27/03/2019

Sojicultores de 10 Estados seguem MT contra Bayer por Intacta

Sojicultores de 10 Estados seguem MT contra  Bayer por Intacta

Associações de produtores de soja de outros 10 Estados brasileiros pediram à Justiça que seja estendida a elas liminar que obriga a gigante do agronegócio Bayer a depositar em juízo os royalties cobrados de sojicultores pela semente Intacta RR2 Pro, de acordo com um documento visto pela Reuters.

Atualmente, tal decisão vale para a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), mas segundo petição protocolada em 13 de março na Justiça daquele Estado, as Aprosojas de Piauí, Amapá, Pará, Bahia, Maranhão, Paraná, Rondônia, Santa Catarina, Tocantins e Goiás também requerem que seus associados sejam contemplados.

O imbróglio envolvendo produtores de soja e a Bayer começou no fim de 2017, quando a Aprosoja-MT foi à Justiça Federal, alegando que o registro da patente da Intacta não estaria cumprindo os requisitos legais previstos na Lei de Propriedade Intelectual.

Em julho de 2018, o juiz responsável pelo caso ordenou que os royalties pagos pelos produtores pelo uso da semente de soja fossem depositados em juízo pela companhia até o fim do litígio da patente, que pertencia à antiga Monsanto, companhia adquirida no ano passado pela Bayer. A proteção vai até outubro de 2022.

Só em Mato Grosso, o cálculo é de que os depósitos pela Bayer seriam de quase 800 milhões de reais. O valor iria a 2,6 bilhões de reais se a Justiça decidir pelo mesmo para os outros 10 Estados, disse uma fonte a par do caso, pedindo anonimato.

Na petição, as Aprosojas alegam que a validade da patente da Intacta é nula e requerem “a extensão da liminar para todas as demais associações que ofertaram tempestivamente seus pedidos de habilitação nestes autos, a fim de que a Monsanto seja obrigada a realizar o depósito judicial dos royalties recebidos pela exploração da tecnologia Intacta RR2 Pro dos associados das ora peticionárias desde 3 de julho de 2018 (data do deferimento do pedido liminar subsidiário)”.

Procuradas para comentar o assunto, as Aprosojas de Piauí, Bahia, Paraná, Santa Catarina, Tocantins e Goiás não responderam de imediato. A Aprosoja do Pará confirmou o assunto.

Não foi possível entrar em contato com as Aprosojas de Amapá, Rondônia e Maranhão.

MATO GROSSO

Um outro documento ao qual à Reuters teve acesso mostra que a Aprosoja-MT entrou com petição na Justiça pedindo que a Bayer deposite em juízo royalties que, segundo a associação, foram devidamente pagos pelos produtores mato-grossenses, mas não depositados pela empresa.

No início de fevereiro, a Reuters revelou que tal depósito judicial estava abaixo do acordado, segundo avaliação dos sojicultores daquele Estado.

A Aprosoja-MT alega, na petição protocolada na Justiça de Mato Grosso, que a Bayer depositou apenas 4 por cento do montante total pago pelos produtores, ou 11,23 milhões de reais.

Pelos seus cálculos, a gigante do agronegócio deveria ter depositado até agora 280,69 milhões de reais, efetivamente recebidos dos produtores.

Conforme o documento, a entidade pede multa diária “em valor não inferior a 200 mil reais... até que seja efetuado o depósito da integralidade dos royalties recebidos pela Monsanto, ante o reiterado descumprimento da medida liminar”.

Ou seja, os produtores estão cobrando que a Monsanto também deposite o saldo do montante de royalties recebido no Estado, até que se chegue ao valor estimado de quase 800 milhões de reais.

Procurada para comentar o assunto, a Aprosoja-MT não respondeu de imediato. A Bayer disse que vai se manifestar no processo judicial, tanto em relação à demanda das outras Aprosojas quanto ao pedido da associação de Mato Grosso.

Anteriormente, contudo, a associação já havia dito que “enquanto os produtores rurais seguiram cumprindo sua parte realizando os pagamentos, novamente a empresa demonstra desrespeito e falta de transparência não realizando o pagamento conforme determinado pelo Judiciário”.

A Bayer, por sua vez, já disse que “cumpriu e cumpre rigorosamente todas as decisões judiciais” e que “valoriza o diálogo e a transparência em suas comunicações e lamenta a atitude da Aprosoja-MT com claro propósito difamatório”.

“A Bayer permanece segura quanto à validade de suas patentes e dos demais direitos relativos à propriedade intelectual e tem certeza de que, assim como inúmeras outras empresas de pesquisa e desenvolvimento, contribui com inovações importantes para o crescimento da agricultura no Brasil.” (Reuters, 26/3/19)