Situação do milho preocupa e Brasil pode ser pressionado a exportar mais
Marcos_Jank_-_foto Wikipedia
A situação global quanto à oferta de milho é preocupante em razão da guerra entre Rússia e Ucrânia, disse o coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank, em palestra realizada ontem à noite, no Simpósio Brasil-Sul de Avicultura, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet). Jank disse que no Brasil houve duas quebras importantes de safra de milho - em 2017/18 e em 2020/21 -, ao mesmo tempo em que o mundo está precisando cada vez mais do grão. E, agora, com a guerra na Ucrânia, a pressão exportadora de milho pode recair sobre o produto brasileiro.
"A Ucrânia é o quarto maior exportador global de milho", comentou Jank na palestra. "E o que se espera é uma quebra de safra de no mínimo 50% no país por causa da guerra", continuou ele, acrescentando que as regiões produtoras de milho na Ucrânia são justamente as que estão no centro do conflito com a Rússia. "Então, todas as notícias são preocupantes; se faltar milho ucraniano, o preço sobe e o Brasil vai sofrer pressão exportadora."
Para Jank, se trata de uma situação "bastante preocupante", porque a guerra está afetando principalmente os grãos, sendo que prejudica dois dos três principais cereais consumidos globalmente - trigo (do qual a Ucrânia também é grande produtor e exportador) e milho. "Um total de 40% da ingestão de caloria global é representado por arroz, trigo e milho", concluiu.
Autossuficiência russa
A Rússia partiu, há alguns anos, em busca da autossuficiência na produção de alimentos - carnes e grãos - e pode, no médio prazo, se tornar concorrente do Brasil na exportação desses produtos, informou Marcos Jank, durante palestra. "A Rússia está sendo estimulada pelos chineses a produzir soja", declarou. "E eles já produzem 8 milhões de toneladas; ainda é pouco, mas estão buscando autossuficiência", afirmou. "Então eu acho que os russos vão entrar no que nós, no Brasil, já fazemos hoje, que é (a exportação no) complexo grãos e carnes", disse, e completou: "E eles vão ser grandes nisso".
Jank avaliou que o Leste Europeu é a região que mais ameaça o agronegócio brasileiro no futuro. "Não sei como vai ser o desenrolar da guerra (entre Rússia e Ucrânia), mas já havia, antes do conflito, um processo de aumento de autossuficiência da Rússia e no Leste Europeu e essas regiões tendem a ser exportadoras", continuou, avaliando que, desta forma, o mercado brasileiro não vai mais estar na Rússia. "A Rússia não será mais comprador dos nossos produtos; será nossa concorrente", comentou. "Nossos mercados estarão na China, no leste da Ásia, na África."
Logística
A situação da logística e do escoamento da produção agropecuária no Brasil melhorou bastante nos últimos anos, mas o País ainda deve pensar estrategicamente a respeito deste assunto, sobretudo em relação às ferrovias, disse Marcos Jank.
"Atualmente, tudo o que está sendo feito em ferrovias no Brasil é voltado à exportação de grãos, com projetos concentrados no Centro-Oeste", afirmou. "Mas e o Rio Grande do Sul e o Paraná?", indagou ele, dizendo que justamente sob este aspecto a questão estratégica é importante, já que o Sul do País é importante produtor de proteína animal e precisa de grãos. "É essencial pensar como melhorar o provisionamento de grãos na Região Sul e fazer com que não falte produto para lá, porque, quando falta, é necessário trazer milho da Argentina e de outros países."
Jank declarou que, de toda maneira, as "ferrovias vão acontecer" e que "os projetos estão andando", o que é muito bom. "Mas tudo isso está sendo resolvido em direção ao porto, enquanto o Sul também precisa de grãos para crescer, então é necessário se pensar numa estratégia." O coordenador do Insper Agro Global questionou se o que o Brasil vai vender no porto é o que o mundo quer ou o País "terá uma estratégia um pouco mais sólida", de saber o que o próprio País quer, "inclusive da China".
Em relação à estratégia, Jank criticou o pensamento de curto prazo do Brasil e o comparou às políticas chinesas, que são traçadas para 50, 100 anos. "Nós somos curto-prazistas, pensamos para os próximos 6 meses ou para o político ganhar eleição" (Broadcast, 6/4/22)