Rótulos em embalagens de alimentos devem facilitar decisão do consumidor
Por Dr. Hugo Ribeiro
Os números preocupantes sobre a saúde do brasileiro indicam que alguns hábitos alimentares, associados a uma vida cada vez mais sedentária, favoreceram o crescimento da prevalência de sobrepeso e obesidade na população e, paralelamente, também de doenças como diabetes e hipertensão arterial.
Entre as diversas ações em curso, merece destaque a questão da rotulagem dos produtos industrializados, atualmente em debate na Anvisa. Recentemente, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu a adoção de um novo modelo, inspirado no que foi desenvolvido pela Itália.
No posicionamento, Mandetta evidencia sua preocupação quanto à necessidade de uma rotulagem mais educativa em detrimento de um processo que, além de impor o medo, não promove escolhas de consumo efetivamente baseadas na compreensão das quantidades suficientes e/ou excessivas de nutrientes já consumidas ou de insuficiências a serem compensadas.
Alguns países da Europa e os Estados Unidos optaram por um modelo bastante informativo de rotulagem, com a indicação das quantidades de açúcar, sal e gordura. Há, ainda, outros que adotam cores e, aqui no Brasil, é chamado de modelo semafórico nutricional, ou gradação de cor. Estes modelos indicam as quantidades dos ingredientes na parte frontal da embalagem, de acordo com recomendações de consumo diário.
Apesar de todas as controvérsias em torno do tema, é considerável e bastante oportuno o posicionamento do ministro. Em outras palavras, apesar de vários estudos mostrarem a necessidade de proteção quanto ao consumo de quantidades excessivas de certos macros ou micronutrientes, não existem evidências de que as rotulagens que seguem o modelo de “alertas de perigo” promovam um processo de decisão mais consciente e racional por parte do consumidor.
Neste momento, a Anvisa debate o modelo a ser adotado e os modelos informativos estão entre eles. As discussões envolvem instituições de defesa do consumidor, a indústria alimentícia e diversas ONGs. O outro modelo em questão é uma adaptação do adotado pelo Chile, que consiste em figuras geométricas na cor preta com inscrições como “alto em açúcar” ou “alto em gordura saturada”. Os que defendem esta alternativa argumentam que esta seria mais eficiente na transmissão da mensagem ao consumidor. Mas cabe a pergunta: mais eficiente em informar ou em aterrorizar.
Investir em mensagens que mais amedrontam do que informam provavelmente não trará bons resultados, a médio e longo prazo, pois nada que advém do medo pode ser efetivamente eficaz. Em um país com as características socioculturais como as do Brasil, prescindir de educar para facilitar os processos de escolha e impor decisões de forma arbitrária, sem que o consumidor tenha a devida compreensão do que está escolhendo, é um grande risco e não consolida conhecimento mais amplo acerca do tema.
Necessitamos de rotulagens mais educativas, que informem sobre as quantidades suficientes ou excessivas de nutrientes consumidas, além de informar sobre proporções insuficientes que devam ser corrigidas. Neste contexto, portanto, a modelo italiano levantado pelo Ministro Mandetta, de fato atende melhor à proposta de uma rotulagem educativa e transparente. Se os atores envolvidos na discussão optarem pela informação em lugar do medo, terão logrado grande êxito para atingir o objetivo de facilitar com que os brasileiros adotem hábitos alimentares mais saudáveis.
Sobre o autor:
Dr.Hugo da Costa Ribeiro é pediatra especializado em doenças metabólicas e infecciosas, Fellow em Nutrologia Infantil pela Universidade de Cornnel em New York e professor Associado do Departamento de Pediatria da FMB da Universidade Federal da Bahia. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Nutrologia Pediátrica, atuando principalmente nos seguintes temas: doenças diarreicas, obesidade, alimentos funcionais, micronutrientes, gasto energético e alimentação complementar. Também foi consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde.