Tarcísio diz a empresários que procurará diretamente governadores nos EUA

Foto Pablo Jacob Governo do Estado de SP
Em encontro com representantes de empresas, governador disse não haver disputa com gestão federal.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse a empresários, durante reunião no Palácio dos Bandeirantes, que vai buscar uma "relação paradiplomática" com os Estados Unidos e que pretende negociar diretamente com governos estaduais americanos, além de acionar senadores dos EUA.
Conforme informações obtidas pela Folha, Tarcísio disse que "não há disputa" com o governo federal, mas que o estado paulista precisa agir até onde for possível para evitar os impactos da crise que pode ser causada pela sobretaxa de 50% sobre as exportações brasileiras anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Diferente da diplomacia oficial realizada entre representantes do governo central do país, a relação paradiplomática se refere à atuação internacional entre entes subnacionais, como os estados de cada país.
O encontro entre Tarcísio e empresários aconteceu na manhã desta terça-feira (15) e durou cerca de uma hora e meia, até por volta das 11h30. O governador esteve reunido com representantes de empresas como Embraer, Cutrale, Minerva e Usiminas, além de representantes da indústria do café e do aço. O empresário Rubens Ometto, do Grupo Cosan, estava entre os presentes. Ao final da reunião, todos saíram por uma saída alternativa do Bandeirantes, sem falar com a imprensa.
A reunião também teve a participação do encarregado de negócios dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, além do cônsul-geral interino, Benjamin Wohlauer. Como os EUA estão sem embaixador no Brasil, Escobar é o principal nome da embaixada no Brasil para assuntos comerciais.
O encontro foi acompanhado por 18 pessoas, entre representantes de empresas e instituições setoriais. Um dos presentes foi José Vicente Santini, que foi secretário-executivo da Casa Civil durante o governo Jair Bolsonaro (PL) e acabou demitido, após ser divulgado que ele utilizou um jato da Força Aérea Brasileira (FAB) para se deslocar da Suíça (Fórum Econômico Mundial, em Davos) até a Índia. Santini foi nomeado por Tarcísio de Freitas para chefiar o escritório do governo de São Paulo em Brasília.
Durante a reunião, o secretário de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Jorge Lima, disse que, como o núcleo de Donald Trump "é muito restrito", a única saída possível seria pressionar os parceiros americanos, para demonstrar que o cenário traria prejuízo para todos. Lima disse que essa estratégia tem sido usada por outros países e apresentado resultado.
O tom do encontro teve a intenção de demonstrar que Tarcísio não pretende radicalizar, que seria de perfil moderado e que pretende explorar brechas para negociações setoriais.
Uma das preocupações diz respeito ao setor de aviação. No ano passado, esse foi o maior exportador de São Paulo, responsável pela venda de US$ 2,2 bilhões em aviões para os americanos. O segundo maior mercado foi o setor petroleiro, inclusive com a venda de combustíveis, seguido por suco de laranja e carne bovina. Maquinários como tratores e pás carregadeiras também têm destaque nas exportações paulistas para os EUA.
O estado é o principal exportador de produtos agropecuários e derivados para os EUA. O setor somou US$ 1,9 bilhão no primeiro semestre, 30% do que os paulistas exportaram para o mercado americano no período.
O encontro em São Paulo ocorre de forma paralela a agendas marcadas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta terça-feira (15), em Brasília. Os encontros são liderados pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.
Lula determinou na noite de domingo (13) a criação de um comitê interministerial para conversar com os setores mais afetados pela sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros. Ele já tinha avisado aos ministros que se reunirá pessoalmente com empresários para tratar desse tema, de acordo com fonte que participou da reunião organizada pelo petista no domingo.
Alckmin irá presidir esse comitê, que também será formado pelos ministros Rui Costa (Casa Civil), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda). Segundo o vice-presidente, a primeira tarefa do comitê será "conversar com o setor privado".
Alckmin afirmou que, uma reunião pela manhã, reunirá representantes de setores da indústria que têm maior relação comercial com os EUA, entre eles do alumínio, da celulose, dos calçados e das autopeças. À tarde, ocorrerá reunião com setores do agronegócio (como suco de laranja, carnes, frutas, pescados e mel). O presidente da República não deverá participar desses encontros, mas ministros que integram o comitê e outros cujas pastas têm relação com os setores serão convidados.
Ele afirmou ainda que deverá ocorrer novos encontros desse tipo, inclusive com entidades e empresas americanas. "Evidente que as empresas americanas também vão ser atingidas. Vamos conversar, também, com as empresas americanas e a com as entidades do comércio Brasil-Estados Unidos, como a Amcham [Câmara Americana de Comércio para o Brasil]", disse.
Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, errou ao tentar negociar uma saída para as tarifas de 50% com a Embaixada dos Estados Unidos. "É um desrespeito comigo", disse à Folha.
"Nós já provamos que somos mais efetivos até do que o próprio Itamaraty. O filho do presidente, exilado nos Estados Unidos. Queria buscar uma alternativa lateral. É um desrespeito comigo. Mas eu não estou buscando convencimento da população, eu estou buscando pressionar o Moraes."
Eduardo afirma ainda que não se arrepende da pressão que fez por retaliações ao Brasil nos EUA mesmo que isso possa favorecer o presidente Lula (PT). Diz também que só voltará ao Brasil se o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), sofrer sanções do governo dos Estados Unidos.
Associações e empresas que participaram do encontro
- Ciesp
- Abics (Associação Brasileira de Café Solúvel)
- Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne)
- Café Olam
- Café solúvel ldc
- Caterpillar
- Cecafé
- Cooxupé
- Cosan
- Cetsesp
- Cutrale
- Eisa grupo
- Ecom
- Embraer
- Grupo indusparquet
- Minerva
- Sylvamo
- Usiminas
- NKG Stockler (Folha, 16/7/25)
Papel na mão de Alckmin diz que Tarcísio 'pode e deve' defender SP de sobretaxa de Trump
Geraldo Alckmin Foto Adriano Machado Reuters
Assessoria diz que anotações foram produzidas por equipe e que vice-presidente não usou informações em reunião com empresários.
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) recebeu de sua equipe, para a reunião com empresários em razão da sobretaxa comercial dos Estados Unidos, anotações que afirmam que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), "pode e deve" atuar em defesa das empresas e do agronegócio do estado.
O papel estava na mão de Alckmin após o encontro. O vice-presidente não citou Tarcísio na entrevista que concedeu a jornalistas depois do encontro e, segundo auxiliares, também não mencionou o governador durante a conversa reservada.
De acordo com esses interlocutores de Alckmin, o papel continha uma lista de informações selecionadas por sua equipe para o caso de tais temas surgirem nas conversas. Esse material, segundo eles, pode ser acolhido pelo vice-presidente ou não, para respostas ou posicionamentos.
"O governador Tarcísio de Freitas pode e deve atuar em defesa das empresas e do agro de São Paulo. Nós, do governo federal, sabemos diferenciar ideologia de ações práticas em defesa da economia e dos empresários brasileiros", diz um dos pontos, impressos no papel.
"Não queremos apagar incêndios simplesmente, mas sim construir um caminho de prosperidade", afirma outro trecho.
A Folha questionou Alckmin, que respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que aquelas "são anotações entregues ao vice-presidente, e não de sua autoria, que ele sequer usou".
O papel também continha anotações escritas à mão, por Alckmin, com menções à Lei de Reciprocidade e a seu comitê de negociação, bem como ao principal negociador comercial de Donald Trump, Jamieson Greer.
Tarcísio de Freitas passou a ser duramente criticado pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por defender uma saída negociada para a sobretaxa imposta pelos EUA —o estado de São Paulo deve ser o mais impactado pela medida comercial.
Eduardo foi morar nos Estados Unidos para tentar fazer com que Donald Trump apoiasse seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente réu no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a tentativa de golpe em 2023.
Em outro ponto da folha de briefing de Alckmin, também impresso, há uma referência ao aspecto judicial da guerra comercial.
“É contra o governo, mas inimigo do Brasil", diz a anotação.
Na abertura da reunião com empresários do setor produtivo, Alckmin havia feito um apelo semelhante. "Primeiramente, [temos que] separar questões de natureza jurídica", disse o vice-presidente, no encontro.
"A separação dos Poderes é pedra fundamental do estado [democrático] de direito, o governo não tem ação sobre outro Poder, e em relação à questão das tarifas, trabalhamos para reverter."
Bolsonaristas vêm defendendo que a única solução para o tarifaço é uma "anistia ampla, geral e irrestrita". Já Lula e seus aliados vêm culpando justamente a atuação dos bolsonaristas, em especial de Eduardo Bolsonaro.
A reunião com o setor produtivo faz parte de uma série de agendas que o governo federal pretende realizar para avaliar estratégias contra o tarifaço de Donald Trump.
Produtos importados pelos EUA do Brasil são sobretaxados atualmente em 10%, tarifa anunciada por Trump em 2 de abril. Ou seja, além das tarifas de importação já cobradas, há uma cobrança adicional de 10%. Essa alíquota será substituída pela de 50% a partir de 1º de agosto.
Um exemplo é o caso do etanol, de acordo com interlocutores. Os americanos impunham uma tarifa de 2,5% ao produto, elevada a 12,5% após a sobretaxa de 10%. Com o novo anúncio, a porcentagem sobe a 52,5% em agosto.
A sobretaxa não é adicionada a produtos que já sofrem tarifas setoriais, como aço e alumínio, sobre os quais há tarifas de 50%.
Participaram do encontro por parte do governo o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros Rui Costa (Casa Civil), a embaixadora Maria Laura da Rocha (substituta no Itamaraty), Fernando Haddad (Fazenda), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) e Simone Tebet (Planejamento).
Pelo menos 30 representantes do setor produtivo marcaram presença, dentre eles, Francisco Gomes Neto (Embraer), Ricardo Alban (CNI), Josué Gomes da Silva (Fiesp), além de líderes de entidades ligadas aos calçados, alumínio, indústria têxtil, madeira, minerais, automóveis e aço (Folha, 16/7/25)