para de R$ 35 a saca.

 

Ele lembrou que o anúncio do governo federal para realizar compras para recompor estoques públicos vem em bom momento, mas os recursos necessários para equilibrar a situação em Mato Grosso, maior produtor nacional, seriam muito maiores.

 

Ele estimou em aproximadamente R$ 1 bilhão o montante para realizar programas como PEP e Pepro, que subsidiam o escoamento de grãos, como aconteceu no passado.

 

 

Com a queda no preço do milho, o especialista do Cepea disse que o produtor do cereal fechou com prejuízo a safra 2022/23, após a colheita recorde no Brasil, que pressionou as cotações.

O Mato Grosso, por exemplo, deve colher mais de 50 milhões de toneladas de milho pela primeira vez na história.

 

Presente no evento, o presidente da Aprosoja Brasil, Antônio Galvan, disse que a “grande preocupação para a próxima safra é o custo de produção”, associado ao déficit de armazenagem agravado pela grande colheita.

 

“Tivemos momentos bons lá atrás, mas se levar em conta o custo, e a safra que está sendo colhida, fica mais dolorosa essa conta. O preço do fertilizante caiu, mas na proporção do produto (preço da soja ou milho) caiu muito menos” (Forbes, 4/7/23)