Soja industrializada gera PIB 107% superior à não processada
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Cadeia deste setor representa 27% do PIB do agronegócio e cresceu 58% desde 2010.
A cadeia da soja avança no país. Tem uma das principais evoluções do PIB (Produto Interno Bruto), remunera melhor os trabalhadores do setor do que a média do agronegócio e tem 2 milhões de pessoas ocupadas. O setor destoa, no entanto, quando se trata da abertura de postos de trabalho para as mulheres, principalmente na produção no campo.
A industrialização do produto tem gerado uma renda bem acima do resultado da comercialização da soja não processada, mas, tanto por questões internas como externas, a indústria não consegue acompanhar o desenvolvimento rápido da produção no campo.
No ano passado, a cadeia de soja e de biodiesel gerou um PIB de R$ 674 bilhões, um volume financeiro 58% acima do de 2010. Nestes 12 anos, o agronegócio acumulou aumento de 8%, e a economia, de 12%.
Principal produto da agricultura brasileira, a soja gerou um PIB de R$ 192 bilhões dentro da porteira no ano passado, mas foi fora dela que ocorreu a maior fatia das receitas. O agrosserviço, que incorpora transporte, comércio e demais elos dessa cadeia, foi responsável por uma agregação de R$ 363 bilhões. O restante do PIB veio da agroindústria, com R$ 77 bilhões, e do segmento de insumos, com outros 42 bilhões.
Os dados são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) e foram apresentados nesta quarta-feira (10) por Nicole Rennó Castro, pesquisadora do Cepea.
Para a pesquisadora, a evolução da produção de soja tem um ritmo maior do que o do processamento da oleaginosa. Em 2010, a soja participava com 23,8% do total da cadeia; a agroindústria, com 14,3%. No ano passado, a participação da soja já estava em 28,5% e a da agroindústria recuou para 11,4%.
A evolução do processamento interno é importante porque traz agregação de valor ao produto. No ano passado, a tonelada de soja processada agregou R$ 5.608 ao PIB, 107% a mais do que a soja produzida no campo e não processada.
André Nassar, presidente-executivo da Abiove, afirma que a indústria vem crescendo, mas o ritmo da evolução da área de plantio no campo é maior ano a ano, com crescimento de 1 milhão a 1,5 milhão de hectares anualmente.
Para Daniel Furlan Amaral, diretor de Economia e Assuntos Regulatórios da Abiove, as dificuldades para uma industrialização maior no Brasil ocorrem tanto por motivos internos como externos.
Internamente, os problemas vêm de questões tributárias, competitividade da logística e políticas públicas. Quanto a este último ponto, ele cita a alteração no cronograma percentual de mistura de biodiesel ao diesel ocorrida no ano passado.
Externamente, os grandes importadores, como a China, querem promover a industrialização do produto em seu território. Além disso, as exportações brasileiras são freadas por barreiras comerciais e pela necessidade de mais acordos comerciais.
Na verdade, há uma irracionalidade mundial quando se trata de processamento, segundo Geraldo Sant'Ana de Camargo Barros, coordenador científico do Cepea. O processamento tem de ser feito na região produtora, mas todo mundo quer se industrializar e isso representa uma perda líquida para a economia mundial. "Os países não colocam nos custos o quanto estão pagando para levar os grãos", afirma.
A cadeia de soja, que no ano passado trouxe US$ 61 bilhões com exportações e representou 38% das receitas externas do agronegócio brasileiro, é mais formalizada e tem uma escolaridade média superior à do restante do agronegócio, segundo Rennó.
Os dados do estudo mostram que 45% da população ocupada na cadeia de soja e de biodiesel têm ensino médio, 25% têm curso superior e apenas 2% não estudaram.
A pesquisadora destaca, no entanto, que é um mercado de trabalho predominantemente masculino. As mulheres representam apenas 34% da força de trabalho, abaixo dos 43% da média nacional. No setor de produção de soja, a participação da mão de obra feminina se reduz para apenas 17%.
O rendimento médio mensal é de R$ 2.912 nesta cadeia, 29% a mais do que a média do agronegócio. Na produção de soja, os rendimentos são de R$ 3.417, superando em 115% os desse setor.
Camargo, do Cepea, diz que há um estigma contra o agro e contra a soja. A pesquisa busca aumentar a produtividade tanto da soja como do feijão, do arroz e do trigo. No caso dos cereais, há uma falta de demanda, devido à pobreza e à globalização de todas as commodities. Elas têm influência do câmbio, bastante instável no país. É necessário um programa de transferência de renda para elevar a demanda interna, afirma (Folha de S.Paulo, 11/5/23)