28/11/2024

Teimosia de Lula aumenta dificuldades na política e na economia

Teimosia de Lula aumenta dificuldades na política e na economia

Equipe econômica perdeu queda de braço com Lula e anúncio de isenção do IR virá junto com corte de gastos. Foto Wilton Junior – Estadão

 

Por William Waack

 

Presidente tem uma enorme dificuldade em entender que a armadilha fiscal na qual se encontra foi criada por ele mesmo.

 

Cortar gastos de um lado e criar um buraco de outro é tão inteligente quanto enxugar gelo. É uma postura que o governo Lula 3 parece perseguir na economia e na política.

 

A decepção manifestada por agentes econômicos (que não tem CPF nem CNPJ nem escritório na Faria Lima, como pensa Lula) é sobretudo política. Tem a ver com uma das mais velhas frases sobre agentes políticos e uma das mais repetidas: não aprenderam nem esqueceram nada.

 

É o que se dizia dos senhores do “ancien regime” na França do começo do século XIX. Não tinham entendido os erros do passado nem as contingências do presente. Lula 3 é a expressão perfeita do “ancien regime” na política brasileira.

 

No trato das contas públicas repete o que já não deu certo, que é pisar no acelerador da expansão dos gastos e buscar a compensação via aumento de arrecadação. Quando a realidade vai se impondo – via desconfiança dos agentes econômicos, ameaça de inflação e juros insuportáveis – o apelo populista é simplesmente irresistível.

 

Lula 3 tem uma enorme dificuldade em entender que a armadilha fiscal na qual se encontra foi criada por ele mesmo. E por razões políticas exclusivamente. Na prática garantiu que as despesas vão subir sempre acima das receitas. Fez uma aposta (política) no tempo que não trouxe até aqui os dividendos esperados: a expansão dos gastos não se traduziu na expansão da popularidade.

 

As circunstâncias são muito diferentes de 20 anos atrás, outra lição que não foi assimilada. Dois fatores merecem menção destacada. Começa pelo alto grau de resistência social ao que Lula e as políticas petistas significam, que o velho cacoete de Lula o faz interpretar como perseguição de rico contra pobre.

 

E segue pela notável alteração da relação de força entre os poderes, que o obrigou a tentar no Judiciário obter as alavancas políticas para compensar a falta de votos no Legislativo. Num Congresso com o perfil atual – e sua noção de poder – é muita cegueira política imaginar que possa colar no Legislativo a frase “vamos atacar o andar de cima”.

 

O pacote de Lula para tratar das contas públicas consegue decepcionar os agentes econômicos, ou seja, permanece o estado de pouca confiança na capacidade do governo de equilibrar as contas públicas sem aumentar substancialmente o peso dos impostos. Para seguir adiante com isso, ampliou consideravelmente os obstáculos no Congresso, que já não controla.

 

Promessas eleitorais como a ampliação da faixa de isenção do IR ou a valorização do salário mínimo chocaram-se com a realidade de um País à beira da exaustão em termos de carga tributária e delicada situação nas questões fiscais. Em outras palavras, os fatos se impõe aos desejos. Lula preferiu ficar com os desejos (Estadão, 28/11/24)