Seca exige replantio de soja e derruba produtividade de milho
É cedo para previsões, afirmam analistas, mas safra de grãos pode não chegar aos 269 milhões de toneladas, como estimado pela Conab.
O Brasil vive uma intensa seca. Constante desde 2018, ela se ampliou neste ano e afeta seriamente algumas regiões produtoras de grãos e a recuperação de pastagens.
A safra 2020/21, que está sendo semeada, tem um início completamente fora do normal, com atraso no plantio, semeadura em clima seco, possibilidade de quebra de produção e a necessidade de replantio.
A área de replantio é pequena, mas deve ser levada em consideração, pois traz consequências para a produtividade da soja e para o planejamento da safrinha de milho. Mato Grosso deverá refazer o replantio de soja em 277 mil hectares, segundo a AgRural.
O plantio do milho vem logo após a colheita da soja. Um atraso nesta poderá levar a semeadura do cereal para “fora da janela ideal”. Ou seja, para um período menos favorável para a cultura, devido à redução das chuvas.
Prevista pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em 269 milhões de toneladas, a produção de grãos do próximo ano não deverá registrar mais uma “safra cheia”, segundo alguns analistas.
Para a Conab, apesar da situação instável do clima, ainda é cedo para previsões de quebra, principalmente no caso da soja, uma lavoura bastante resistente.Duas das culturas básicas do país, a de soja e a de milho, estão sendo afetadas.
O Rio Grande do Sul, o terceiro maior produtor nacional de soja e o maior de milho na safra de verão, é um dos estados mais castigados pela seca neste ano.
Cleverton Santana, superintendente de informações de agronegócio da Conab, diz que, no caso da soja, o atraso inicial no plantio foi recuperado. Já o milho tem uma situação mais crítica no desenvolvimento das lavouras no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e em algumas regiões do Paraná.
Os impactos na produção, porém, só serão mais bem definidos nos meses de dezembro e de janeiro, segundo Santana. Para Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima, as condições do tempo de dezembro e da primeira quinzena de janeiro serão cruciais para as lavouras.
“A produção desta safra não vai ser cheia. Há replantio, e o potencial de produção da soja está longe dos 136 milhões de toneladas. Deverá ficar próximo dos 130 milhões”, afirma Santos.
No caso do milho, o cenário é um pouco mais complicado, e haverá quebra de produtividade, principalmente no Rio Grande do Sul, maior produtor do cereal na safra de verão.O estado está sendo afetado pelo La Niña, fenômeno de resfriamento das águas da região equatorial do Pacífico. Quando isso ocorre, há chuvas irregulares no Sul e melhora na região centro-norte.
Mas há uma luz no fim do túnel, devido à possibilidade de aquecimento das águas do Atlântico na região Sul e do Pacífico na costa leste da América do Sul, diz Santos. Isso provocaria um corredor de umidade.
Com relação a Mato Grosso, maior produtor de soja e de milho do país, Santos diz não ver nenhum desastre. As chuvas vão ser irregulares até janeiro, mas continuam ocorrendo, embora em forma de conta-gotas.
Algumas regiões, porém, são bem mais afetadas. Produtores de Mato Grosso relatam que nunca viram um ano com tanta irregularidade. Há um ineditismo climático neste ano, mas ainda não se pode afirmar que haverá quebra de produção no caso da soja. Isso só será possível de ser avaliado quando as lavouras estiverem no período de enchimento dos grãos, afirma Daniele Siqueira, analista da AgRural.
O caso do milho é diferente, e a irregularidade das chuvas faz as lavouras do cereal perderem produtividade desde que são semeadas, afirma a analista.
De acordo com dados da AgRural, até quinta-feira (12), as máquinas já haviam semeado 93% da área destinada à oleaginosa em Mato Grosso. No Brasil, a média é de 70%. O plantio do milho verão está em 82%.
Essa recuperação ocorre também nos estados do Paraná e de Mato Grosso do Sul, importantes na produção de soja. A estimativa da AgRural é de uma produção nacional de 132,2 milhões de toneladas de soja.
Santos, da Rural Clima, acredita que, mesmo com o atraso no plantio de soja, não deverá haver grandes alterações na área de milho safrinha em Mato Grosso. O produtor está capitalizado e já adquiriu sementes, adubo e fez vendas antecipadas (Folha de S.Paulo, 17/11/20)