Reabertura de frigoríficos eleva abates de bois em MT
Empurrados pela oportunidade aberta com a crise que atingiu a JBS e pelo ambiente setorial mais favorável, com maior oferta de gado bovino e rápida recuperação da demanda no Brasil e no exterior, os frigoríficos de Mato Grosso deflagraram um forte movimento de reabertura de unidades que, em pouco mais de um semestre, poderá ampliar a capacidade de abate no Estado em 25%.
O movimento, viabilizado por um programa de incentivos fiscais do governo estadual, animou os pecuaristas de Mato Grosso, que há anos se ressentiam do domínio da JBS. No auge, a companhia chegou a ter mais de 50% da capacidade de abates do Estado, que lidera a produção de carne bovina no país.
Na indústria, porém, não é consenso que essa expansão da capacidade seja positiva. Embora alguns empresários se entusiasmem com a chance de voltar a investir depois de anos de dificuldades, há também quem julgue a reação do mercado algo prematura. O temor é que a ociosidade do segmento, que gira em torno de 60% em tempos normais, fique ainda maior.
De fato, após ter reduzido drasticamente os abates no Brasil, a JBS vem normalizando as operações. Há duas semanas, o executivo-chefe da empresa, Gilberto Tomazoni, disse que o ritmo já está “próximo” do normal. Segundo fontes, os abates diários da companhia estariam oscilando entre 27 mil e 28 mil cabeças no Brasil, abaixo do nível de 30 mil do período anterior à Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março.
Mas a JBS ainda não está livre de riscos. Segundo a diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, o acordo feito pela empresa com os bancos no Brasil para rolar dívidas de curto prazo é hoje o principal risco – o acordo vencerá em julho.
Outra dúvida que paira no segmento envolve os contratempos da delação dos Batista. Quando Joesley e seu irmão Wesley foram presos, em setembro, o processo de retomada dos abates no país foi interrompido por algumas semanas.
Embora a JBS possa ter estimulado o movimento em Mato Grosso, a diretora da Agrifatto argumenta que, mesmo com a líder de mercado voltando aos eixos, as condições de oferta e demanda são amplamente favoráveis, o que sustenta as decisões de reabertura de unidades. O indicador de margem bruta (que mede a relação entre o preço da carcaça e o boi gordo) está em 3,2% em 2017, ante a média histórica de 5,5% negativos, conforme a Agrifatto.
A aposta dos frigoríficos é que, com a recuperação do mercado interno e o bom momento das exportações – que caminham para um novo um recorde em 2018 -, não vai sobrar carne no mercado, mesmo com o aumento da produção.
“Neste momento, o mercado está bastante favorável para a gente, com preços interessantes”, afirmou o empresário Luiz Antônio Martins, que preside o Sindicato das Indústrias de Frigoríficos do Estado de Mato Grosso (Sindifrigo). À frente do frigorífico Pantanal, Martins reabriu na última semana uma unidade em Várzea Grande, no centro-sul do Estado. De médio porte, o frigorífico do Pantanal pode abater 750 cabeças por dia.
Além do Pantanal, outros frigoríficos fiscalizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) retomaram as atividades em Mato Grosso neste ano. No segundo semestre, a Marfrig retomou duas plantas, em Nova Xavantina e Paranatinga, e a Minerva reabriu um abatedouro, em Mirassol D’Oeste. A eles se soma o Redentor, que neste ano adquiriu uma unidade em operação em Barra do Brugres e dobrou sua capacidade diária, passando para 400 cabeças de gado.
A onda de reabertura de unidades não para por aí. Empresas do segmento estão negociando o arrendamento de alguns frigoríficos que até este ano estavam arrendados para a JBS, mas fechados. São unidades que amplificam as críticas dos pecuaristas, para quem a empresa dos Batista arrendava frigoríficos para mantê-los fechados e monopolizar o mercado.
Entre essas unidades estão as de Nova Monte Verde, Pontes e Lacerda e Juruena. Procurada, a JBS informou que não tem mais unidades arrendadas no Estado. Hoje, a empresa tem 15 plantas próprias – 11 funcionando.
Neste ano, a Marfrig arrendou o frigorífico de Pontes e Lacerda, que pertence ao grupo Arantes, em recuperação judicial. A unidade ainda não foi reaberta, mas a empresa poderá fazê-lo no próximo ano, a depender das condições de mercado. A Marfrig também chegou a negociar a planta de Nova Monte Verde, mas a transação não prosperou.
O Frigol, quarto principal frigorífico do país, estaria negociando o arrendamento da planta de Juruena, da família Durli. Procurado, o Frigol não comentou.
Em Mato Grosso, também há grande expectativa sobre o frigorífico do Mataboi em Rondonópolis. De acordo com duas fontes, o paulista Frigoestrela negocia o arrendamento da planta, que também poderá ser reaberta em 2018.
Se todos esses frigoríficos forem mesmo reabertos, a capacidade de abate – considerando só as unidades com SIF – em Mato Grosso crescerá 25%, para 23,3 mil cabeças para 29,2 mil cabeças.
Na avaliação do secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Carlos Avalone Junior, a ação do governo foi fundamental para a retomada do setor. De acordo com ele, após um período de “monopólio grande”, vários frigoríficos ficaram com linhas de produção defasadas e, portanto, necessitavam de investimento na modernização do parque de máquinas para reabrir as plantas.
Para isso, o governo lançou mão do Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso (Prodeic), por meio do qual as empresas terão até 10 anos para pagar parte do ICMS que deverão. “Tem que ter incentivo fiscal do governo. Sem isso, ninguém reabriria”, afirmou Martins, presidente do Sindifrigo e dono do Pantanal (Assessoria de Comunicação, 19/12/17)