13/04/2018

Tentativa de acordo entre sócios da BRF chega ao fim

Tentativa de acordo entre sócios da BRF chega ao fim

Diante de impasse, fundo Aberdeen pediu que eleição do conselho seja feita por voto não em chapa única, mas em cada candidato.

Um movimento da britânica Aberdeen, que possui 5% da BRF, enterrou de vez qualquer tentativa de acordo entre os principais acionistas da companhia de alimentos sobre os nomes que comporão o conselho de administração da empresa. 

A gestora enviou à BRF pedido para que seja usado na eleição do novo colegiado, que ocorrerá no dia 26 de abril, o chamado “voto múltiplo”. Assim, os acionistas votarão individualmente nos nomes dos candidatos às vagas e não numa chapa única, como ocorrera nas últimas eleições para o conselho da BRF.

A Aberdeen colocou-se publicamente ao lado dos fundos de pensão da Petrobrás (Petros) e do Banco do Brasil (Previ) desde que eles deflagraram uma disputa societária com Abilio Diniz no final de fevereiro ao pedir a destituição do conselho liderado pelo empresário.

Os fundos e Abilio, que tinha apoio da gestora brasileira Tarpon, negociaram por semanas um acerto que viabilizasse a formação de uma só chapa, mas um impasse sobre a lista de nomes havia travado as conversas entre os dois lados. 

A Previ insistia que o melhor caminho era a via negocial. Mas a Petros já sinalizava que não cederia às exigências do empresário e que o caminho do voto múltiplo era, portanto, o mais apropriado.

O pedido da Aberdeen forçou a solução de escolha do colegiado no voto. O mecanismo de voto múltiplo está previsto na Lei das SAs. O dispositivo foi criado para permitir que investidores minoritários possam pleitear assentos no conselho de administração.

No caso da BRF, não há grupo controlador. O capital da empresa está disperso na Bolsa. Previ e Petros são os maiores acionistas, com cerca de 11% cada. Depois, vêm Tarpon (8,5%), Aberdeen (5%) e Abilio Diniz (cerca de 4% via Península Participações). 

Incerteza

No voto múltiplo, cada ação detida pelos investidores presentes na assembleia é multiplicada pelo número de assentos previstos no conselho. Os acionistas então têm de optar por distribuir esses votos nos nomes para o conselho ou concentrar os votos num único candidato, aumentando as chances de que ele seja eleito.

Na avaliação de um importante acionista, a incerteza sobre um acordo e a recusa pública de executivos de participarem da chapa patrocinada por Abilio levaram ao pedido de voto múltiplo. A tendência é que uma chapa mista, com nomes dos principais envolvidos, seja formada ao final.

O problema, nota outro executivo envolvido na disputa, é que há grande chance de o conselho da BRF seguir “rachado” caso esse cenário se confirme.

Procurados, Aberdeen, BRF, Petros, Previ, Península Participações e Tarpon não comentaram (O Estado de S.Paulo, 13/4/18)


Esgotadas as possibilidades de solução negociada para a BRF 


As fundações Petros e Previ decidiram que o comando da BRF será decidido no voto e que foram esgotadas as possibilidades de negociação com o empresário Abilio Diniz em busca de uma chapa de consenso para o conselho de administração que será eleito em 26 de abril.

Na prática, isso significa que se o empresário quiser manter alguma participação no colegiado da BRF terá de partir para uma solicitação de adoção de voto múltiplo em assembleia – quando cada acionista distribui os votos que possui individualmente em candidatos, e não em uma chapa fechada. A Península Participações, veículo de investimentos de Abilio, tem 4% das ações da BRF. Em uma disputa por voto múltiplo, a gestora conseguiria pelo menos um assento no conselho.

Do lado de Abilio, ainda há esperança em um acordo, apurou o Valor. Contudo, as fundações agora querem levar aos acionistas a chapa que já tinham apresentado, com dez nomes para o conselho da BRF, e não estão mais dispostas a mudanças. Os fundos de pensão, detentores de 22% do capital da empresa, iniciaram em fevereiro um movimento para trocar o colegiado, com o objetivo de encerrar a ascendência de Abilio na empresa e colocar em revisão a estratégia operacional da companhia, após dois anos de resultados negativos.

O desgaste nas relações entre as fundações e Abilio se acentuou durante o último ano. Para a assembleia de acionistas de 2017, Petros e Previ já tinham manifestado o desejo de modificações na estrutura de comando da BRF. Segundo pessoas próximas à disputa, há uma diferença na visão de governança de Abilio e dos fundos. Enquanto o empresário entende que os acionistas de uma companhia têm papel importante na proposição da estratégia do negócio, os fundos defendem que essa definição cabe ao conselho de administração – que deve ser composto por membros independentes.

Até o fim da semana passada, havia uma tentativa de negociação entre os acionistas para a formação de uma chapa de consenso, que não evoluiu. Na sexta-feira, Abilio, por meio do atual conselho da BRF, apresentou uma chapa concorrente. A intenção era ilustrar com a chapa uma composição mais próxima de um consenso entre os diversos atores envolvidos – o que inclui a maioria do atual conselho de administração e a direção da BRF. Na formação paralela divulgada ao mercado, foram modificados três dos nomes que os fundos de pensão propuseram e uma nova presidência.

De um lado, Petros e Previ querem Augusto Cruz, presidente do conselho da BR Distribuidora, à frente do colegiado, enquanto que a chapa apresentada por Abilio e pelo conselho traz Luiz Fernando Furlan – Foto , herdeiro da Sadia e ex-ministro, para o comando do órgão.

O que deu força para as fundações encerrarem o diálogo foi o pedido de Augusto Cruz, à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para que seu nome fosse retirado da chapa apresentada por Abilio e conselho da BRF. Ao Valor, Augusto Cruz explicou que aceitou o convite dos fundos de pensão porque o grupo formado mostrou ter "as forças necessárias para fazer o que a BRF precisa". De acordo com ele, o grupo demonstrou "comungar dos mesmos objetivos" para replanejar a BRF.

Até o início da noite de ontem, outro convidado das fundações, José Luiz Osório, seguiu o exemplo de Cruz. A expectativa é que mais três indicados também façam o mesmo: Walter Malieni, Roberto Mendes e Vasco Dias. Os pedidos desses executivos, se formalizados, desidratam a chapa colocada por Abilio e conselho da BRF ao mercado. Na prática, em função dos prazos legais para detentores de ADRs e de usuários dos boletins eletrônicos, os votos no grupo colocada pelo empresário tem risco de serem desconsiderados.

A estratégia agora é substituir e atualizar os documentos o mais rapidamente possível para minimizar esse efeito. Na noite de ontem, o ex-ministro e herdeiro da Sadia, Luiz Fernando Furlan, levou ao atual conselho uma proposta para substituir o nome de Cruz na formação concorrente às fundações: a empresária Luiza Helena Trajano, dona e presidente do conselho de administração da varejista Magazine Luiza. Ele também pediu que o colegiado avalie novos nomes para a chapa, em caso de novos pedidos de exclusão. Para tanto, Furlan solicitou uma reunião extraordinária do conselho – que tem de ser convocada por Abilio.

Em entrevista ao Valor, Furlan ressaltou buscar uma solução que "pacifique" a BRF. "Não estou falando como um conselheiro e nem como porta-voz a companhia. É um desabafo de um acionista que sofre não apenas no bolso e na mente. Mas no coração", afirmou Furlan.

O ex-ministro também rechaçou as avaliações de que estaria vinculado à Abilio. "Todos os conselheiros da BRF sabem que sou conselheiro independente. Exponho minhas opiniões e não sou preposto de ninguém. Tenho essa independência e prezo por ela", acrescentou. Por conta disso, Furlan indicou que não sairá da chapa proposta pelo fundos, na qual é membro comum. "Meu trabalho é para a empresa e não para este ou aquele", disse o ex-ministro.

Furlan também defendeu a recomposição de "chapa oficial" da BRF. "Temos vários nomes engatilhados de pessoas que conhecem o nosso negocio e são respeitadas pelo mercado", disse. Furlan afirmou que a BRF sempre prosperou por ter pessoa competentes na gestão, e não por ser comandada por investidores institucionais. E elogiou os esforços do atual CEO da BRF, José Aurélio Drummond Jr. para debelar a crise da empresa.

Furlan também reforçou a necessidade de respeitar os "stakeholders" da BRF – 100 mil funcionários, 15 mil granjeiros e gestores que, segundo ele, ficam intranquilos.

Primeira gestora a anunciar apoio público às fundações, a Aberdeen reforçou ontem que marchará ao lado de Petros e Previ na troca do conselho da BRF. A gestora é a quarta maior acionista, com 5%. O diretor da Aberdeen no Brasil, Peter Taylor, acredita que o movimento das fundações terá apoio da maioria (Assessoria de Comunicação, 12/4/18)