Raízen amplia venda de ativos e já vê interesse por refinaria na Argentina

Desinvestimento em usinas pode render à companhia até R$ 7 bilhões, dizem analistas. Foto Claudio Coradini Estadão
O BTG Pactual recebeu mandato para conduzir negócio no país vizinho, segundo fontes.
A Raízen, braço de energia renovável do Grupo Cosan em parceria com a Shell, está ampliando o escopo de ativos à venda e já tem interessados para sua operação na Argentina. O movimento responde a uma pressão em seu caixa, diante de um endividamento elevado da companhia, que hoje é um dos maiores problema do Grupo Cosan. De acordo com fontes, a previsão é que a companhia levará dois anos para colocar a casa em ordem.
A Coluna apurou que a multinacional de commodities Trafigura, de Cingapura e com unidade em Montevidéu, e a anglo-suíça Glencore, que além de mineração também atua no segmento de commodities, estão entre as que avaliam a refinaria argentina da Raízen neste momento.
O BTG Pactual recebeu mandato para conduzir a venda, de acordo com fontes. Procurados, Trafigura, Glencore e BTG Pactual não comentaram.
Processo pode envolver mais vendas de usinas
A estratégia de desinvestimento não é uma novidade, a não ser pelo fato de que aponta para venda de um número maior de alguns ativos que estão no centro de seu negócio: as usinas de açúcar e álcool.
A visão de analistas do mercado que acompanham a empresa, ouvidos pela reportagem, é de que o desinvestimento nestas usinas pode render à companhia até R$ 7 bilhões e, somadas as operações da Raízen na Argentina, chegar a R$ 15 bilhões, suficientes para equalizar a atual alavancagem da companhia.
Além da refinaria, a Raízen opera na Argentina uma rede de mais de mil postos de combustível, uma planta de lubrificantes, três terminais terrestres, duas bases de abastecimento em aeroportos e ativos de GLP (gás liquefeito de petróleo). A Raízen adquiriu os negócios no país da Shell em 2018. Na época, a refinaria, segunda maior da Argentina, foi avaliada em US$ 1 bilhão.
Volume de desinvestimentos deve ser substancial
O CEO da Cosan, Marcelo Martins, disse nesta semana que será preciso considerar um volume de desinvestimentos substancial na Raízen e, eventualmente, redução de sua capacidade de moagem. Desde o ano passado, quando a Cosan sinalizou a necessidade de melhorar sua estrutura de capital, várias alternativas foram estudadas para a Raízen.
Entre elas, um aumento de capital para entrada de um parceiro, mas com participação da própria Cosan, para evitar uma diluição expressiva de sua posição acionária na Raízen. No entanto, com a pressão de baixa no preço das ações da empresa e o apetite de investidores de bolsa prejudicado pelos juros elevados, essa é agora uma proposta considerada como de último caso.
Na visão de analistas, as vendas de mais usinas sucroalcooleiras e da operação da Argentina são, combinadas, as alternativas mais adequadas para solucionar a questão de alavancagem da Raízen. A leitura é que a empresa já fez o que era possível no que se trata de negociação e alongamento de passivos, mas, sem vender operações relevantes, a conta não fecha.
A alavancagem da Raízen, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda (resultado operacional) ajustado dos últimos 12 meses, subiu de 1,3 vez no quarto trimestre de 2023/24 para 3,2 vezes em igual período de 2024/25. A dívida líquida encerrou o trimestre em R$ 34,26 bilhões, o que representa um aumento de 78,9% em relação ao ano anterior.
O responsável pelas análises de ações das áreas de óleo e gás, petroquímicos e agronegócio do Citi, Gabriel Barra, avalia que, caso a companhia opte por vender mais usinas, a depender de quais sejam as escolhas, é possível levantar de R$ 6,8 bilhões a R$ 7 bilhões, incluindo a usina de Leme, em Piracicaba (SP), cujo anúncio da venda foi feito este mês.
Fontes consultadas estimam ainda que, com a venda de ativos na Argentina, seria possível chegar a um valor próximo do que se estima suficiente para equilibrar o balanço da empresa, de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões.
Operação no país vizinho é considerada boa
Avalia-se ainda que a operação Argentina é um bom ativo. No entanto, na situação em que a companhia se encontra é preciso abrir mão de operações rentáveis para reduzir o endividamento da empresa. Para ele, a dívida da empresa é um ponto desconfortável para a tese de investimentos na companhia.
Este mês, a Raízen assinou com a Ferrari Agroindústria e a Agromen Sementes Agrícolas a venda da Usina de Leme, pelo valor aproximado de R$ 425 milhões. No ano passado, a companhia fechou acordo de venda de 31 projetos de usinas de geração solar distribuída (UFVs) ao Pátria por R$ 700 milhões.
A Atvos, controlada pela Mubadala Capital, também avalia a compra de usinas da Raízen em Mato Grosso do Sul, conforme informou a Bloomberg. A Raízen contratou o Itaú BBA para conduzir a venda como parte de uma estratégia para reduzir dívidas.
As usinas faziam parte da Biosev, adquirida anteriormente da Louis Dreyfus Company. A Atvos afirmou estar aberta a novas oportunidades, mas não deu detalhes (Estadão, 23/5/25)