Soja pode economizar 177 bi de litros de água no Nordeste e dobrar renda
Legenda: Colheita de soja na fazenda Lagoa Santa em Guaíra, no interior de SP Ricardo Benichio/Folhapress
Além de melhorar sustentabilidade ambiental, produtor poderia obter rendimento econômico maior, mostra pesquisa.
A produção de soja no Nordeste poderia economizar 177 bilhões de litros de água por safra. Esse volume seria suficiente para o abastecimento de toda a região por 16 dias.
Sendo que a produção do Nordeste representa apenas 10% de toda a soja produzida no Brasil, a economia de água seria bastante representativa no país todo.
Os dados fazem parte da aferição da ecoeficiência de produção do setor, utilizando-se os dados de produtividade registrados pelo Cesb (Comitê Estratégico de Soja Brasil) e a base algoritma do modelo matemático elaborado pela Fundação Espaço ECO.
O Cesb realiza anualmente um desafio de produtividade entre sojicultores para, com aprimoramento de métodos, buscar patamares mais elevados de produção.
Há 12 anos com esse desafio, o comitê já constatou produtividade de até 149 sacas por hectare. Neste ano, a média nacional medida pela Conab foi de 56 sacas, e a do Cesb, 119 sacas.
A Fundação Espaço ECO, mantida pela Basf, montou uma nova avaliação de critérios ambientais e econômicos, a fim de chegar a um único indicador de ecoeficiência nas propriedades dos agricultores.
Para chegar aos dados obtidos na pesquisa, a fundação levou em consideração dez parâmetros ambientais e diversos fatores econômicos, como custos de produção.
Entre as categorias de impactos ambientais, foram estudadas mudanças climáticas, esgotamentos de água e de recursos minerais, efeitos na camada de ozônio e uso da terra.
As análises foram possíveis porque os produtores participantes do desafio têm todos os dados do processo produtivo, como fertilizantes, defensivos, diesel, água etc.
Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa e um dos fundadores do Cesb, diz que não basta o produtor obter alta produtividade. Ele tem de ter também sustentabilidade.
Segundo ele, deve ser uma produtividade com renda. Tem de haver, ainda, um olhar sobre o social e outro sobre questões ambientais. “O discurso ficou repetitivo, e o Cesb foi buscar números para apresentar.”
Gazzoni afirma, porém, que o fato de um produtor estar abaixo da linha de produtividade do campeão do Cesb não significa que esteja produzindo sem sustentabilidade.
O aumento de produtividade, contudo, colocaria a produção de soja em um patamar econômica, social e ambientalmente mais sustentável, afirma.
Quanto à maneira de fazer, o pesquisador diz que não há uma bala de prata. É um conjunto de coisas. Algumas delas são de domínio dos produtores, como uma boa conservação do solo. Outras não, como os fatores climáticos.
O aumento de produtividade tem de vir acompanhado de maior renda. O produtor que obteve a maior produtividade no Nordeste, que é do Piauí, gastou 35% menos água e obteve um retorno de R$ 3,20 por cada real investido. O agricultor que ficou na média da região conseguiu R$ 1,40. Ou seja, o ganho do líder foi de 129%.
Ao avaliar os produtores do Sul, a Fundação Espaço Eco constatou que o campeão de produtividade reduziu em 59% a emissão de gás carbônico.
Se todo sojicultor do Sul tivesse adotado método de produção semelhante ao do campeão, haveria uma redução de 75 milhões de toneladas de gás carbônico emitidos para a atmosfera.
E a renda seria maior, uma vez que ele conseguiu R$ 2,80 por real investido. Os que ficaram na produtividade média obtiveram R$ 1,50 na região.
O líder de produtividade do Sul, um produtor do Paraná, obteve 119 sacas por hectare na safra 2019/20. Já o do Nordeste, localizado no Piauí, obteve 102 sacas (Folha de S.Paulo, 18/9/20)