01/06/2020

Racha sobre apoio a ministro: Marcas reclamam e saem de associações

Ricardo Salles e a missão de implodir o ministério do Meio Ambiente

Instatisfação abrange setor de turismo e indústria de carne e de cosméticos.

Porteira 

A guerra de anúncios deflagrada após a fala de Ricardo Salles, no vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, deu dor de cabeça às associações empresariais que assinaram o manifesto em apoio ao ministro do Meio Ambiente. Algumas das entidades, que vivem de contribuições de empresas associadas, receberam reclamações e até pedidos de desfiliação de membros que não quiseram ter suas marcas associadas à declaração de que a pandemia é o momento de passar a boiada.

 

Tchau

Ao menos duas empresas da ADIT (associação para desenvolvimento imobiliário e turístico) decidiram deixar a entidade. Na quarta-feira (27), o resort Beach Park comunicou a entidade sobre sua saída e foi seguido pela rede de hotéis Bourbon na quinta (28).

Corrente

Em nota, a ADIT afirma que o manifesto endossado por ela não defende da destruição da Amazônia. A entidade diz que “condena a burocratização que se utiliza de uma falsa bandeira ecológica para o travamento das atividades econômicas no país”.

Floresta em pé

Na Abrafrigo (que reúne frigoríficos), a Marfrig anunciou na quarta-feira (27) que não foi consultada sobre o manifesto em apoio ao ministro. A empresa diz que há mais dez anos está comprometida com o combate ao desmatamento.

Consenso

A Abihpec (indústria de cosméticos) desembarcou do manifesto na quarta (27), depois de ter sido cobrada por companhias como Grupo Boticário, Natura e L’Occitane. A entidade afirma que seu conselho aprovou a retirada de forma unânime.

Faro

Após a divulgação do anúncio, as ONGs Greenpeace Brasil, ClimaInfo e Observatório do Clima perguntaram às empresas, nas redes sociais, se elas tinham sido informadas sobre o manifesto. Délcio Rodrigues, diretor-executivo da ClimaInfo, disse que o número de assinaturas chamou a atenção das ONGs (Painel S.A., Folha de S.Paulo, 31/5/20)


Nem o agronegócio aprovou a "baciada" do Salles!

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Legenda: Bolsonaro e Salles em entrevista coletiva, agosto de 2019 (Créditos: Marcos Corrêa/PR)

Declaração pegou mal para o setor...

 

Durante a fatídica reunião ministerial do dia 22/IV, cujo conteúdo foi revelado recentemente por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles afirmou que o Governo Federal deveria aproveitar o atual momento, em que a atenção da mídia está voltada à cobertura da pandemia de coronavírus, para publicar, de forma massiva, medidas que facilitariam a devastação de áreas protegidas.

"A oportunidade que nós temos, porque a imprensa tá nos dando um pouco de alívio nos outros temas, é passar as reformas infralegais de desregulamentação, simplificação, todas as reformas (...) Precisa ter um esforço nosso, aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só falam de covid, e ir passando a boiada, mudando todo o regramento, simplificando normas do IPHAN, do Ministério da Agricultura, do Ministério do Meio Ambiente", disse o ministro.

E completou: "agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação do regulatório que nós precisamos".

A declaração de Salles, entretanto, não caiu bem justamente naquele campo que deveria ser o maior beneficiado pela "baciada": o agronegócio.

Em entrevista à repórter Giovana Girardi, do Estadão, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Marcello Brito, condenou as falas do ministro durante a reunião.

"Não precisa passar coisas de 'baciada'. Pegou mal. Pega mal pro agro. E veja bem. Não era a ministra da Agricultura que estava falando, era o ministro do Meio Ambiente. Tem um processo meio maluco nisso aí", disse Brito.

"A questão de desburocratização é a pauta há trinta anos. Tem trinta anos que a gente discute que precisa desburocratizar e tudo mais. Agora, é daquela forma? Não é daquela forma...", concluiu (Conversa Afiada, 30/5/20)