Transparência Internacional apenas confirmou que a corrupção voltou à pauta
Dias Toffoli Foto Carlos Moura-SCO-STF
Dias Toffoli mandou investigar a Transparência Internacional.
Por Elena Landau
O Judiciário precisa ser menos reativo às críticas e escutar a insatisfação que está no ar.
O Brasil não ficou bem no Índice de Percepção da Corrupção medido pela Transparência Internacional (TI). Caímos dez posições. O ministro da CGU, Gilmar Mendes e Flavio Dino se apressaram em atacar a metodologia usada, quando deveriam refletir sobre as razões desta deterioração. Dias Toffoli foi além e mandou investigar a organização. Vestiram a carapuça.
Ora, como o próprio nome diz, trata-se de uma percepção.
Não tinha como ser diferente: veio no rastro do desmonte da Lava Jato e das liminares de Toffoli em favor da J&F e Odebrecht. Suas decisões monocráticas, a primeira, para clientes do escritório de sua esposa e, a segunda, na véspera do fim do recesso, deixaram muita gente indignada.
Malu Gaspar, no livro A Organização, afasta qualquer suspeita de delação forçada da empreiteira. Mais um pouco e vai parar na seção de ficção. Vale a sua releitura.
Difícil entender por que certas multas são canceladas ou o que define exatamente a validade de uma delação. A de Mauro Cid vai valer ou foi feita sob tortura? Por enquanto, levou à operação que envolveu o mais alto escalão do governo Bolsonaro, incluindo militares e, quem sabe, chegará no maestro — aquele sentado à cabeceira da mesa na reunião de estratégia para o golpe.
Mesmo com reconhecimento do papel do STF na defesa da democracia, o Judiciário está na berlinda. Pesquisa da Atlas e Jota mostra que 56% dos entrevistados não confiam no STF no combate à corrupção e 61% dizem que ela está aumentando.
A sociedade — leiga no assunto — está desconfiada. O controverso inquérito das fake news parece não ter prazo para acabar. Traficantes e milicianos são soltos por erros processuais, como uso de provas sem a prévia autorização judicial, enquanto, outras obtidas de forma ilegal, como mensagens de hacker, são aproveitadas.
As cadeias estão lotadas de presos à espera de uma decisão do STF sobre quantas gramas diferenciam um usuário de traficante, mas Valdemar Costa Neto é liberado rapidamente. Mesmo que seja decisão certa, a imagem fica ruim.
Nas redes sociais todos são juristas. As críticas incluem o custo, a lentidão e uma sensação de tratamento privilegiado. Para problema tão complexo, não faltam sugestões simples e erradas, claro. E assim, aproveitando o clima, a Câmara de Deputados avança sobre o Judiciário e Artur Lira desfila ao lado de Anísio Abraão pela Sapucaí.
O Judiciário precisa escutar a insatisfação que está no ar. A corrupção voltou à pauta e não adianta atacar os mensageiros.
Segundo Houaiss, percepção é “consciência (de alguma coisa ou pessoa), impressão ou intuição”. Fica a dica (Estadão, 16/2/24)