Recusa de líder para Comunicações expõe vexame da reforma ministerial

Pedro Lucas Fernandes, líder do União Brasil na Câmara. Foto Marina Ramos Câmara dos Deputados
Por Roseann Kennedy
União Brasil ‘cozinhou’ governo por duas semanas e agora tem dificuldade de achar nome não bolsonarista para substituir Juscelino Filho.
Durante quase duas semanas, o líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas (MA), cozinhou o Planalto em banho-maria, sem dizer sim ou não ao convite para assumir o Ministério das Comunicações. Aproveitando um jargão famoso do presidente Lula, “nunca antes na história” se viu tamanho vexame.
Passado esse período, o deputado maranhense recusou nesta terça-feira, 22, o novo cargo e alegou ser mais útil ao governo ficando na liderança. O argumento evidenciou mais um constrangimento: a legenda tem dificuldades de entregar votos ao governo.
A maioria de seus integrantes na Câmara já prega internamente a ruptura com a atual gestão. Não à toa, 41 dos 59 deputados do União (quase 70%) assinaram a urgência do projeto de anistia para os condenados pelo 8 de janeiro.
Nos bastidores, quem segura as rédeas e mantém a sigla na Esplanada são o presidente do partido, Antonio Rueda, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Esses ainda querem indicar um nome do União para a vaga deixada por Juscelino Filho.
O ex-ministro renunciou ao cargo após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República, por suspeita de corrupção com uso de emendas parlamentares.
Como mostrou a Coluna do Estadão, o Planalto deixou claro que não aceitaria nome de nenhum deputado que tenha assinado a urgência do projeto de anistia dos condenados do 8 de janeiro. O critério virou uma dor de cabeça para a legenda.
Interlocutores governistas ressaltam que o clima é de desconforto e desconfiança. Em meio à celeuma da indicação do novo ministro das Comunicações, a base de Lula lembrou, por exemplo, a indigesta declaração do deputado José Nelto (União-GO). Ele apoiou a urgência da anistia e alegou que o governo não orientou.
“Em que mundo ele vive?”, reclamou um petista. Nelto já estava prestes a sair da vice-liderança do governo. Agora só falta a mudança ser formalizada, garantem.
Fato é que a reforma ministerial de Lula, que nunca ocorreu de fato e se limitou a pequenas mudanças com a própria turma do PT. E nem a vaga aberta após um ministro pedir demissão ajudou a destravar o nó do governo na sua base. O presidente não consegue ter fidelidade nem de partidos que garantiram seu quinhão na Esplanada.
O Planalto tampouco tem força para dar um basta e tirar espaço das siglas que estão com um pé dentro e outro fora do governo.
O União Brasil é um dos principais exemplos. Ocupa o Ministério do Turismo, quer manter a indicação das Comunicações e ainda tem cota de Davi Alcolumbre na Integração e Desenvolvimento Regional, com Waldez Góes, embora ele nem sequer seja filiado ao partido. Além disso, tem um pré-candidato presidencial correndo o Brasil em dura oposição contra Lula, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
Recusa fragiliza Gleisi na articulação política do governo
A recusa de Pedro Lucas para o ministério fragiliza a ministra Gleisi Hoffmann na articulação política. Ela assumiu a pasta das Relações Institucionais há pouco mais de um mês e comemorava vitórias. Agora levou a primeira rasteira. Foi Gleisi quem anunciou que Lula tinha aceitado a indicação do deputado (Estadão, 23/4/25)