São Carlos (SP): Conheça o centro da inteligência artificial no Brasil
Centro de pesquisas de IA de São Carlos é financiado pela IBM, pela Fapesp e pela USP
São Carlos (SP) está prestes a começar um novo capítulo de sua história com o início das operações de um dos mais avançados centros de inteligência artificial (IA) do país, que promete criar mais oportunidades para startups e grandes empresas interessadas em acessar a expertise local.
Com 250 mil habitantes, 162 anos de fundação e a 230 quilômetros de São Paulo, a cidade tem um doutor para cada 100 moradores, segundo pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), média quase dez vezes maior que a nacional. A tradição intelectual ganhará novo fôlego com o núcleo do centro de pesquisas de IA financiado pela IBM, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela USP, que focará em aplicações de IA em áreas como processamento de linguagem natural, aprendizado de máquina, óleo e gás, agronegócio, meio ambiente, finanças e saúde.
Segundo Fernando Osório, professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP e integrante do comitê gestor do centro, que começa suas atividades em março, o local é uma espécie de oásis da academia brasileira. “Estamos passando por uma crise de financiamento em pesquisa, mas a área de IA está protegida e privilegiada, tanto em nível estadual quanto federal”, aponta.
“ESTAMOS PASSANDO POR UMA CRISE DE FINANCIAMENTO EM PESQUISA, MAS A ÁREA DE IA ESTÁ PROTEGIDA E PRIVILEGIADA, TANTO EM NÍVEL ESTADUAL QUANTO FEDERAL”, Fernando Osório, professor do ICMC da USP
O ICMC registrou um aumento de 25% no interesse em mestrandos em IA, e São Carlos tem evitado o “brain drain” (fuga de cérebros) – isso beneficia startups de alto crescimento como a desenvolvedora de software de gestão fiscal Arquivei e a construtech Ambar, bem como empresas menores como a Onii, que faz uso de tecnologias emergentes (como veículos autônomos) em sua oferta de mercadinhos self-service para condomínios, e a Inffino, brechó online que usa machine learning para detectar a autenticidade de bolsas de luxo.
Legenda: A startup Arquivei
O papel do setor privado
O fundador da Ambar, Bruno Balbinot, diz que a presença da USP e da Universidade Federal de São Carlos é importante para a criação de know-how, mas o setor privado também exerce um papel essencial. “Sem empreendedores, capital de risco e demanda de mercado, a universidade vai ficar só produzindo papers”, pondera. A professora do ICMC Solange Rezende, uma das maiores autoridades em processamento de linguagem natural no país, diz que a academia quer aplicar sua pesquisa no mundo real. “O que faltava era a proximidade com o empreendedorismo, e agora temos essa interação”, comemora.
Instalado em uma antiga tecelagem de 20 mil metros quadrados, o centro de inovação independente Onovolab se posiciona como um interlocutor entre as pontas do ecossistema. Empresas baseadas lá incluem iFood, Deloitte e Serasa Experian, e outras, como Roche, Fleury e Electrolux, encomendam projetos. “Nossa fábrica de São Carlos é uma das mais modernas do grupo, e no contexto de indústria 4.0 falamos muito em usar os dados que vêm das fábricas. Ter acesso a pessoas capacitadas para isso é essencial”, diz Antonio Mandalozzo, diretor de transformação digital na Electrolux.
Segundo Anderson Criativo, CEO do Onovolab, a evolução intelectual de São Carlos deve atrair ainda mais empresas carentes de expertise. “A união de players que atraem o interesse do mercado para iniciativas de inovação e atores que desenvolvem pesquisa em uma área tão estratégica como IA posicionam a cidade como centro de referência e um dos principais ecossistemas de inovação do Brasil” (Forbes, 15/5/20)