'Se não for em fevereiro, não vota mais', diz Maia sobre Previdência
Presidente da Câmara também afirma ser contra votar reforma tributária antes de equilibrar contas
Em encontro na Câmara de Comércio Brasil-EUA nesta terça-feira, 16, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que encara “sem nenhum tipo de otimismo” a votação da Reforma da Previdência, prevista para o próximo mês. Para ele, esse é prazo limite para análise da proposta neste ano. “Se você não conseguir votar em fevereiro, você não conseguirá votar mais.”
A jornalistas, Maia negou que tenha sido pessimista em sua avaliação. “Eu não posso ir para nenhum ambiente no Brasil ou no exterior e mentir. Já tem muito político mentiroso no Brasil, né? Acho que chega. Está na hora de a gente falar a verdade, e a Reforma da Previdência não é uma votação simples”, afirmou.
“Nós temos problemas hoje no Brasil na relação entre o Poder Judiciário e, principalmente, o Poder Executivo. Algumas decisões do presidente têm sido barradas pelo Judiciário, o que é grave”, ressaltou, em referência à liminar que suspendeu a nomeação da deputada Cristiane Brasil (PTB) para o Ministério do Trabalho. “Isso gera algum impasse dentro de um partido que não tem muitos votos, mas para essa votação, onde a gente sabe que não é fácil chegar ao número necessário, isso gera dificuldades e atrasa a capacidade de articulação do governo”, disse aos participantes do evento.
Maia criticou o que vê como “protagonismo excessivo” do Judiciário, exemplificado na liminar que suspendeu a indicação de Cristiane. “Acho que isso está desorganizando o Brasil”, afirmou.
O parlamentar também acusou o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto Veloso, de mentir sobre a Reforma da Previdência e de usar exemplos de trabalhadores para defender seus próprios interesses. Maia se referiu a uma entrevista dada pelo magistrado ao Jornal do Piauí no início de janeiro e afirmou que ela estava “completamente desconectada da realidade, da verdade, uma coisa grave.”
“O juiz Veloso está defendendo o seu interesse e usa o exemplo do trabalhador, do motorista de ônibus, para defender a manutenção dos seus benefícios, da aposentadoria acima de R$ 20 mil, de seus auxílios. Isso tem no Judiciário e tem no Legislativo, e muito”, ressaltou.
O principal desafio do governo será reconstruir sua base de sustentação até lá, observou. Hoje, existe apoio de 250 deputados à proposta e são necessários no mínimo 308 para sua aprovação.
No encontro na Câmara de Comércio, Maia disse que sua prioridade é a votação da Reforma da Previdência, mas ressaltou que a possibilidade de aprovação é encarada “sem nenhum tipo de otimismo, sem nenhum discurso onde a gente diga que essa é uma matéria que estará resolvida em fevereiro”.
Entre as dificuldades, Maia mencionou a suspensão de decisões do presidente pelo Judiciário, o que classificou de grave. “Estão bloqueando uma decisão do presidente da República. Independente do que as pessoas acham, se deveria ou não nomear a Cristiane, é um absurdo que a Justiça interfira nisso.”
Perguntado sobre sua eventual candidatura à Presidência pelo DEM, o deputado disse que “não está na hora” de falar sobre o assunto e evitou avaliar o potencial impacto da aprovação da Reforma da Previdência sobre as chances de um nome de centro. Mas em todos os seus pronunciamentos, ele apresentou o discurso de eficiência do Estado que está na base de suas propostas.
“O que fortalece o candidato que quer reorganizar o Estado brasileiro é a gente ter coragem de enfrentar o debate e falar a verdade. Quando o brasileiro que ganha um salário mínimo entender que ele financia a aposentadoria de quem ganha R$ 30 mil, aí sim poderemos ter uma revolta grave no Brasil” (O Estado de S.Paulo, 17/1/18)