Sul de Minas perde 19% do potencial da safra de café de 2022 após geada

CAFE CO GEADA Roberto Samora Reuters
A onda fria atingiu a área mais importante da produtora; a informação foi divulgada pela trading do setor Comexim
O Sul de Minas Gerais perdeu 19% de seu potencial de colheita de café para a próxima temporada depois que uma onda de geadas em junho e julho atingiu a área produtora mais importante do maior exportador mundial da commodity, disse a trading do setor Comexim.
“A geada atingiu com força e danos consideráveis foram feitos”, disse a trading, enquanto o mercado global de café continua avaliando a situação no Brasil em meio a opiniões contrastantes sobre o quão ruim será a safra de 2022.
A nova projeção da Comexim é uma atualização ante a visão anterior da exportadora, que estimava dano potencial de 12,5% à safra do sul de Minas.
A companhia também vê perdas potenciais de 13% para a safra cafeeira de São Paulo, segundo maior produtor de café arábica do Brasil, de 13% para a área do Cerrado Mineiro, e de 11% para o Paraná, um produtor menor do grão.
A safra de 2022 do Brasil seria um ano positivo no ciclo de produção bienal do arábica, que alterna anos de maior e menor colheita. A temporada atual foi um duro ano do ciclo negativo, já que a pior seca dos últimos 90 anos no país tornou a produção ainda menor do que o normal. A Comexim acredita que os preços de referência do café arábica em Nova York ainda não refletiram adequadamente os danos causados no Brasil.
“Os ventos calmos do mercado, que negociou na faixa relativamente estreita entre US$ 0,171 a US$ 0, 182 por libra-peso na semana passada, nos faz imaginar o que está acontecendo, porque os danos da geada apontaram para um mercado altista que ainda não se tornou realidade”, disse a trading (Reuters, 11/8/21)
Geada e seca no Brasil podem desequilibrar mercado externo de café
Preocupação da OIC (Organização Internacional do Café) é que a oferta fique abaixo da demanda.
As intensas geadas que atingiram parte das principias regiões produtoras de café do Brasil vão provocar um desequilíbrio no mercado internacional. A oferta mundial de produto vai ficar muito restrita e inferior à demanda.
A preocupação é da OIC (Organização Internacional do Café). Na safra 2019/20, a produção mundial tinha superado em 3,2% a demanda. Na seguinte, em 1,4%. Na próxima, porém, a oferta deverá cair para um patamar inferior ao do consumo.
Como maior produtor mundial, a participação do Brasil tem sido fundamental para abastecer o mercado internacional, que vem crescendo 1,7% anualmente desde 2010, segundo relatório da OIC.
Há dois anos o país vem exportando acima de 40 milhões de sacas, um volume que poderá não ser atingido até que haja uma recuperação dos cafezais brasileiros afetados pelas geadas.
Em 2019, as exportações totais de café brasileiro somaram 40,7 milhões de sacas, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). No ano passado, foram 44,7 milhões.
As vendas externas deste ano mantiveram tendência de alta no acumulado até julho. Foram exportados 23,7 milhões de sacas, 2,2% a mais do que em igual período anterior. Em julho, no entanto, primeiro mês da safra 2021/22, as vendas caíram 12,8%.
As geadas vão afetar a safra 2021/22, um período que seria de produção em alta. A de 2020 atingiu 63 milhões de sacas, e a deste ano, 48 milhões, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Os dados da safra de 2021 são de maio, e deverão ser revisados. A produção de café tem uma bienalidade: um ano a safra é boa, mas na seguinte o volume é menor.
A preocupação com a oferta de café, devido a dificuldades futuras de fornecimento em várias regiões produtoras, fez os preços dispararem. O valor do arábica é o maior desde 2014, e o preço de julho supera em 44% o de outubro de 2020, início da safra mundial, segundo a OIC.
Crise climática no Brasil, distúrbios sociais na Colômbia, segundo maior produtor mundial de arábica, e dificuldades logísticas para o transporte do café provocaram tendência de alta nos preços nos dez primeiros meses da safra mundial.
Os preços são amparados, ainda, por boas perspectivas de aumento da demanda, principalmente após a redução de medidas de proteção impostas pela pandemia, segundo avaliação dos técnicos da OIC.
As exportações mundiais de julho de 2020 a junho de 2021 somaram 129,7 milhões de sacas, com alta de 0,6%. Já a produção atingiu 169,6 milhões de sacas, com crescimento de apenas 0,3%. O consumo mundial subiu para 167,6 milhões de sacas, com alta de 1,9%, mas ainda está 0,8% abaixo do que era antes da pandemia.
Como resposta a esse cenário interno e externo, o preço da saca de café arábica esteve em R$ 1.018 nesta quarta-feira (11) no Brasil, com alta de 82% em 12 meses. Os dados são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) (Folha de S.Paulo, 12/8/21)