Tarifas de Trump afetam 'índice Big Mac'; Brasil é 31º no ranking

The Economist usa preços do sanduíche ao redor do mundo para mostrar distorções nas taxas de câmbio;
As taxas de importação americanas continuam aumentando. Em 1º de agosto, impostos sobre mais de 20 países, além da União Europeia, entrarão em vigor, a menos que negociem acordos nesse meio tempo. Em 14 de julho, o presidente Donald Trump disse que imporia "tarifas secundárias" de 100% sobre países que fazem negócios com a Rússia, caso esta não chegue a um acordo de paz com a Ucrânia em 50 dias. Tais ameaças devem ser consideradas com uma boa dose de ceticismo: Trump tem o hábito de recuar se os mercados ficarem turbulentos. Mas a tendência é clara. A taxa tarifária efetiva média dos EUA já subiu para 17%, de 2,5% no ano passado.
Entre os erros que Trump espera corrigir com suas tarifas —da guerra da Rússia contra a Ucrânia a uma "caça às bruxas" contra Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente do Brasil— um se destaca. Outros países exploram os Estados Unidos, na visão do presidente, ao venderem persistentemente mais aos americanos do que compram deles. Alguns mantêm superávits comerciais, pensa Trump, manipulando suas moedas para tornar as exportações artificialmente baratas. Seis meses após seu retorno à Casa Branca, quão bem-sucedido ele tem sido em conter esse jogo sujo?
Talvez seja uma questão muito substancial para ser respondida estudando hambúrgueres. Ainda assim, vamos tentar. Por quase quatro décadas, a The Economist tem produzido o índice Big Mac, que usa os preços dessa iguaria homônima ao redor do mundo para construir um guia rápido e simples sobre distorções nas taxas de câmbio.
A teoria é que as moedas deveriam ter "paridade de poder de compra", o que significa que suas taxas de câmbio deveriam se ajustar para garantir que cada uma possa comprar a mesma quantidade de produtos.
Comparar os preços dos Big Macs é conveniente porque o hambúrguer é essencialmente o mesmo em todos os países (exceções notáveis incluem Israel, onde é servido sem queijo, e Índia, onde o "Maharaja Mac" é feito de frango). A paridade de poder de compra sugere que, com um Big Mac taiwanês custando 78 dólares taiwaneses e um americano US$ 6,01, a taxa de câmbio das moedas deveria ser a proporção entre os dois preços. Portanto, US$ 1 deveria comprar 13 dólares taiwaneses. Na realidade, compra 29. O índice Big Mac conclui, portanto, que o dólar taiwanês está muito desvalorizado em relação ao dólar americano, em cerca de 56%.
Poucas moedas estão tão desvalorizadas quanto o dólar taiwanês, embora a rupia indiana (56%) e a rupia indonésia (57%) estejam ainda mais. No entanto, pode parecer surpreendente que tantas tenham permanecido baratas. O dólar americano, afinal, caiu 10% em relação a uma cesta de outras moedas desde um pico em janeiro, quando atualizamos pela última vez o índice Big Mac. Para aqueles, como Trump, que poderiam ter esperado que essa queda tornasse as exportações americanas mais competitivas, a persistente carestia do dólar (em termos de poder de compra de hambúrgueres) é desanimadora.
Particularmente notáveis são os países problemáticos que o Departamento do Tesouro americano monitora por potencial manipulação cambial. Ele escolhe estes com base em superávits comerciais bilaterais com os EUA, superávits mais amplos com o mundo e intervenção unilateral no mercado de câmbio. Trump ficará contente ao ver que os países europeus da lista (Alemanha, Irlanda e Suíça) viram suas moedas se tornarem marcadamente mais caras em relação ao dólar. Mas os outros são China, Japão, Cingapura, Coreia do Sul, Taiwan e Vietnã. Nenhuma de suas moedas se tornou mais do que marginalmente menos desvalorizada desde janeiro. A maioria está agora ainda mais barata.
O que explica essa tendência? Mesmo com o enfraquecimento do dólar no mercado de câmbio, o preço de um Big Mac americano aumentou —de US$ 5,79 em janeiro para US$ 6,01 hoje. Os preços dos hambúrgueres nos países asiáticos da lista de monitoramento do Tesouro, enquanto isso, permaneceram constantes. Suas moedas podem agora comprar mais dólares do que anteriormente, mas esses dólares compram menos coisas. Em termos de poder de compra, isso compensa a mudança nas taxas de câmbio.
Há uma parábola aqui para Trump. Seu secretário do Tesouro, Scott Bessent, costumava dizer que o dólar se fortaleceria após a imposição de tarifas, compensando o impacto de taxas mais altas sobre os consumidores americanos. Em vez disso, enfraqueceu, à medida que investidores internacionais perderam certa confiança na formulação de políticas da Casa Branca.
O resultado é que os americanos serão atingidos pelo duplo golpe de impostos mais altos e uma moeda mais fraca ao comprar importações. Indícios disso já estão aparecendo nos preços ao consumidor, que subiram 2,7% no ano até junho. Amantes de hambúrgueres ou não, os americanos estão sendo pressionados, enquanto sua moeda não se torna mais competitiva.
VEJA POSIÇÃO DO BRASIL NO RANKING BIG MAC
1º - Suíça (49,6)
2º - Uruguai (29,6 )
3º - Noruega (22,1)
4º - Suécia (21,8)
5º - Dinamarca (16,6)
6º - Zona do Euro (15,2)
7º - Reino Unido (13,5)
8º - Estados Unidos (0)
9º - Costa Rica (-1,0)
10º - Israel (-1,1)
11º - Polônia (-3,4)
12º - Colômbia (-5,2)
13º - Turquia (-6,9)
14º - Canadá (-9,0)
15º - Singapura (-10)
16º - Líbano (-10,8)
17º - México (-12,2)
18º - Austrália (-13,2)
19º - Emirados Árabes Unidos (-13,9)
20º - República Tcheca (-14,6)
21º - Argentina (-14,6)
22º - Nova Zelândia (-14,8)
23º - Arábia Saudita (-15,7)
24º - Bahrein (-20,6)
25º - Peru (-21,2)
26º - Catar (-22,3)
27º - Chile (-22,6)
28º - Nicarágua (-23,2)
29º - Kuwait (-23,8)
30º - Hungria (-25,7)
31º - Brasil (-28,4)
32º - Honduras (-29)
33º - Venezuela (-30)
34º - Tailândia (-30,7)
35º - Moldávia (-30,8)
36º - Guatemala (-32,7)
37º - Coreia do Sul (-33,7)
38º - Omã (-34)
39º - Romênia (-35,5)
40º - Azerbaijão (-36,8)
41º - Paquistão (-36,9)
42º - China (-40,9)
43º - Jordânia (-41,3)
44º - Japão (-46,3)
45º - Malásia (-46,9)
46º - Hong Kong (-47)
47º - Ucrânia (-47,5)
48º - África do Sul (-49,8)
49º - Filipinas (-50,4)
50º - Vietnã (-51,6)
51º - Taiwan (-55,7)
52º - Índia (-56,2)
53º - Indonésia (-57)
54º - Egito (-57,9)
Texto da The Economist, traduzido por Matheus dos Santos, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com (The Economist, 18/7/25)