01/09/2022

Reino Unido inaugura maior usina eólica marítima do mundo

Legenda: Fazenda eólica Hornsea 2 tem 165 turbinas com cerca de 200m de altura em relação ao nível do mar

Fazenda eólica Hornsea - BBC

A maior usina de energia eólica do mundo em alto mar entrou em operação plena no mar do Norte, a quase 90km da costa da Inglaterra, e pode dar um pequeno alívio para a grave crise energética que o país enfrenta.

O projeto batizado de Hornsea 2 pode gerar energia elétrica suficiente para abastecer cerca de 1,3 milhão de residências.

Uma década atrás, fontes de energia renovável representavam 11% de toda energia gerada no Reino Unido. Em 2021, a energia renovável já era 40% do total, com a maior parte sendo eólica.

Mas o Reino Unido ainda é muito dependente de importações de gás natural, cujo preço no mercado internacional explodiu com a guerra na Ucrânia. Por isso, no inverno deste ano, o preço do gás e da eletricidade para as famílias será três vezes maior do que foi no inverno anterior.

O megaprojeto eólico, no entanto, não começou agora. Ele faz parte de uma fazenda eólica gigante em desenvolvimento pela empresa energética Orsted e levou cinco anos para ficar pronto.

O Hornsea 2 tirou o título de "maior do mundo" de seu vizinho Hornsea 1 e cobre uma área de 465km² (quase ao tamanho da cidade de Porto Alegre). Mas deve perder a liderança em breve para outros projetos em construção no mar do Norte.

Cada uma das 165 turbinas do Hornsea 2 tem cerca de 200m de altura em relação ao nível do mar e hélices que medem 81m.

Segundo Patrick Harnett, diretor do projeto, cada rotação leva seis segundos e gera energia suficiente para abastecer uma residência ao longo de um dia.

Ao longo da última década, o tamanho das fazendas eólicas e das turbinas têm crescido a ponto de derrubar o custo da energia gerada por esses projetos.

Atualmente, o custo da energia gera por gás natural é nove vezes maior do que o da energia eólica, afirma Simon Evans, do Carbon Brief, portal que monitora o mercado de energia renovável.

Em julho deste ano, o Reino Unido fez um leilão para a construção de projetos com potencial de gerar 11 gigawatts de energia renovável, o suficiente para abastecer 12 milhões de residências.

Essa medida faz parte da meta do governo britânico de zerar as emissões de gás carbono ligadas à geração de energia até 2050, promovendo uma espécie de "descarbonização" do sistema elétrico até 2035 (redução drástica da geração por combustíveis fósseis, como gás natural e carvão mineral).

A crise energética global, impulsionada com a invasão da Ucrânia pela Rússia, intensificou a busca por fontes de energia alternativas ao gás natural. Afinal, cerca de 40% do gás natural importado pela Europa vem da Rússia, dependência que aumentou a preocupação dos governos no atual cenário de guerra.

Mas não há soluções fáceis nem rápidas.

Legenda: Governo britânico pretende 'descarbonizar' geração de energia elétrica no país até 2035

Projetos de geração de energia eólica em alto mar, por exemplo, levam cerca de cinco anos da autorização dos órgãos públicos à plena operação. Mas há aqueles que dizem que todos esses processos e decisões deveriam ser acelerados dada a dimensão da crise. Orsted

"A geração de energia eólica em terra é tradicionalmente a forma mais barata de energia, e é possível colocar projetos de pé em um ano", afirmou Melanie Onn, da entidade Renewable UK, em entrevista à BBC.

"Mas não estamos fazendo isso no momento porque os processos atuais permitem que uma pessoa sozinha possa barrar uma fazenda de energia (judicialmente). Então, o governo precisa agir e priorizar a questão energética."

'Crise nacional' de energia

O aumento do preço da energia prenuncia um inverno complicado no Reino Unido.

"A situação das contas de energia é uma crise nacional da magnitude da pandemia de covid", diz à BBC o especialista em consumo Martin Lewis, ao mesmo tempo em que defende que o governo dobre seu subsídio para compensar o enorme aumento esperado.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo site de comparação de preços Uswitch, quase um quarto dos domicílios já estão com pagamentos atrasados, algo que deve aumentar neste inverno.

"Metade das famílias britânicas enfrentará pobreza energética neste inverno se o governo não tomar medidas para aliviar o aumento do preço das contas", alertou o diretor-gerente da EDF Energy no Reino Unido, Philippe Commaret, em entrevista à BBC.

Segundo ele, um "inverno catastrófico" se aproxima para mais da metade dos lares britânicos, que terão que destinar 10% ou mais de sua renda para pagar pela energia.

O preço do gás e da eletricidade para as famílias será três vezes mais alto neste inverno em relação ao passado, segundo estimativas de um dos maiores fornecedores de energia do país.

Enquanto isso, os pequenos empresários que acabaram de lidar com os estragos causados pela pandemia de covid-19 lutam para manter suas portas abertas.

No caso dos aposentados, essa situação pode se agravar ainda mais. Graham West, de 68 anos, recorreu a bancos de alimentos nas últimas seis ou sete semanas depois de ver os custos de alimentos e energia dispararem. "Do contrário, eu não estaria comendo", diz ele

Por enquanto, e até que o governo adote medidas eficazes, a campanha Don't pay ("Não pague"), lançada em junho, convoca os britânicos a boicotar o pagamento das contas de eletricidade a partir de 1º de outubro, dia previsto para o aumento do preço da energia.

Legenda: Campanha convoca para um boicote a partir de 1º de outubro se governo e empresas de energia se recusarem a tomar uma atitude antes. Dont´Pay

Até agora, mais de 110 mil pessoas aderiram à iniciativa por meio da web — e concordaram em cancelar seus pagamentos por débito automático.

O movimento Don't Pay afirmou que o apoio recebido até agora "demonstra a raiva e a frustração diante de um sistema de energia quebrado que deve ser transformado drasticamente em benefício dos cidadãos".

A organização exige uma redução nas contas a um nível acessível — e afirma que milhões de pessoas não poderão pagar suas contas de energia neste inverno. Para eles, esta campanha é a única forma de obrigar o governo e as empresas de energia a agir.

O grupo diz que não tomará nenhuma atitude a menos que 1 milhão de pessoas se inscrevam — e que está "consultando extensivamente" especialistas em direito e dívidas pessoais (BBC Brasil, 31/8/22)