19/03/2018

Suzano compra Fibria e cria gigante global de celulose de R$ 84 bi

Suzano compra Fibria e cria gigante global de celulose de R$ 84 bi

Família Feffer, dona da Suzano, terá o controle acionário da nova companhia, com 46,4% de participação; operação, que dá origem à quinta maior empresa na bolsa brasileira, prevê troca de ações e um pagamento de R$ 29 bilhões aos acionistas da Fibria.

A Suzano, da família Feffer, anunciou ontem acordo para unir os negócios com sua maior rival, a Fibria, líder na produção global de celulose, criando uma gigante do setor, com produção de 11 milhões de toneladas. Após algumas tentativas frustradas no passado, as conversas para a união das duas empresas foram retomadas nas últimas semanas, conforme antecipou o ‘Estado’. A operação prevê troca de ações e o pagamento de R$ 29 bilhões da Suzano aos acionistas da Fibria para que os Feffer assumam o controle acionário da nova companhia, com fatia de 46,4%. A retomada das negociações para essa fusão havia sido antecipada pelo Estadão no mês passado.

Pelo acordo, a união entre as duas empresas cria a quinta maior companhia em valor de mercado, avaliada em R$ 84 bilhões (incluindo dívidas), atrás de Petrobrás, Ambev, Vale e Telefônica. A nova gigante da celulose terá quase o dobro de tamanho das empresas da família Widjaja, dona Paper Excellence e da Asia Pulp and Paper (APP), que também estava no páreo pela Fibria. A família indonésia é sócia da Eldorado, ao lado da J&F, dos irmãos Batista.

Para selar o acordo, a Suzano precisou do aval dos acionistas controladores da Fibria – o grupo Votorantim e o braço de participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDESPar), que possuem, respectivamente, fatias de 29,42% e 29,08% na líder de celulose. Tanto os Ermirio de Moraes quanto o BNDESPar vão receber, cada um, cerca de R$ 8,5 bilhões em dinheiro. Os R$ 12 bilhões restantes vão para os acionistas minoritários. 

O BNDESPAr, que também é acionista da Suzano, com 6,9% de fatia, ficará com uma participação 11,1% na nova empresa e a família Ermírio de Moraes, com 5,6%. “Foi um alinhamento dos astros a concretização dessa operação”, disse Walter Schalka, presidente da Suzano e um dos responsáveis pela condução das negociações. 

Para viabilizar a união das empresas, a Suzano propôs pagar aos acionistas da Fibria R$ 52,50 por ação, corrigidos pelo CDI, além de 0,4611 ação da Suzano. A operação prevê emissão pela Suzano de 255 milhões de novas ações. Todas essas etapas só vão ocorrer quando as empresas receberem aval das autoridades de defesa da concorrência. A Suzano levantou US$ 9,2 bilhões com os bancos Mizuho, JP Morgan, BNP Paribas e Rabobank. O Itaú BBA, o escritório Cescon Barrieu e a consultoria financeira Riza assessoraram a Suzano. Já a Fibria contou com o banco Morgan Stanley e o escritório Tozzini Freire. 

Gigante mundial

“Não teremos uma campeã nacional, mas uma gigante global com competitividade para fazer frente aos principais concorrentes”, disse ontem Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES, durante o anúncio oficial da união das duas empresas. 

As ações das duas companhias fecharam como destaques do Bovespa, mas em sentidos opostos. Os papéis ordinários (ON) da Suzano dispararam 21,79%, a R$ 28,50, enquanto os da Fibria recuaram 10,22%, a R$ 64,25. O valor de mercado das duas empresas, juntas, na Bolsa fechou ontem em R$ 66 bilhões. A operação, com potencial para mudar a dinâmica do mercado de global de celulose e que dará mais poder ao Brasil na queda de braço com a China, deve se destacar com uma das maiores transações de fusões e aquisições no mercado brasileiro deste ano.

Analistas dizem que o negócio é bom para as duas produtoras de celulose, mas que, no curto prazo, os acionistas da Suzano terão mais vantagens que os da Fibria, por causa do valor a ser pago pela primeira. 

Ontem, a agência de classificação de risco S&P Global elevou o rating em escala global da Suzano de BB+ para BBB- e reafirmou a nota em escala nacional em brAAA. A perspectiva foi alterada de positiva para estável. Já o rating em escala global da Fibria foi reafirmado em BBB-, com perspectiva estável.

Em comunicado, a S&P comentou que a elevação da nota da Suzano reflete a visão da agência de que a empresa está “empenhada em conter sua alavancagem dentro dos limites de sua política financeira”. 

Para a S&P, a transação feita pelas duas empresas “não fará com que a Suzano se desvie de seus padrões de alavancagem, dado o histórico da empresa e nossa confiança em termos do nível sustentável de métricas de crédito da Suzano” (O Estado de S.Paulo, 17/3/18)

 


‘Todas as decisões serão por meritocracia’, diz presidente da Suzano

Embora nova empresatenha fatia majoritária dos acionistas da Suzano,executivo diz que não‘há lados preferidos’.

A união dos negócios de Suzano e Fibria vai trazer economias de R$ 8 bilhões a R$ 10 bilhões para a nova companhia. Segundo o presidente da Suzano, Walter Schalka, há ganhos na área florestal, em logística e também no setor administrativo. Na hora de capturar sinergias, afirma ele, não haverá privilegiados. “Todas as decisões serão baseadas na meritocracia, no que é melhor para o futuro. Nesse processo, o funcionário de uma pessoa não será melhor do que o da outra”, disse ao Estado ontem.

Schalka também falou sobre a importância do acordo para o agronegócio do País e sobre como fica o endividamento da Suzano após o negócio. Leia os principais trechos:

O que a união de Fibria e Suzano representa para o País?

O setor de agronegócio dá orgulho imenso para o Brasil e mostra que temos coisas positivas acontecendo no País. A união de Fibria e Suzano mostra que é possível que empresas brasileiras sejam competitivas em nível global.

Existe riscos de reprovação por órgãos como o Cade?

Vamos fazer consultas não só ao Cade, mas também a outros órgãos reguladores de outros países, seguiremos tudo à risca. Mas entendemos que a celulose é uma commodity, regulada pelos ciclos de preços internacionais, e por isso o negócio não precisaria dos remédios que geralmente são aplicados em fusões para evitar danos à concorrência. Fizemos uma operação absolutamente limpa em todos os aspectos, com todos os acionistas da Fibria recebendo o mesmo valor.

Quais são as oportunidades de economias com o negócio?

Suzano e Fibria têm várias oportunidades de sinergia, especialmente na área florestal, na de suprimentos e logística internacional. Claro que também há oportunidades de sinergia em despesas gerais e administrativas. Mas todas as decisões serão baseadas na meritocracia, no que é melhor para o futuro. Nesse processo, o funcionário de uma empresa não será melhor do que o da outra.

A empresa funcionará com uma nova marca?

Ainda não discutimos isso, pois estávamos focados em fazer o processo (de união dos negócios) acontecer. Por motivos tributários, as duas empresas serão mantidas separadas, por enquanto. Ainda não decidimos o nome de fantasia.

A fusão afeta o projeto de produção de industrializados da Suzano, lançado recentemente?

Não, o projeto de industrializados continua. Não muda nada para o projeto de produtos de consumo nem para o de papel.

Como fica o endividamento com a empresa após o empréstimo para pagar a aquisição de Fibria?

Nossa política financeira é manter nossa alavancagem entre 2 e 3 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). Em períodos de investimento como esse, podemos chegar a 3,5 vezes o Ebitda. Já mostramos que, ao fim do ano, mesmo com um investimento deste tamanho, já estaremos no patamar desejado. É natural que, nos próximos anos, sejamos mais conservadores em investimentos por essa razão. Mas vale lembrar que, no passado, a alavancagem já foi muito maior, de 5,2 vezes o Ebitda, quando lançamos o projeto de Imperatriz (MA) da Suzano (O Estado de S.Paulo, 17/3/18)