Tecnologia no campo, ainda um desafio – Editorial O Estado de S.Paulo
A internet não chega a mais de 70% das propriedades rurais, de acordo com estudo divulgado pelo IBGE.
Carência de infraestrutura pública para levar energia até o produtor, inexistência de sinal ou ocorrência de obstáculos à sua propagação, gargalos para o acesso a diferentes tecnologias, entre outros fatores, tornam a agricultura brasileira menos produtiva do que poderia e tendem a condenar boa parte dos produtores rurais à condição econômica em que vivem, impedindo a melhora de suas condições de vida.
A internet não chega a mais de 70% das propriedades rurais, de acordo com o Atlas do Espaço Rural Brasileiro editado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Reportagem especial de Vinicius Valfré publicada pelo Estado na edição de domingo tem números mais precisos – e mais decepcionantes. Ela mostra que, de acordo com pesquisa da McKinsey & Company, apenas 23% dos agricultores brasileiros têm acesso à rede mundial de computadores. Com o uso de outros meios, uma fatia bem mais expressiva, de 57,5% dos produtores rurais, tem acesso à rede social.
São índices muito baixos se comparados com os observados no meio urbano, onde praticamente qualquer criança opera equipamentos com acesso à internet e às redes sociais.
Embora o estudo do IBGE mostre que, em 2017, 83% dos estabelecimentos agropecuários tinham acesso à rede de energia elétrica, resultado 22% maior do que o de 2006, a reportagem mostra casos em que a falta de eletricidade inviabiliza a modernização das propriedades. Irrigação, refrigeração e outros processos tornam-se inviáveis sem energia elétrica.
A falta de informações ou de troca de conhecimentos propiciada pela internet dificulta a disseminação de métodos mais eficientes, medidas profiláticas eficazes ou melhor conhecimento do mercado.
Políticas do governo ainda não foram suficientes para fazer os pequenos produtores adotarem a tecnologia que hoje é empregada pelos grandes. “Integrar na agricultura moderna os milhões de produtores que ainda estão à margem” é um desafio a vencer, disse Eliseu Roberto de Andrade, considerado “pai da Embrapa”, instituição pública responsável por boa parte da transformação pela qual a agropecuária brasileira passou nos últimos anos. Com o apoio da Embrapa e baseada em tecnologia, ela conquistou mercados no exterior.
Vencer esse desafio criaria condições ainda melhores e mais amplas para o progresso no campo (O Estado de S.Paulo, 27/1/21)