RJ: Investigado se garante em usina
Legenda: TRT nega recursos para tirar Canabrava de Rodrigo Luppi, suspeito de adulteração de combustível. Em março, policiais militares do BPRv observaram intenso movimento de caminhões-tanque na usina, em período de entressafra.
Envolvimento com adulteração de combustível e fraude tributária não são impeditivos para se gerir uma usina de etanol. Pelo menos no Estado do Rio, onde o principal arrendatário da Canabrava, Rodrigo Luppi de Oliveira, é investigado por diversos crimes, mas, mesmo assim, conseguiu parecer favorável da justiça trabalhista para seguir no comando da empresa que fica no Norte Fluminense.
Na última decisão, de 27 de março de 2019, a desembargadora Claudia Regina Vianna Marques Barrozo, da 4ª Vara do Trabalho de Campos dos Goytacazes (RJ), indeferiu mandado de segurança e assegurou à RLO Solução Empresarial (de Rodrigo Luppi) o comando da Canabrava. No argumento, ela considerou a "melhor solução" para o pagamento dos direitos trabalhistas da usina.
Apontado em CPI
No despacho, a desembargadora reconhece que o MPF e o MP-RJ confirmaram que Rodrigo Luppi era investigado pela prática de possíveis crimes. Porém, alega "que os procedimentos adotados ainda não se transformaram em denúncia, estando ainda em fase de colhimento de provas". E completa: "Tal circunstância, a meu juízo, não é suficiente para se extrair o convencimento de que o Sr. Rodrigo Luppi de Oliveira seja considerado inidôneo para gerir atualmente o arrendamento".
Em 2017, mesmo já com uma sequência de investigações no currículo, o empresário teve o direito de arrendar a usina por seis anos em decisão da mesma 4ª Vara. Rodrigo Luppi e seu pai, Dirceu, conhecido como Major Dirceu, já tinham sido apontados como maiores adulteradores de combustível do país em uma CPI da Câmara, de 2003.
A Canabrava ainda é acusada de ser a principal responsável pela maior apreensão de etanol irregular da história do país: 16 milhões de litros contaminados com metanol descobertos pela Agência Nacional do petróleo (ANP). O caso ocorreu em outubro de 2016.
No mês seguinte, a usina, localizada entre Campos dos Goytacazes e São Francisco Itabapoana, foi interditada. Atrasos de mais de quatro meses de salários dos funcionários passaram a fazer parte da rotina. Mesmo dentro deste cenário, o clã dos Luppi conseguiu se expandir no setor, com duas empresas de distribuição: a Minuano e a Paranapanema.
Fraude tributária
A Minuano, inclusive, tem sede em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde Rodrigo Luppi é réu na 2ª Vara Criminal por adulteração de combustível - o processo está suspenso desde 2011. A distribuidora, junto com a Paranapanema, também é suspeita de fraude tributária. Em março de 2019, operação da Polícia Rodoviária estadual (BPRv) flagrou uma carreta com nota irregular da Minuano na Região dos Lagos.
Por meio da assessoria de imprensa, o TRT-RJ informou que, "em regra, os magistrados não se pronunciam sobre ações em andamento e costumam se reportar às suas próprias decisões no processo". Devido ao horário do expediente, a desembargadora também não foi encontrada no fim da tarde de sexta (26).
O DIA procurou o MP de Campos, mas até o fim desta reportagem não obteve retorno. A reportagem também tentou contato com a Canabrava, sem sucesso (O Dia, 28/4/19)