12/01/2018

Terras sobem mais na ‘velha fronteira’ agrícola do Brasil

Terras sobem mais na ‘velha fronteira’ agrícola do Brasil

 

 

Uma combinação rara entre instabilidade política e redução da taxa básica de juros abriu espaço em 2017 para que os investidores começassem a olhar com mais interesse o mercado de terras, um ativo considerado seguro em épocas de turbulência. Mas o interesse, ainda modesto comparado a tempos áureos do setor, concentrou-se em regiões que já oferecem mais facilidades ao produtor – como acesso à infraestrutura e bons solos.

Foi o que ocorreu nas regiões Sul e Sudeste, onde terras chegaram a ter altas de até 25% em 2017, muito acima do visto no Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país – que embora tenham terras mais abundantes e baratas, perdem competitividade devido às distâncias e solos de menor qualidade.

Segundo Marcio Perin, analista da consultoria FNP Informa Economics, os preços das terras do Sul e Sudeste já vinham subindo desde 2015 como reflexo da busca por ativos "seguros" em meio à instabilidade política dos últimos anos, além das boas safras nas regiões. Em 2017, as altas foram mais acentuadas no mercado paulista, após dois anos de elevações mais relevantes no Sul.

Ele observou que, como os terrenos nessas regiões são bons e escassos, um leve aumento na demanda já provoca alterações expressivas nos preços. Em Franca, por exemplo, tradicional região de café no Estado de São Paulo, o preço da terra nua subiu 25,8% em relação a 2016, para R$ 39 mil o hectare, enquanto em Sorriso, um dos principais polos do cultivo de soja e milho do país, o valor do terreno ficou estável, permanecendo em média em R$ 23 mil o hectare, conforme o levantamento da FNP (ver gráfico).

Na última fronteira agrícola do país, o Matopiba (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), houve queda no números de negócios efetivados. A região foi marcada por quebras de safras de 2014/15 e 2015/16 em decorrência de problemas climáticos. "Nessas regiões, os preços não caíram tanto, mas diminuiu a liquidez", disse André Guillaumon, presidente da BrasilAgro, especializada em desenvolvimento de terras.

Levantamento da empresa com dados compilados da FNP indicou que o preço médio real dos terrenos na região Sul subiu 6,2% nos 12 meses encerrados em agosto do ano passado, enquanto no Sudeste o aumento foi de 4,1%. Já no Centro-Oeste, o hectare se valorizou apenas 1% no mesmo período, enquanto no Norte a alta média foi de 1,6%.

No geral, o movimento de queda da Selic – hoje, em 7% ao ano, patamar mais baixo da história – colaborou para que o apetite por terras começasse a reaparecer, já que juros baixos significam financiamento mais barato, e os investimentos tendem a migrar do mercado financeiro para o físico. Afora isso, o início da recuperação da economia brasileira também ajudou, segundo Guillaumon. "De modo geral, mesmo com alguns sobressaltos econômicos, o preço da terra não cai como em outros setores", disse.

A valorização das terras tem ocorrido em áreas destinadas a culturas variadas no Sudeste e no Sul. Houve alta tanto nas áreas em que falta cana perto de usinas em boa situação financeira, como nas voltadas a café, laranja e até mesmo soja. Na região de Ribeirão Preto, o preço avançou 12,7%, para R$ 42,8 mil o hectare, enquanto nas áreas de grãos de Cascavel, subiu 4,5% para R$ 57,5 mil o hectare.

A busca por terras em São Paulo para plantar soja – às vezes em consórcio com a cana, substituindo o amendoim – também tem inflacionado terrenos em algumas regiões, como em Cândido Motta. "A soja chegou a São Paulo e está na nossa porta, como em Itapetininga. O que ocorreu ano passado foi a agricultura chegando próximo a grandes cidades", afirmou Aloisio Barinotti, CEO da corretora NAI Commercial Properties.

A oleaginosa ainda ocupa uma área modesta no Estado, mas há um avanço do cultivo para a safra 2017/18, sobre algumas áreas antes destinadas ao milho. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área de soja cresceu 64,4% desde a safra 2011/12, para 957,1 mil hectares projetados para o ciclo 2017/18.

"Espaço para crescer [em São Paulo] existe e pode aumentar nos próximos anos em função de preço [das commodities]", avaliou Aroldo de Oliveira Neto, superintendente de informações do agronegócio da Conab. A soja tem ganhado espaço inclusive em substituição à cana. "As usinas estão reduzindo o número de fornecedores e o espaço está sendo aproveitado para soja", disse.

Entretanto, o volume de negociações foi inferior ao de 2014 e 2015, quando o mercado estava mais aquecido. Após o marasmo de 2016, investidores se voltaram a ativos ofertados a preços abaixo da média. "Ocorreram muitas negociações em leilões", lembrou Perin (Assessoria de Comunicação, 11/1/18)