26/01/2018

Revés no processo de reabertura da Rússia à carne suína

Revés no processo de reabertura da Rússia à carne suína

A última rodada de negociações entre o serviço sanitário da Rússia e o Ministério da Agricultura, realizada na semana passada em Berlim, resultou em sinais negativos do governo russo aos exportadores de carne suína do Brasil, segundo fontes consultadas pelo Valor.

Contrariando o desejo dos brasileiros, Moscou pretende reabrir seu mercado à carne suína do Brasil apenas depois da visita de uma missão sanitária de técnicos russos ao país. O governo russo também quer reduzir a quantidade de frigoríficos brasileiros autorizados a exportar para o seu mercado. Em resposta, o Ministério da Agricultura solicitou que os russos não condicionem a reabertura ao envio da missão, que ainda não foi devidamente agendada.

Se Moscou mantiver sua posição, o impacto será grande para os frigoríficos exportadores. A Rússia responde por 40% do volume e por quase 50% da receita das exportações de carne suína do Brasil, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC).

Em contrapartida, há esperança de que Moscou reabra antes o mercado russo para a carne bovina do Brasil, conforme três fontes do setor privado. Em novembro, o serviço sanitário da Rússia embargou as carnes suína e bovina brasileiras, sob alegação de falhas no sistema de inspeção sanitária do governo brasileiro.

A razão da desconfiança de Moscou com o sistema brasileiro ocorreu após a detecção do promotor de crescimento ractopamina em lotes de carne suína importada do Brasil. Embora permitido na criação de suínos no Brasil e em outros mercados, a substância é proibida na Rússia. Para exportar para os russos, o Ministério da Agricultura tem de assegurar que os frigoríficos segregam a produção destinada aos russos.

No caso da carne bovina, no entanto, o uso da ractopamina é proibida no Brasil e no mercado russo. De acordo com uma fonte do setor, o fato de os brasileiros não usarem a substância na criação de bovinos pode ajudar nas negociações com a Rússia, liberando a carne bovina mais rapidamente do que a suína.

Razões de ordem comercial também pesam na decisão russa. Conforme uma fonte que acompanha de perto o imbróglio com Moscou, um surto de peste suína africana na Rússia levou produtores a acelerar os abates dos animais no país – por temerem contaminação. Isso tornou menos urgente o abastecimento do mercado russo. Com isso, Moscou teria ganhado mais tempo do que o inicialmente imaginado nas tratativas com Brasília.

Mais de 80% do volume de carne suína importado pela Rússia é proveniente do Brasil. Em decorrência do embargo russo à União Europeia e aos EUA, Moscou não tem muitas alternativas de fornecimento. Quando o embargo foi imposto, em novembro, os exportadores e o governo confiavam que o veto teria vida curta devido às necessidades dos russos e também porque o real motivo do embargo não seria a presença da ractopamina, mas a demora do Ministério da Agricultura em abrir o mercado do Brasil ao trigo, à carne bovina e ao pescado russos.

Ao Valor, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Luís Eduardo Rangel, afirmou que solicitou aos russos a reabertura do mercado para todos os 60 frigoríficos de carnes bovina e suína que já estavam habilitados a vender para aquele mercado antes do embargo. A expectativa, disse, é que dentro de uma semana o serviço sanitário da Rússia dê uma resposta e que daqui a 90 dias os russos definam um calendário para auditorias a estabelecimentos brasileiros ao longo deste ano.

"Entreguei a lista completa para ser reabilitada, mas eles podem querer habilitar parte dela, depende deles. Eu pedi para reabrir tudo, mas eles podem entender que a carne bovina tem menos risco de ter ractopamina por ter seu uso proibido em bovinos no Brasil", afirmou Rangel, enfatizando que não há motivos para manter o mercado russo fechado para as carnes brasileiras.

Na semana passada, Rangel participou das conversas com os russos em Berlim, onde ocorreu o Fórum Global para a Alimentação e a Agricultura. Em nota oficial divulgada na semana passada, o Ministério da Agricultura informou que o chefe do serviço sanitário russo, Sergey Dankvert, prometeu "celeridade" na liberação as carnes brasileiras (Assessoria de Comunicação, 25/1/18)