Safra de soja sobe de patamar e atinge 172 milhões de toneladas

LAVOURA DE SOJA FREEPIK
Para André Pessoa, da Agroconsult, além de área maior, setor adota novo perfil
A produção de soja vem mudando de patamar no Brasil. Neste ano, a safra deverá atingir 172,1 milhões de toneladas, um volume nunca registrado antes e 16 milhões acima do da safra anterior.
Os dados são da Agroconsult, com base no Rally da Safra, um evento em que a consultoria avalia anualmente as regiões produtoras do país. Na safra 2024/25, a produtividade média deve atingir 60 sacas por hectare, e a área semeada subiu para 47,8 milhões de hectares.
A Datagro, que também acompanha a evolução da safra brasileira de soja, estima uma área igual à da Agroconsult, mas uma produção total de 169,1 milhões de toneladas. A consultoria prevê uma produção média nacional de 59 sacas por hectare.
Ambas as consultorias preveem uma produção próxima de 50 milhões de toneladas para Mato Grosso, líder nacional em produção. Se esse volume for concretizado, o estado deverá superar a Argentina, terceiro maior produtor mundial de soja.
O volume de produção registrado neste ano se deve, em parte, ao aumento de área, mas não é só isso, diz André Pessoa, presidente da Agroconsult. O patamar de produtividade teve grande avanço nos últimos anos, atingindo números acima do esperado.
Falar em 100 sacas por hectare há uma década era coisa impensável, mas algumas áreas já conseguem esse patamar. A Bahia está próxima da média de 70 sacas, mas algumas fazendas do país já obtêm de 80 a 90 sacas, segundo Pessoa.
Para o presidente da Agroconsult, essa mudança de patamar de produção ocorre devido à adoção de algumas práticas pelos produtores, mas que, nos próximos anos, ela se acentuará ainda mais, com a introdução de nova genética. Antes ela ocorria a cada dez anos, agora a cada três.
Um passo importante, e que possibilita esse aumento de produtividade da soja, é o investimento no perfil do solo. Houve uma construção de material orgânico, o que traz uma resiliência para a planta em períodos de altas temperaturas e de estiagem, afirma Pessoa.
Falta, no entanto, uma difusão maior dessas boas práticas nos rincões do país. Dificuldades de crédito e taxas altas nos financiamentos dificultam esse avanço. Essa mudança de escala na produção ocorre também porque a margem do produtor foi excelente nas safras de 2020 a 2023, o que permitiu investimentos no setor. O resultado veio agora, em um momento de margens menores.
Pessoa destaca, ainda, o maior uso de biológicos e a revolução digital que ocorre no campo. O avanço será maior ainda com uma nova rodada de biológicos e de genética que vem pela frente. Em cinco anos, haverá uma nova consolidação ainda maior do setor, acredita ele
Para Pessoa, outros dois fatores vão permitir uma melhora da saúde do solo e garantir maior produtividade. Um deles é a irrigação, que vem com uma velocidade grande de implantação, principalmente no oeste da Bahia. Outro é o desenvolvimento da indústria de etanol de milho e de sorgo no Brasil. A demanda por esses produtos nas diversas regiões do país vai exigir um maior equilíbrio do solo (Folha, 28/3/25)