24/11/2021

Risco de escassez de adubo está longe, mas safra de 2022 preocupa

Risco de escassez de adubo está longe, mas safra de 2022 preocupa

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Oferta continua apertada e preço elevado do fertilizante afetará produtor, principalmente os pequenos e médios.

O risco de escassez de fertilizantes no Brasil está longe, mas ele existe, e há preocupações com a safra 2022/23, que deverá ter o início de plantio no segundo semestre do próximo ano.

O setor de fertilizantes passou por uma disrupção física, econômica e geopolítica, mas não deverá haver uma crise de oferta no setor.

Esse foi um dos temas das discussões no 8º Congresso Brasileiros de Fertilizantes, realizado pela Anda (Associação Nacional para a Difusão de Adubos), nesta terça-feira (23).

As indústrias, com baixa lucratividade nos anos recentes, não investiram para um aumento significativo da oferta de produto. Daí a elevação de preços, provocada pela maior demanda no campo.

Haverá uma redução nos lucros dos agricultores, mas não ocorrerá uma mudança significativa na demanda porque os preços das commodities vão permitir a procura por esses insumos, segundo os participantes do congresso.

Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio, diz que nesse cenário mundial de elevação de preços e de redução de oferta, o produtor brasileiro vai se dar melhor do que o norte-americano.

Mas, segundo ele, enquanto a aquisição do pacote de fertilizantes exigiu 6,4 sacas de soja por hectare na compra referente à safra 2021/22, exigiria 13,9 sacas na safra 2022/23, se fosse efetivada nas condições atuais nas regiões Sul e Sudeste.

Para Alzbeta Klein, presidente da IFA (International Fertilizer Association), os fertilizantes aumentaram por trás de uma grande demanda, provocada pelo aumento dos preços das commodities e exigências de produção de maiores volumes de grãos.

Além disso, a Covid-19 trouxe preocupação com a segurança alimentar, tanto em 2020 como em 2021, o que levou muitos governos a aumentar as importações de alimentos e a elevar os estoques, segundo Klein.

As indústrias do setor sofreram ainda os efeitos dos desarranjos da economia e da inflação, vindos de fretes, da energia e de outros setores ligados à indústria de fertilizantes. Isso mudou os fundamentos do mercado de fertilizantes, segundo a presidente da IFA.

O Brasil está exposto ao mercado internacional, e é responsável por 14% do volume financeiro das importações globais de insumos, mas os produtores se beneficiaram dos preços da commodities, principalmente os de soja e de milho.

Para Corrine Ricard, presidente da Mosaic Fertilizantes, os preços podem parecer frustrantes a curto prazo, mas encorajam mais as indústrias em seus investimentos.

Segundo os participantes do congresso, no entanto, não há grandes projetos pela frente. Além de demorados, são suscetíveis também aos elevados custos atuais, principalmente aos de energia.

Cogo destaca, no entanto, que os custos são para todos os produtores, tanto para os de países com indústria de fertilizantes como para os de países que não atuam nesse setor.

Muitas regiões poderão não suportar essa elevação de preços, principalmente as agriculturas de subsistência na África .

Marcos Jank, do Insper Agro, acredita que esse cenário de desarranjo da economia brasileira preocupa. Os preços elevados dos fertilizantes aumentam o valor das commodities, que pressionam os alimentos e geram mais inflação.

O lado positivo, segundo ele, é que a demanda externa continua firme, os estoques mundiais estão baixos, o real favorece as exportações, e a logística começa a melhorar.

"O problema, porém, é se houver um descasamento, com queda nos valores das commodities e continuidade dos preços elevados dos insumos agrícolas. Esse é um ponto importante, que exige cautela com o futuro", diz Jank.

Marcello Brito, presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) tem outra preocupação. Não vai haver falta de insumos, mas eles ficarão bem mais caros.

"O grande produtor, com gestão e bastante profissionalizado, suporta esse aumento. Me preocupa o pequeno e médio que não têm caixa", diz ele.

Para Guilherme Bastos, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, 2022 será um período de imenso desafio. O setor terá uma necessidade maior de crédito rural e de recursos para a subvenção de seguro.

A ministra da Agricultura, Teresa Cristina, anunciou no evento a criação de um comitê para debater os principais temas no setor de insumos.

 

Já o presidente do conselho de administração da Anda, Eduardo de Souza Monteiro, afirmou que, com base em informações de consultorias privadas, as vendas do setor deverão superar, neste ano, o recorde de 40 milhões de toneladas registrados em 2020 (Folha de S.Paulo 24/11/21)


Anda: “Estamos partindo para novo recorde de consumo em 2021” 

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Após entrega de cerca de 40 milhões de toneladas em 2020, o Brasil está partindo para novo recorde de consumo de fertilizantes neste ano, disse o presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). "Estamos em momento muito especial para a agricultura, representando 27% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Neste contexto, fertilizantes se consolidam como protagonistas em sustentabilidade e produtividade no campo. As vendas superaram 40 milhões de toneladas em 2020, crescimento de 12%. Segundo consultorias privadas, estamos partindo para novo recorde em 2021 que suportará a safra excepcional", afirmou Monteiro durante a abertura do 8º Congresso Brasileiro de Fertilizantes, realizado pela Anda nesta terça-feira.

Segundo Monteiro, a indústria brasileira de fertilizantes não "poupou esforços" em atender à "grande" demanda agrícola do mercado brasileiro. "Indústria de fertilizantes atende à totalidade do consumo recorde do mercado brasileiro, suprindo todas suas necessidades", apontou Monteiro. Ele pontuou, contudo, que a produção local de adubos não acompanha o crescimento anual do consumo brasileiro de fertilizantes, que avançou 3% ao ano durante três décadas. "Somos o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, atrás apenas da China, Estados Unidos e Índia, respondendo por 9% do mercado global. Nossa dependência do mercado internacional de fertilizantes é grande e importações já superam 85% do consumo", declarou Monteiro.

Na avaliação do executivo, o Plano Nacional de Fertilizantes, liderado pelo governo federal, busca amenizar a dependência externa do fornecimento brasileiro. Monteiro disse que a indústria de adubos está colaborando com sugestões ao plano e listou necessidade de medidas como: desburocratização e desoneração da cadeia de insumos e da cadeia de produção, linha de créditos atraentes dedicadas ao investimento no setor, mapeamento de reserva minerais e potencial de exploração pela iniciativa privada, disseminação de conhecimento para uso racional de fertilizantes e logística nacional fluida (Broadcast, 23/11/21)