12/12/2022

Sindicatos marcam assembleia que poderá destituir Josué Gomes da Fiesp

Sindicatos marcam assembleia que poderá destituir Josué Gomes da Fiesp

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86 dirigentes assinaram pedidos de plenária, agora marcada para 21 de dezembro.

Sindicatos de oposição à gestão de Josué Gomes à frente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) publicaram neste domingo (11) a convocação de uma assembleia extraordinária no dia 21 de dezembro para discutir a conduta do presidente da entidade –e que poderá resultar em sua destituição.

A plenária foi solicitada pela primeira vez pelos sindicatos em outubro. No início de novembro, Gomes comunicou em reunião da diretoria que não faria a convocação por entender que o pedido não estava detalhado. O grupo ainda fez um novo pedido de assembleia no dia 27 de novembro, depois de ter detalhado a solicitação, mas a convocação não saiu.

A Fiesp diz que não se manifesta publicamente sobre assuntos internos.

Como a Folha mostrou na terça (6), os sindicatos já consideravam a auto-convocação, por entender que isso está previsto no estatuto da entidade, mas entendiam que seria melhor se a assembleia fosse marcada pela direção. Na Fiesp, a perspectiva era de que essa convocação ficasse para janeiro.

A liderança da movimentação para destituir Gomes é atribuída ao ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf, que ficou 17 anos no comando da entidade da indústria. Josué Gomes foi eleito em chapa única apoiada pelo antecessor.

Dirigentes que compõem o conselho de representantes da Fiesp e que assinaram os pedidos de assembleia dizem considerar natural que os sindicatos procurem Skaf para falar de temas da entidade, mas que a insatisfação com a atual gestão não é um movimento político, tampouco encabeçado pelo ex-presidente.

Ainda que a assembleia do dia 21 conclua pela destituição de Josué Gomes, Skaf não poderá voltar a ocupar o posto pelo menos até 2025, quando termina o mandato da atual diretoria. Passaria à cadeira de presidente o primeiro vice da Fiesp, Rafael Cervone Neto, que atualmente comanda o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).

Falando sob anonimato, um diretor da Fiesp diz que o conselho de representantes tentou mais de uma vez conversar com o atual presidente e cobrou dele que a relação com os sindicatos melhorasse.

Uma fonte de insatisfação é o funcionamento dos departamentos da federação, considerados esvaziados pelos sindicatos. A Fiesp tem nove departamentos, que tratam de temas como infraestrutura, serviços, agronegócio, construção e questões jurídicas.

Os sindicatos levam a esses departamentos questões do dia a dia das empresas de cada setor, como dúvidas sobre a aplicação de atos normativos e leis, além de reivindicações.

A avaliação de dirigentes que apoiam a assembleia é de que a Fiesp atua como uma interlocução entre os sindicatos e empresas menores e o Poder Público, algo que as grandes indústrias (e os sindicatos que as representam) conseguem fazer diretamente em conversas com secretários, governadores e mesmo com o presidente da República. Essa interlocução estaria falhando.

A oposição à gestão de Gomes é majoritária entre os sindicatos ligados à Fiesp. Dos 106 que integram o colégio eleitoral e que têm direito a voto, 80 assinaram os dois documentos recentes enviados à direção da entidade (o detalhamento dos motivos para a realização da assembleia e o novo pedido de convocação).

 No total, assinaram esses comunicados 86 dirigentes. Entre o primeiro pedido, de outubro, e os novos, de novembro, o número de assinaturas subiu. Eram 78 na primeira solicitação.

No edital de convocação publicado neste domingo, os sindicatos dizem que a assembleia do dia 21 discutirá a atuação do presidente da Fiesp no que consideram "desvirtuamento dos fins" estabelecidos nos estatutos e "mediante defesa de ideais incompatíveis com os interesses dos sindicatos filiados e com os anseios das categorias industriais representadas."

Um presidente de sindicato e um diretor da Fiesp ouvidos pela Folha dizem que esses "ideais incompatíveis" estão relacionados à gestão da entidade e ao que consideram ser a falta de diálogo, especialmente com os sindicatos menores.

Eles consideram que a destituição de Josué não é a única conclusão possível da assembleia, mas, para isso, defendem que o presidente da Fiesp precisará comparecer à plenária e mostrar disposição de mudar sua relação com os representantes.

Na manhã deste domingo, já circulavam entre dirigentes de sindicatos informações de que a federação poderia acionar o Judiciário para invalidar a assembleia e também a possibilidade de ela ser enquadrada como irregular.

Josué Gomes foi eleito para a presidência da Fiesp em um processo eleitoral também tumultuado. Uma ala liderada pelo presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), José Ricardo Roriz, criticou a condução das eleições (o processo foi em 2021, já sob a pandemia de Covid-19). Ele perdeu para Cervone a disputa pelo comando do Ciesp.

Roriz, porém, tem se manifestado contra o movimento pela destituição de Josué Gomes. Synésio Batista Costa, do Sindibrinquedos (Sindicato das Indústrias de Brinquedos), que é também presidente da Abrinq (Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos) e que apoiou a chapa de Roriz, disse à Folha no início de novembro que discorda da articulação de oposição e que considera a pressão "rasgar o estatuto."

A proximidade de Josué Gomes com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é vista como um elemento de tensão na relação com os sindicatos. Atualmente, ele é cotado para o comando do Ministério da Indústria no novo governo Lula. O pai dele, José Alencar, foi vice-presidente nas duas gestões de Lula, de 2003 a 2010.

Skaf, por outro lado, é ligado ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e declarou voto a ele nas eleições deste ano.

A pressão sobre Josué Gomes se intensificou em meados deste ano depois que a Fiesp divulgou suas diretrizes para os presidenciáveis, lido internamente como de oposição a Bolsonaro por defender o respeito ao estado de direito.

Em agosto, a federação também organizou um manifesto de entidades em defesa da democracia. Apenas 13,7% dos sindicatos filiados referendaram a publicação (Folha de S.Paulo, 12/12/22)