Tereza Cristina deixa EUA sem definição sobre mercado de carne no país
Ministra se reuniu com secretário americano, mas não conseguiu convencê-lo de que nova inspeção é desnecessária.
O governo Jair Bolsonaro não conseguiu definição de prazo ou procedimento para a reabertura do mercado dos EUA para a carne bovina in natura brasileira, mesmo após a passagem da ministra Tereza Cristina (Agricultura) por Washington.
A ministra se reuniu nesta quarta-feira (20) com o secretário do Departamento de Agricultura americano, Sonny Perdue, mas saiu sem respostas sobre quais serão os próximos passos para que os EUA derrubem de vez o veto imposto à proteína brasileira desde 2017.
Segundo Tereza Cristina, os americanos devem dar um retorno "em breve" sobre as respostas enviadas pelo Brasil ao relatório que manteve as barreiras sobre a carne, mas que isso pode acontecer "esse mês, no mês que vem ou até no ano que vem".
A ministra tentou dissuadir os americanos da necessidade de fazer uma nova inspeção sobre a qualidade da carne brasileira, como querem os EUA, mas admitiu que isso pode, sim, acontecer.
"A carne é uma assunto extremamente técnico. Então eles estão terminando a análise dos dados que o Brasil enviou rapidamente na consulta que foi feita [no fim do mês passado] e eles vão, em algumas semanas, me dar qual será o próximo passo, se vão precisar ir lá [no Brasil] e, se forem lá, a data marcada. Enfim, como é que vamos fazer daqui pra frente."
"O que é que eles me prometeram? Que em breve eu terei notícia sobre a data e se as informações que passamos são suficientes ou não."
Em outubro, os EUA frustraram o governo Bolsonaro ao manter o veto à carne bovina brasileira. Após uma inspeção técnica, os americanos produziram um relatório em que solicitavam informações adicionais ao Brasil e estabeleceram que uma nova inspeção deveria ser realizada no país, porém, ainda sem data marcada.
A ministra afirma que uma nova inspeção é um processo demorado, que atrasaria ainda mais a reabertura do mercado para o produto brasileiro, mas admite que agora é preciso esperar mais uma vez o compasso dos americanos. "Vamos aguardar uma decisão deles. Eu espero que seja em breve mesmo", completou.
Entre os quatro pontos apresentados no mês passado pelos EUA como motivo para manter as barreiras, por exemplo, estão problemas no processo de maturação e melhorias na coleta para testes microbiológicos. Uma das questões que mais incomodam os americanos é o fato de as carnes brasileiras terem abcessos, causados pela vacinação contra a febre aftosa.
Tereza Cristina insiste que o problema do fluxo da carne brasileira nos EUA é uma questão técnica e fez coro à tese em todas as suas falas públicas esta semana em Washington. O lobby de carne nos EUA, porém, não quer a reabertura do mercado, que prejudicaria produtores locais já afetados com a guerra comercial com a China.
Diante desse cenário, a ministra voltou a dizer que o Brasil vive um bom momento de exportação de carne para a potência asiática e que, dessa forma, o mercado americano, apesar de importante, acaba sendo secundário.
"Hoje temos um problema seríssimo no Brasil, a arrouba explodiu, o consumidor está lá dizendo 'ahhh subiu muito', todo mundo exportando carne para a China. É importantíssimo o mercado americano? É. Mas vamos fazer os trâmites com a maior tranquilidade."
Na reunião de pouco mais de uma hora, a ministra afirmou que tratou também sobre a cota de 750 mil toneladas de trigo que o Brasil aceitou abrir com livre tarifa de importação –uma demanda dos EUA– e sobre etanol. O governo Bolsonaro elevou para 750 milhões de litros uma cota de importação anual de etanol americano sem tarifa. A vota anterior era de 600 milhões.
No entanto, a expectativa de que essas concessões e a boa sinergia entre Bolsonaro e o presidente Donald Trump ajudaria a acelerar o processo de reabertura do mercado de carne não tem se confirmado.
Esta semana, a ministra ainda tem uma série de conversas com investidores em Nova York e deve voltar a Washington em fevereiro (Folha de S.Paulo, 21/11/19)