Soja: Análise Conjuntural Cepea/Esalq/USP Retrospectiva 2023
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As ofertas nacional e mundial de soja foram recordes na temporada 2022/23. No Brasil, apesar de um cultivo mais longo e de dificuldades no período de colheita, a produtividade foi expressiva. Inclusive, foi o avanço na colheita brasileira que compensou as menores ofertas dos Estados Unidos e da Argentina e que garantiu uma produção global recorde na safra 2022/23, de 374,39 milhões de toneladas, de acordo com o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
Como resultado, as cotações da soja foram pressionadas em 2023. O Brasil colheu um recorde de 160 milhões de toneladas de soja em 2022/23, significativo crescimento de 22,6% sobre a temporada anterior. Já os EUA colheram 116,22 milhões de toneladas, queda de 4,3%. Na Argentina, o impacto do fenômeno climático La Niña foi mais intenso, refletindo em forte escassez hídrica. Com isso, a produção foi de apenas 25 milhões de toneladas de soja, o menor volume desde a temporada 1999/2000.
Diante da maior oferta brasileira, o ano de 2023 iniciou com queda nos valores dos prêmios de exportação de soja no País, que, inclusive, registraram patamares negativos, o que não era visto desde junho/21, considerando-se um contrato de primeiro embarque. Entre março e abril, além da maior oferta doméstica, houve significativo aumento no interesse de venda, devido à necessidade de o produtor “fazer caixa” para despesas relacionadas ao custeio das atividades de campo.
Diante disso, as cotações da soja no mercado físico foram pressionadas de forma acentuada nesse período, e os prêmios de exportação foram os menores desde 2004. De maio a junho, a atenção de agentes se voltou ao clima no Hemisfério Norte, que, naquele momento, favorecia o início das atividades de campo da safra 2023/24.
Já no segundo semestre do ano, as indústrias brasileiras estiveram mais ativas nas aquisições da soja em grão. Esse cenário elevou a disputa entre compradores domésticos e externos da oleaginosa, resultando em alta nos preços nacionais. Além disso, sojicultores brasileiros estiveram retraídos nas vendas envolvendo grandes volumes, com uma parcela mostrando preferência por segurar o remanescente da safra 2022/23, apostando em negócios posteriores a valores maiores.
De setembro a outubro, os preços voltaram a se enfraquecer, influenciados pela desvalorização externa, que, por sua vez, esteve atribuída à entrada da safra 2023/24 de soja nos EUA e ao elevado remanescente da safra 2022/23 no Brasil. Já no último bimestre de 2023, as cotações foram sustentadas pela firme demanda, sobretudo externa, e pelas adversidades climáticas para o cultivo da safra 2023/24 no Brasil. Do lado da exportação, em 2023 (de janeiro a dezembro), o Brasil embarcou volume recorde de soja, de 101,8 milhões de toneladas, 29,3% acima da quantidade escoada em todo 2022.
Os envios à China (principal destino do grão nacional) cresceram 38,9%, somando 74,49 milhões de toneladas no acumulado do ano. Chamou a atenção o fato de a Argentina ter sido, em 2023, o segundo maior destino da soja brasileira, com 4,02 milhões de toneladas da oleaginosa escoadas ao país vizinho. O valor médio recebido pelas exportações de soja do Brasil em 2023 foi de R$ 158,61/sc de 60 kg, 12,4% inferior ao de 2022, o que está atrelado, também, à desvalorização do dólar frente ao Real – a moeda norteamericana teve média de R$ 5,00 neste ano, a menor desde 2019.
Quanto aos preços internos, no balanço de 2023, prevaleceram as baixas. Os Indicadores da soja ESALQ/BM&FBovespa Paranaguá e CEPEA/ESALQ Paraná registraram em 2023 as menores médias anuais desde 2019, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de nov/23), a R$ 149,35/sc e a R$ 142,11/sc de 60 kg, respectivas quedas de 17,2% e de 19,6% frente às de 2022.
DERIVADOS
Os preços do farelo e do óleo de soja também registraram os patamares mais baixos desde 2019, em termos reais. As quedas nas cotações dos derivados, no entanto, foram limitadas pela firme procura, sobretudo externa – demandantes internacionais elevaram as aquisições no Brasil, devido à menor oferta na Argentina.
De acordo com o relatório do USDA, as exportações de farelo de soja do Brasil somaram 21,34 milhões de toneladas na temporada 2022/23 (de outubro/22 a setembro/23), o que levou o Brasil a se posicionar como o maior fornecedor mundial desse subproduto, à frente da Argentina (que, até então, era o principal exportador global de derivados de soja). Vale ressaltar que o Brasil não liderava as vendas externas de farelo desde a safra 1997/98. Em 2023 (de janeiro a dezembro), o Brasil exportou um recorde de 22,6 milhões de toneladas de farelo de soja, 11% acima do escoado em 2022, de acordo com a Secex.
Além disso, o consumo doméstico por farelo de soja cresceu pela 20ª safra seguida, alcançando volume recorde de 20,3 milhões de toneladas na safra 2022/23, de acordo com dados do USDA. De 2022 para 2023, na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços do farelo de soja caíram 4,6%, em termos reais.
No caso do óleo de soja, o produto negociado na região de São Paulo (com 12% de ICMS incluso) se desvalorizou 30,7% entre 2022 e 2023, com a média a R$ 5.530,90/tonelada, a menor desde 2019, em termos reais. Neste caso, a pressão veio da queda na demanda, sobretudo por parte do setor industrial.
De acordo com a Secex, o Brasil escoou 2,14 milhões de toneladas de óleo de soja neste ano, 10,45% abaixo do volume de 2022. À Índia, maior importador global de óleo, foram exportadas 1,2 milhão de toneladas em 2023, queda de 23,32% frente ao anterior (Assessoria de Comunicação, 8/1/24)