Tether, de criptomoedas, oferece US$ 615 milhões por controle da Adecoagro

Usina da Adecoagro. Empresa de criptomoedas fez proposta para deter 70% das ações da companhia agrícola. Foto Divulgação
A companhia de criptomoedas Tether Investments acertou a aquisição do controle Adecoagro, companhia agrícola com forte presença no setor sucroalcooleiro do Brasil e com capital aberto na bolsa de Nova York. A empresa de tecnologia fará uma oferta de compra de papéis que, se aprovada pelos acionistas da Adecoagro, resultará em uma transação de US$ 615 milhões.
A Tether começou a investir na Adecoagro no ano passado e já tem 20% de suas ações, tornando-se seu maior investidor individual. Agora, a companhia propôs aos acionistas a compra de até 49,6 milhões de ações ordinárias em circulação, ou 49,6% de todas as ações da Adecoagro, por US$ 12,41 o papel — o valor está sujeito a ajustes.
Se a Tether comprar todas as ações almejadas, passará a ter 70% de participação na Adecoagro. A proposta da Tether foi aprovada de forma unânime pelo conselho de administração da companhia agrícola.
O anúncio, divulgado na manhã da quinta-feira, fez as ações da Adecoagro subirem na bolsa de Nova York ainda antes da abertura do mercado. Durante a sessão, houve acomodação, mas os papéis seguiram no campo positivo e fecharam em alta 2,24%, a US$ 11,40.
A oferta da Tether representa para os atuais acionistas da Adecoagro um prêmio de 22% sobre o valor médio das ações da companhia nos últimos três meses, ou de 18% considerando-se o valor médio dos últimos 12 meses. Na quinta-feira, o valor de mercado da Adecoagro era de US$ 1,14 bilhão. A oferta da Tether representa um valor 10% maior, de US$ 1,24 bilhão.
A compra do controle da Adecoagro, se aprovada pelos acionistas, representa uma mudança em seu perfil de controle. Desde que foi fundada, em 2002, a Adecoagro sempre teve uma base pulverizada de acionistas, composta em geral por gestoras e firmas de investimento globais.
Por um bom tempo, a maior acionista da companhia foi a gestora do megainvestidor George Soros. Esse perfil de controle pulverizado foi reforçado em 2011, quando a companhia fez seu IPO na bolsa de Nova York.
Em abril de 2024, antes de a Tether começar a comprar ações da Adecoagro, o maior acionista da companhia era o Al Gharrafa Investment Company, uma subsidiária do fundo soberano do Catar, então com 15,3% de participação.
Na sequência, vinham o fundo de pensão holandês Stichting Pensioenfonds Zorg en Welzijn, com 14,8%; a firma de investimentos de Edmond Safra, a EMS Capital, com 11,4%; a firma de investimentos Route One Investment, com 11,2%; e a gestora Jennison Associates, com 5,2%. Os diretores, executivos e funcionários da Adecoagro tinham ainda, conjuntamente, 6,5% das ações da companhia.
O fundador da Adecoagro e presidente da companhia, Mariano Bosch, disse em comunicado divulgado que o acordo com a Tether “respeita e protege os acionistas minoritários”.
“Foi por isso que eu decidi não vender nenhuma das minhas ações, a menos que seja necessário para andar com a transação e permitir que a Tether alcance o nível mínimo”, afirmou.
O dono e CEO da Tether, Paolo Ardoino, afirmou que o investimento na Adecoagro “se alinha com a estratégia geral da Tether de apoiar infraestruturura, tecnologia e negócios que avancem em liberdade econômica e resiliência, especialmente em regiões onde esses valores são mais necessários”.
Um dia antes do anúncio do acordo com a Tether, a Adecoagro divulgou que pagará US$ 17,5 milhões em dividendos aos acionistas que estiverem registrados em 2 de maio.
A Tether também investe em tecnologia e comunicações. A Adecoagro é sua primeira aposta em um setor de bens de consumo.
A Adecoagro contou com assessoria financeira do JP Morgan e assessoria legal do Elvinger Hoss Prussen. A Tether contou com assessoria legal do McDermott Will & Emery LLP (Globo Rural, 27/3/25)