Térmicas mais caras devem seguir desligadas até chuvas em novembro
A recente decisão do governo de não despachar uma carga adicional de usinas térmicas na próxima semana deve ser mantida até novembro, quando é esperado o início da época de chuvas na região dos reservatórios de hidrelétricas, disse à Reuters nesta sexta-feira o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata Ferreira.
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) vinha determinando desde o início de setembro o acionamento de térmicas mais caras que o sugerido por modelos computacionais que guiam a operação do sistema, com o objetivo de preservar os lagos das usinas hídricas, principal fonte de energia no país.
Mas chuvas mais fortes esperadas no Sul, que exporta energia ao Sudeste, e a importação de energia do Uruguai trouxeram algum alívio ao sistema, compensando os baixos níveis das hidrelétricas em algumas regiões.
Formado por autoridades e técnicos da área de energia, o CMSE decidiu na quarta-feira acabar com o chamado acionamento de usinas “fora da ordem de mérito” a partir do sábado.
“O CMSE tomou a decisão de continuar com uma avaliação semanal, e na quarta-feira haverá uma reunião extraordinária onde vai se avaliar se a gente segue com essa política ou se precisa voltar a despachar fora da ordem de mérito. Nossa expectativa é que a gente não precise”, afirmou Barata.
“Já estamos chegando no final do ‘período seco’. Mantendo-se essas condições que estão, muito provavelmente continuaremos operando sem despachar fora da ordem de mérito até o período úmido”, adicionou.
Ele explicou que, desde uma recomendação do ONS ao governo pelo uso adicional de térmicas, no final de agosto, a situação hidrológica melhorou, principalmente devido ao surgimento de chuvas fortes na área das usinas do Sul, que agora tem condições de exportar energia para o Sudeste, onde se concentra o consumo.
O ONS elevou nesta sexta-feira as projeções de chuva nos reservatórios do Sul em outubro para 104 por cento da média histórica, ante 78 por cento na semana anterior. No Sudeste, a previsão foi para 82 por cento, frente a 78 por cento antes.
Além disso, importações de energia do Uruguai também ajudarão a reduzir o uso das térmicas —estão previstos na próxima semana volumes de 350 megawatts médios e 500 megawatts médios nos patamares de carga pesada e média, respectivamente.
“Está sendo ótima a importação do Uruguai”, afirmou Barata.
Ele disse ainda que a estimativa do ONS é de que a região Sudeste, que concentra os maiores reservatórios, chegue ao final de novembro com cerca de 15 por cento da capacidade de armazenamento, ante 22 por cento atualmente.
O nível pode ser um recorde negativo —o menor registro no histórico desde 2000 é de 15,8 por cento em 2014—, mas ainda assim não há risco para o suprimento, segundo o ONS.
A oferta deve ser ajudada por um nível “bem melhor” que no ano passado no armazenamento do Nordeste, segunda região em termos de reservatórios, devido a uma operação em regime especial das usinas no rio São Francisco, com menor vazão, para preservar água, disse Barata, sem comentar números.
Ele afirmou também que as primeiras projeções climáticas ainda não permitem avaliar o volume de chuvas a partir de novembro, mas já dão sinais da mudança de estação, o que também é positivo.
“As variáveis que a gente analisa mostram que nós daqui a pouquinho vamos entrar no período chuvoso. É uma informação importante, porque elimina a hipótese de atraso na estação chuvosa”, afirmou.
Segundo ele, o quadro deve ficar mais claro em duas ou três semanas, mas seria importante uma temporada de chuvas na média ou acima do comum, dado o nível baixo dos reservatórios e a hidrologia em geral desfavorável nos últimos anos.
TÉRMICAS EXTRAS?
Apesar do desligamento das térmicas fora da ordem de mérito, o governo tem avaliado mecanismos para retomar a operação de usinas a gás que estão desligadas ou sem contratos, em busca de reforçar a oferta de energia.
Propostas do Ministério de Minas e Energia nesse sentido foram colocadas em audiência pública nesta semana. A ideia seria abrir a possibilidade de acionamento extraordinário dessas usinas até abril de 2019 (Reuters, 5/10/18)