21/12/2017

Sítio de SP aderiu à integração para escapar da crise da laranja

Maria Fernanda Guerreiro, agrônoma e responsável pelo Sítio Nelson Guerreiro, que aplica método ILPF

LeLCom um assobio e palavras incompreensíveis, a agrônoma Maria Fernanda Guerreiro, 46, reúne dezenas de cabeças de gado na zona de pasto, demonstrando sua familiaridade com os animais.

A convivência, porém, só começou em 2010, quando o sítio Nelson Guerreiro, na região rural de Brotas (interior de SP), aderiu à ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta).

A adoção foi uma tentativa de responder à queda vertiginosa registrada no mercado de laranjas, até então a principal produção da família.

Endividados, ela e o marido, o agrônomo Luiz Fernando Braz da Silva, 45, começaram a buscar uma saída para diversificar a fonte de renda.

Com orientações da Embrapa, o casal submeteu seu projeto de integração ao Produsa (Programa de Estímulo à Produção Agropecuária Sustentável), financiado pelo BNDES, e recebeu um crédito de R$ 200 mil para a compra de sementes, mudas e cabeças de gado.

Hoje, o sítio produz milho, eucalipto e gado de corte no sistema de integração, numa área de 45 hectares. Também mantém o cultivo de laranja e de cana-de-açúcar, além de uma parceria com vizinhos para a produção de mel, num total de 106 hectares.

Para a agrônoma, a integração é uma tendência que deverá ser incorporada pela agricultura brasileira.

"Quando eu fazia faculdade de agronomia [nos anos 1990], o plantio direto era visto como coisa de 'bicho-grilo'; hoje é uma técnica muito utilizada." Nessa modalidade não se faz a aragem do solo, para conservar a folhagem e os micro-organismos da terra e diminuir a erosão.

O milho do sítio é transformado em fubá e vendido em feiras de agricultura familiar. Um dos principais clientes é o restaurante Arturito, da chef Paola Carosella.

A laranja, produzida com menor aplicação de agrotóxicos, também é vendida na região, assim como as toras de eucalipto. A cana vai para usinas de açúcar e etanol.

"Nós somos sobreviventes. Hoje, muitos dos nossos vizinhos são reféns, não mais do suco de laranja, mas da cana-de-açúcar", diz o agrônomo.

A cana foi um cultivo a que muitos aderiram após a crise no setor cítrico -e que agora gera dependência financeira similar à da laranja.

O casal complementa a renda prestando assessoria para outros produtores interessados na integração, cujo perfil é semelhante: gente que cresceu no meio rural, se mudou para a área urbana para estudar e retornou às raízes no campo (Folha de S.Paulo, 21/12/17)