29/01/2019

Soja transgênica perde atratividade em meio à guerra comercial

Pela primeira vez em 15 anos, o fazendeiro Steve Ruh, de Illinois, plantará apenas sementes de soja convencionais com o objetivo de aumentar os lucros em um mercado de nicho de alto padrão, abandonando as populares variedades geneticamente modificadas.

“As margens estão tão apertadas que procuramos qualquer coisa para gerar mais dólares por hectare”, disse Ruh, 50, em entrevista por telefone, de Sugar Grove, Illinois. Os futuros da soja em Chicago chegaram a cair 25 por cento em relação ao pico de março quando a China, envolvida em uma guerra comercial com os EUA, optou pela oferta brasileira após colheitas abundantes nas Américas.

Ruh disse que optou pela mudança em novembro. Ele plantará seus 607 hectares em abril, unindo-se aos produtores que buscam opções no mercado de alto padrão para aumentar os lucros, que estão em queda, e reduzir os custos das variedades de sementes modificadas, que são mais caras. Em 2018, os produtores americanos provavelmente enfrentaram a quarta queda no lucro líquido em cinco anos, enquanto os custos subiram 4,2 por cento, mostraram dados do governo.

A mediana de preço de uma saca de sementes de soja sem modificação genética é de US$ 39, contra US$ 54 no caso da variedade transgênica mais cara, disse Kevin McNew, economista-chefe da Farmers Business Network, em entrevista por telefone, citando o estudo de sua empresa.

Aron Carlson, que cultiva milho e soja em 1.450 hectares no norte de Illinois, planeja usar sementes mais convencionais neste ano e reduzir o total de hectares dedicados a oleaginosas.

“As épocas difíceis contribuem para a sobrevivência do mais apto”, disse Carlson, em entrevista por telefone, do condado de Winnebago, em Illinois. “Você precisa começar a procurar coisas diferentes.”

Surgem sinais de que a demanda por alimentos feitos com ingredientes sem modificação genética nos EUA está aumentando. Em 2018, 35 por cento dos consumidores entre 18 e 34 anos estavam “conscientes e preocupados” com os organismos geneticamente modificados, contra 25 por cento em 2013, segundo a empresa de pesquisas NPD Group.

O apelo nacional dos produtos não transgênicos e dos alimentos orgânicos está atraindo os produtores dos EUA, disse Greg Lickteig, diretor de grãos especiais da empresa cerealista Scoular, com sede em Omaha, Nebraska. Anteriormente, a demanda por essas culturas estava ligada ao Japão, à União Europeia e a outros mercados estrangeiros.

“Os agricultores estão voltando a se interessar por variedades de soja que não sejam biotecnológicas ou transgênicas”, disse Lickteig, em entrevista por telefone. “Isto não é apenas casual. É real.”

Prêmios da soja

A Clarkson Grain ofereceu prêmios aos produtores de até US$ 2,50 por bushel sobre os futuros para certas variedades de soja não transgênica no próximo ano. O interesse dos produtores está aumentando, disse Ashley Brown, uma comerciante da empresa com sede em Cerro Gordo, Illinois, em entrevista por telefone.

A Monsanto, que agora faz parte da Bayer, desenvolveu o herbicida campeão de vendas Roundup na década de 1970. Desde que a empresa começou a vender sementes que suportam o produto químico, em 1996, a maioria dos produtores de milho e soja dos EUA adotou a tecnologia.

No ano passado, 94 por cento dos 36,2 milhões de hectares de soja dos EUA continham variedades de sementes resistentes a herbicidas, segundo dados do governo. A China é a maior consumidora de soja do mundo, e o Brasil e os EUA são os maiores produtores e exportadores (Bloomberg, 28/1/19)