Ruralistas boicotam Danone após empresa anunciar que deixará de comprar soja
Imagem de campanha de entidades rurais pedindo boicote à Danone - Divulgação
Em manifesto, empresa francesa é acusada de generalização ao dizer que produto contribui para o desmatamento.
Lideranças ligadas ao agronegócio começaram a divulgar um manifesto defendendo o boicote aos produtos da Danone.
O motivo é a intenção anunciada pela empresa francesa de laticínios de parar de comprar soja do Brasil, com a justificativa de que sua produção aumenta os índices de desmatamento no país.
Um dos responsáveis por produzir o manifesto é o ex-ministro da Agricultura Antonio Cabrera, liderança do agronegócio no interior de São Paulo. Entidades como a Aprosoja e a Sociedade Rural Brasileira apoiam a iniciativa contra a multinacional.
"A cadeia produtiva da soja movimenta US$ 100 bilhões/ano no Brasil. Apesar de ser plantada em menos de 4% do território brasileiro, a soja é a principal cultura agrícola do país. Mais ainda, ela ocupa apenas 0,7% do bioma Amazônia", diz o manifesto.
Ainda segundo o texto, "o que a Danone fez foi uma generalização extremamente perigosa, divulgando que não há uma única fazenda sustentável no Brasil".
"Ou o setor se posiciona de forma enérgica contra a Danone, ou estaremos nos sujeitando a uma enxurrada de outras empresas nessa linha populista", afirma o documento.
O tema está na ordem do dia, uma vez que a União Europeia aprovou uma lei antidesmatamento que proíbe a compra de produtos brasileiros que não sejam ambientalmente sustentáveis. O Brasil pediu o adiamento dessa legislação, que entra em vigor no final do ano.
Em redes sociais, perfis de direita também têm atacado a Danone e pedido boicote a seus produtos.
"A verdade é que a Danone tomou uma decisão difamatória e terá que arcar com as consequências. Vamos mexer nos bolsos de nossos detratores. Assim, diga: não aos produtos da Danone!", diz o manifesto dos ruralistas (Folham 30/10/24)
Danone nega embargo à soja no Brasil após reação do agronegócio
Lideranças ligadas ao agronegócio divulgam manifesto defendendo o boicote aos produtos da Danone - Divulgação
Entidade dos produtores fala em boicote e diz que franceses desconhecem processo produtivo brasileiro.
A Danone negou que a empresa tenha parado de comprar soja brasileira no país, após o agronegócio reagir à declaração do diretor da companhia de laticínios, Jurgen Esser, que anunciou, na quinta-feira (24), que a multinacional francesa não está mais adquirindo a commodity brasileira e passou utilizar o insumo de países asiáticos.
"A Danone continua comprando soja brasileira em conformidade com as regulamentações locais e internacionais. A soja brasileira é um insumo essencial na cadeia de fornecimento da companhia no Brasil e continua sendo utilizada, sendo a aquisição da maior parte desse volume intermediada pela Central de Compras da Danone, incluindo processos que verificam sua origem de áreas não desmatadas e rastreabilidade", afirma a nota, assinada pelo diretor da empresa no Brasil, Tiago Santos.
"Nós não [obtemos soja do Brasil mais]", afirmou Esser. "Nós realmente temos um rastreamento muito completo, então garantimos que levamos apenas ingredientes sustentáveis do nosso lado", complementou.
Em reação, a Aprosoja Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Soja) falou em boicote dos produtores e afirmou, nesta terça-feira (29), que isso discrimina o Brasil.
Para a Aprosoja, há desconhecimento do processo produtivo no Brasil e a declaração é "um ato discriminatório contra o país e sua soberania".
"Não é de se duvidar que os produtores rurais brasileiros, cansados de serem injustamente apontados como os vilões, quando na verdade são os heróis da sustentabilidade, comecem a ter motivos de sobra para colocar a Danone e outras marcas mundiais na lista de empresas a serem boicotadas no Brasil", afirmou a associação.
Para a entidade, o embargo "já traz prejuízos para o Brasil e para os brasileiros, mesmo que a legislação da União Europeia antidesmatamento ainda não tenha entrado em vigor".
O Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), que abrange importações de commodities como cacau, café e soja, estava programado para entrar em vigor em 30 de dezembro de 2024, embora a Comissão da UE tenha proposto um adiamento de 12 meses.
Segundo a associação, "a afirmação de que o Brasil lidera a destruição de floresta tropical no mundo é fala de quem desconhece a dinâmica das florestas no Brasil".
"Pior ainda, está discriminando o único produtor de soja no mundo que preserva o meio ambiente e os recursos hídricos dentro das suas propriedades", disse a entidade, citando a legislação brasileira, que determina que o produtor rural precisa preservar de 20% a 80% de reserva legal, dependendo do bioma, e mais as APPs (Áreas de Preservação Permanentes), como beira de rio, topo de morro e entorno de nascentes.
"Comparativamente, os produtores franceses não preservam quase nada", analisou a Aprosoja Brasil, que afirmou ainda que "este ato de discriminação contra a produção de grãos do Brasil é passível de reclamação por parte do governo brasileiro nas instâncias que regulam o comércio mundial", como a OMC (Organização Mundial do Comércio).
Enquanto os principais comerciantes de grãos seguem acordos como a Moratória da Soja, que proíbe a compra de soja de terras recém-desmatadas na floresta amazônica, o cerrado brasileiro vê o avanço do cultivo, em momento em que o desmatamento nessa região tem crescido.
"A Danone está há mais de 50 anos no Brasil e investe em ações que priorizam o apoio e o desenvolvimento de grandes a pequenos produtores locais, incentivando práticas mais sustentáveis em todos os elos da nossa cadeia de fornecimento", diz a nota assinada pelo presidente da Danone Brasil.
Em um relatório de 2023, a Danone disse que usou 262 mil toneladas de produtos à base de soja para alimentar suas criações e 53 mil toneladas de soja diretamente na fabricação de seus produtos de leite de soja e iogurte de soja.
Em 2019, a Nestlé, que atua no ramo da Danone, parou de comprar soja brasileira da gigante de commodities Cargill. A rival Unilever, que usa óleo de soja em seus condimentos Hellmann's e produtos Knorr, ainda obtém soja do Brasil e diz que seu fornecedor, CJ Selecta, cumpre com rigorosos requisitos de desmatamento zero (Folha com Reuters, 30/10/24)
Aprosoja e governo brasileiro criticam Danone por fala sobre boicote à soja do Brasil
Para a entidade, a postura da multinacional francesa já traz prejuízos para o Brasil e para os brasileiros.
A Aprosoja Brasil, entidade que representa agricultores do maior produtor e exportador global de soja, afirmou nesta terça-feira (29) que há “motivos de sobra” para produtores rurais brasileiros boicotarem a Danone após um alto executivo da companhia francesa dizer que a multinacional não mais compra a oleaginosa no país.
Já o Ministério da Agricultura do Brasil afirmou em nota que o país exige ser tratado com “a mesma justiça e equilíbrio que pautam as relações comerciais internacionais, devendo ser rechaçadas posturas intempestivas e descabidas como anunciadas por empresas europeias, com forte presença de atividade também no mercado brasileiro”.
A gigante francesa de laticínios Danone parou de comprar soja do Brasil e agora compra de países da Ásia, segundo o diretor financeiro, Jurgen Esser, em entrevista à Reuters. A decisão acontece enquanto a União Europeia prepara uma lei que exige que as empresas provem que não estão comprando commodities de áreas desmatadas.
Segundo a Aprosoja Brasil, a posição demonstra desconhecimento do processo produtivo no Brasil e “um ato discriminatório contra o país e sua soberania”.
“Não é de se duvidar que os produtores rurais brasileiros, cansados de serem injustamente apontados como os vilões, quando na verdade são os heróis da sustentabilidade, comecem a ter motivos de sobra para colocar a Danone e outras marcas mundiais na lista de empresas a serem boicotadas no Brasil”, afirmou a Aprosoja.
Para a entidade, o “boicote adotado pela multinacional francesa já traz prejuízos para o Brasil e para os brasileiros, mesmo que a legislação da União Europeia antidesmatamento ainda não tenha entrado em vigor”.
O Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), que abrange importações de commodities como cacau, café e soja, estava programado para entrar em vigor em 30 de dezembro de 2024, embora a Comissão da UE tenha proposto um adiamento de 12 meses.
Segundo a associação, “a afirmação de que o Brasil lidera a destruição de floresta tropical no mundo é fala de quem desconhece a dinâmica das florestas no Brasil”.
“Pior ainda, está discriminando o único produtor de soja no mundo que preserva o meio ambiente e os recursos hídricos dentro das suas propriedades”, disse a entidade, citando a legislação brasileira, que determina que o produtor rural precisa preservar de 20% a 80% de Reserva Legal, dependendo do bioma, e mais as Áreas de Preservação Permanentes (beira de rio, topo de morro e entorno de nascentes).
“Comparativamente, os produtores franceses não preservam quase nada”, disse a Aprosoja Brasil. Já o ministério afirmou que o Brasil conta com uma das legislações ambientais “mais rigorosas do mundo”, que “tem permitido ao país combater o desmatamento ilegal com políticas públicas que abrangem o Cerrado, a Amazônia e outras regiões sensíveis, assegurando que a produção agrícola seja feita de maneira responsável e sustentável”.
Por outro lado, a unidade brasileira da Danone afirmou em nota nesta terça-feira que “a Danone continua comprando soja brasileira em conformidade com as regulamentações locais e internacionais”. A empresa, porém, não explicou a diferença de seu posicionamento no Brasil versus o comentário de Esser na semana passada quando questionada pela Reuters no país.
A sede da Danone na França não retornou pedidos de comentários após a divulgação do comunicado da Aprosoja criticando a fala do executivo (Reuters, 29/10/24)