12/04/2018

Reabertura de frigoríficos reduz margens

Reabertura de frigoríficos reduz margens

A rápida expansão da capacidade de abate de bovinos do parque frigorífico nacional, viabilizada pela reabertura de abatedouros que estavam fechados há muitos anos, está reduzindo a rentabilidade dos frigoríficos.

Além disso, os preços baixos da carne de frango e da carne suína pressionam as cotações da carne bovina no mercado brasileiro, o que dificulta eventuais repasses de preços dos frigoríficos para recompor as margens, afirmou o analista da consultoria MB Agro, César Castro Alves.

Na exportação, a diferença entre o preço da carne bovina embarcada e o do boi gordo ficou em 4% na média dos primeiros três meses do ano, de acordo com levantamento da MB Agro. A média histórica do indicador calculado desde 1997 é de 21%. No ano passado, o indicador ficou em 11%.

No mercado doméstico, o preço da carcaça bovina representou 97% do preço do boi gordo no primeiro trimestre, também segundo a MB Agro. Normalmente, esse indicador de margem bruta é mesmo negativo porque os frigoríficos só entram no azul apenas depois de venderem os subprodutos como o couro e cortes de carne de maior valor agregado. Nesse sentido, a diferença negativa entre o preço da carne bovino e do boi não é uma novidade na indústria de carne.

O grande problema para as empresas é que o atual quadro é bastante diferente daquele que justificou o movimento de reabertura de frigoríficos. No ano passado, em meio ao encolhimento dos abates da JBS, a carcaça valia 101% do preço do boi.

“A animação com a expansão dos frigoríficos era fantasiosa”, avaliou um alto executivo de um dos maiores exportadores de carne bovina do país. A avaliação é que, mesmo que a oferta de boi tenha aumentado em razão do ciclo pecuário, a expansão de capacidade ficou além da conta.

Na Marfrig Global Foods, por exemplo, a reabertura de frigoríficos ampliou a capacidade de abates em 70%. Grupos menores como o frigorífico Frigol, do interior paulista, também expandiram os abates em mais de 50%.

A avaliação de um empresário do Centro-Oeste é que os frigoríficos concorrentes não esperavam uma reação da JBS, que restringiu expressivamente os abates no ano passado após a delação dos irmãos Batista. O problema, segundo esse empresário, é que a JBS não “morreu” e reagiu fortemente, voltando aos níveis de abates anteriores à Operação Carne Fraca – a investigação foi deflagrada em março de 2017.

Recentemente, a JBS e a Marfrig admitiram que a margem do negócio de carne bovina no Brasil está pressionada. “É de se esperar contração de margem na operação de bovinos no 1o trimestre”, afirmou em 28 de março, em teleconferência com analistas, o CEO da Marfrig, Martín Secco. Apesar disso, o executivo disse acreditar na recuperação das margens ao longo do ano. Segundo Secco, o primeiro trimestre é sazonalmente mais fraco.

Na JBS, porém, a percepção é que o cenário de margens pressionadas vai além do primeiro trimestre. “Ainda observamos um mercado com excesso de capacidade, o que vai ser desafio para recuperar as margens ao longo desse ano”, afirmou no mês passado, em teleconferência com analistas, o presidente do conselho de administração da JBS, Jerry O’Callaghan (Assessoria de Comunicação, 11/4/18)