Soja: Análise Agromensal Cepea/Esalq/USP Junho/2020
A finalização da colheita de soja na Argentina, o amplo estoque norteamericano, o clima favorável às lavouras nos Estados Unidos e a desvalorização do dólar frente ao Real enfraqueceram os valores da oleaginosa no Brasil no mês de junho. Como grande parte da logística de junho e julho já estava comprometida, prevaleceram negociações para embarque a partir de agosto deste ano.
Com isso, o ritmo de comercialização não foi intenso no mercado spot. Assim, entre maio e junho, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá (PR) cedeu 0,6%, fechando com média de R$ 109,76/sc de 60 kg no último mês. Já o Indicador CEPEA/ESALQ Paraná subiu ligeiro 0,1%, para R$ 103,43/saca de 60 kg em junho.
Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações recuaram 0,3% no mercado de balcão (pago direto ao produtor), mas avançaram 0,4% no de lotes (negociações entre empresas). O dólar se desvalorizou significativos 7,8%, a R$ 5,20 na média de junho. O movimento de queda nos valores do grão, entretanto, foi limitado pela retração de sojicultores em comercializar elevados volumes e pelos baixos estoques das indústrias brasileiras.
Vale lembrar que grande parte das safras 2019/20 e 2020/21 já foi negociada. Segundo agentes consultados pelo Cepea, as vendas registraram, inclusive, volumes recordes quando comparadas às do mesmo período de anos anteriores.
DERIVADOS
Além disso, o enfraquecido nos preços da soja foi limitado pela maior demanda por óleo de soja, a qual voltou a crescer no mês de junho, especialmente para a produção de biodiesel. Vale lembrar que, nos últimos meses, indústrias de biodiesel vinham enfrentando dificuldades nas vendas, cenário que limitou o consumo de óleo de soja.
No último mês, no entanto, muitas unidades estiveram com estoques baixos e, portanto, ativas nas compras do derivado. Indústrias processadoras, no entanto, têm estoque reduzido de óleo, devido a dificuldades na aquisição da soja em grão. Esse cenário impulsionou os preços internos e o prêmio de exportação do derivado, que atingiram patamares recordes, em termos nominais, no mês de junho.
Para os prêmios, com base no porto de Paranaguá (PR) para embarque em ago/20, compradores ofertavam 1,6 de centavo de dólar/libra-peso e vendedores, 3 centavos de dólar/libra-peso no dia 30 de junho. No último dia útil de junho de 2019, vendedores ofertavam apenas 50 centavos de dólar/libra-peso.
O óleo de soja negociado na cidade de São (com 12% de ICMS incluso) teve preço médio de R$ 3.799,68/tonelada em junho, expressivo aumento de 4,6% frente ao do mês anterior. Em termos reais, a média de junho do óleo de soja teve o maior valor desde dezembro de 2016 (IGP-DI de maio/20). Quanto ao farelo de soja, uma parcela de compradores mostrou estar abastecida no mês de junho.
Ainda assim, os preços reagiram em algumas regiões, diante da retração das indústrias em comercializar grandes volumes. Isso porque, o alto patamar nos preços do grão elevou a preocupação de representantes da indústria quanto ao abastecimento da matéria-prima no segundo semestre – grande parte das unidades tem estoques apenas até a metade de julho. Diante disso, na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços de farelo de soja caíram ligeiro 0,5% entre maio e junho.
FRONT EXTERNO
A desvalorização do dólar frente a uma cesta de moedas, por outro lado, impulsionou as commodities norte-americanas no decorrer de junho. Além disso, especulações de que a China pode voltar a intensificar as importações de soja dos Estados Unidos nos próximos meses elevaram os contratos futuros na CME Group (Bolsa de Chicago).
As previsões de clima quente e seco no Meio-Oeste dos Estados Unidos no próximo mês também deram suporte aos valores em Chicago. O contrato de primeiro vencimento da soja se valorizou 3% entre as médias de maio e junho, a US$ 8,6720/bushel (US$ 19,12/sc de 60 kg) em junho. O contrato de mesmo vencimento do farelo de soja avançou 0,7%, a US$ 286,76/tonelada curta (US$ 316,10/t).
Para o óleo, o contrato de primeiro vencimento subiu expressivos 5,1% entre as médias de maio e junho, indo para US$ 0,2789/lp (US$ 614,89/t) no dia 18 de junho. Ressalta-se, entretanto, que os embarques norte-americanos continuam abaixo das expectativas dos agentes de mercado.
Dados do USDA mostram que, na parcial desta safra (de setembro/19 até o dia 25 de junho), as exportações dos Estados Unidos somavam 36,8 milhões de toneladas, 0,79% inferior ao volume escoado no mesmo período da temporada anterior (Assessoria de Comunicação, 6/7/20)