10/05/2018

Redução de abates indica demanda fraca por carnes

Consumidor em açougue de supermercado na zona leste de SP

A demanda interna de carne está fraca. É o que mostram os dados de abates do IBGE (Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística), referentes ao primeiro trimestre deste ano e divulgados nesta quarta-feira (9).

Foram abatidos 7,5 milhões de bovinos de janeiro a março, 6,9% menos do que no último trimestre do ano passado. Quando comparado o peso das carcaças, a queda é ainda maior: de 10%.

Um dos sinais da demanda interna fraca é o comportamento dos preços, segundo José Vicente Ferraz, diretor técnico da Informa Economics. "Mesmo com a oferta menor de carne, o preço mantém uma tendência de queda."

As exportações estão em um patamar bom e já estavam computadas na conta do mercado quando programou o primeiro trimestre. A queda interna, porém, surpreende.

A carne suína, que normalmente rouba uma parcela da carne bovina —devido à relação de preços—, também teve oferta menor neste ano.

Os abates do primeiro trimestre deste ano caíram para 10,5 milhões de animais, 4,7% menos do que no último de 2017.

Ao contrário do que ocorreu como o boi, no caso do suíno houve interferência do mercado externo para a queda dos abates.

A Rússia, um dos principais mercados para os brasileiros, vinha ameaçando interromper as importações deste tipo de proteína do país desde o último trimestre do ano passado. Concretizaram a ameaça.

Parte dessa queda de produção de carne suína vem, portanto, de um ajuste do mercado após o fim das importações russas, segundo Ferraz.

A queda de renda fez os consumidores optarem pela carne mais barata, a de frango. Os abates aumentaram 2,6% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao último de 2017.

Os dados do primeiro trimestre, porém, já não refletem mais o cenário do segundo, segundo Ferraz. As condições se deterioram ainda mais, principalmente no caso do frango.

Além da demanda interna mais fraca, o mercado de aves encontrou barreiras externas à exportação, principalmente as da União Europeia.

O reflexo dessa queda de demanda interna e de exportações menores no setor de carnes é uma retração nos preços.

A queda afeta as margens do setor. No caso do boi, a retração de preços terá reflexo na intenção de confinamento dos pecuaristas, segundo o diretor técnico da Informa Economics (Folha de S.Paulo, 10/5/18)