Sem renovação de acordo nas exportações da Ucrânia, preços devem reagir
Navio carregado com grãos ucranianos -foto Umit Bektas - 2.nov.21 Reuters
Produção de alimentos não sobe em 2023 e há pouca recomposição de estoques.
O melhor fluxo de commodities, impulsionado pelo acordo de liberação das exportações ucranianas de alimentos, provocou uma desaceleração dos preços em outubro, segundo acompanhamento do Amis/ONU (Agricultural Market Information Systems).
A ameaça da Rússia de não renovar esse acordo, que vence neste mês, no entanto, poderá inibir essa desaceleração dos preços, que estão em patamares elevados.
Uma interrupção de saída de produtos da Ucrânia, que já liberou 9,3 milhões de toneladas durante o acordo, voltaria a colocar em dificuldades os abastecimentos de países do Norte da África e do Oriente Médio.
Além disso, as exportações atuais são um alívio para os produtores ucranianos que, sem preços para seus produtos, estavam desincentivados com o plantio local, segundo o Amis.
Esse cenário poderia afetar ainda mais a oferta e o comércio de produtos no mercado de 2023, devido à importância da Ucrânia no fornecimento de grãos e de óleos vegetais.
O trigo, que tem boa participação da Ucrânia no mercado internacional, deverá ter uma produção mundial de 784 milhões de toneladas na safra 22/23, abaixo da expectativa do mês anterior.
O consumo cresce devido às demandas maiores do cereal para alimento humano e para ração. O preço médio voltou a subir em outubro e acumula 7,1% em relação há um ano.
O arroz continua merecendo atenção. Terá uma produção de 513 milhões de toneladas na safra 2022/23, abaixo dos 525 do período anterior, e os estoques recuam para 193 milhões. Esse cenário menos favorável se deve à queda de produção na Índia.
A safra mundial de milho fica em 1,17 bilhão de toneladas, também inferior à de 2021/22. Com isso, os estoques caem, e os preços médios, que subiram 4,3% em outubro, superam em 16% os de há um ano.
A soja, apesar de um reajuste para baixo na produção mundial —392 milhões de toneladas, conforme os dados de outubro—, terá um volume recorde em 2022/23.
Os preços médios da oleaginosa caíram no mês passado, mas ainda se mantêm 14% superiores aos de igual mês de 2021, aponta o relatório do Amis, citando dados do IGC (International Grains Council).
A boa notícia é que os preços dos fertilizantes continuam recuando, embora ainda estejam elevados (Folha de S.Paulo, 4/11/22)